Assim que o sol se levantou os trabalhadores já se encontravam de pé colhendo algodão, cortando cana, cavando o chão para plantar outros. Louise acordou cedo, não conseguira mais dormir. Seu senhor, Jonathan, perguntou-lhe se estava bem juntamente com Helena que se mostrou apreensiva.
-Ele não irá mais voltar, dou minha palavra - disse Jonathan.
-Obrigada, senhor. Não precisa se preocupar, eu estou bem.
-Que bom - disse Helena, indiferente. - Vamos Jonathan. Louise termine aqui e vá a mercearia, quero que traga esses ingredientes - ela lhe entregou um pequeno pedaço de papel velho.
A escrava assentiu. Parecia que quem iria usar a cozinha naquela manhã era sua senhora, coisa que quase não acontecia.
-Sim, senhora.
Helena deu meia volta, porém parou. Esperou seu marido sair e voltou-se para a menina. Estava com o cenho levemente franzido.
-Ah... sobre ontem, depois do acontecido, eu não a vi em seu quarto. Onde dormiu?
Nana implorou para que ela passasse a noite em seu quarto, porém não o fez, logo voltou ao seu quartinho recordando a cena de horas antes.
-Aqui mesmo, senhora. Logo após vocês dormirem.
A mulher suspirou e sorriu amargamente.
-Louise, eu não quero que você entre mais no quarto dos meus filhos. Nem que seja por alguns segundos. Você sabe o seu lugar e lá não o seu - ela falava calmamente, com o mesmo sorriso estampado no rosto - Deixarei passar essa vez, mas na próxima não terá perdão.
-Sim, senhora.
Helena deslizou seus olhos pelo corpo da menina com desdém, empinou seu nariz e saiu. Louise abaixou a cabeça e fechou os olhos impedindo as lágrimas de saírem. Não importava o que lhe acontecia, ela sempre seria a criada que haveria de suportar os problemas sem reclamar.
A negra suspirou voltando a fazer suas tarefas. Seus pensamentos logo foram tomados por Henri. Louise sentiu seu estomago revirar, mordeu os lábios ao esconder o sorriso, porém não devia mentir para si mesma. Sentia algo por ele e isso era verdade, por outro lado não podia se precipitar, caso sua senhora descobrisse nunca iria perdoa-la. Apesar de todos os empecilhos, seu desejo era inevitável, queria estar ao lado dele e ele ao seu.
As lembranças da noite anterior oscilavam entre a tristeza e a súbita alegria. Jonathan prometeu que nunca mais Afonso voltaria. Duvidava disso. Ele estava tão alterado que seria impossível não ter medo ao vê-lo por ai, porém quando Nana e Henri interveio a fez sentir protegida, como se nada pudesse atingi-la, e ficara mais intenso logo após o abraço aconchegante dele, mesmo que tivesse sido por pouco tempo.
Depois de algumas semanas, ainda que nada tenha mudado aparentemente, Louise se sentia diferente. Há muito tempo não havia experimentado essa sensação de felicidade, seu corpo pedia por ele, Henri. E se não fosse o que achava que fosse? E se esse sentimento só surgiu como uma válvula de escape? A menina não queria pensar, nem por um segundo, que o que sentia era falso.
Diante daquele sorriso e daquele olhar, Louise se envergonhava de vê-lo se despir, permanecendo, somente, com sua parte de baixo. Henri havia convidado Louise para um passeio, não muito diferente de outros dias, porém ela sempre rejeitava, mesmo estando mais próximos. Desta vez não poderia escapar. Pensara que acompanharia Nana a uma de suas escapadas quando percebeu que sua sinhá planejava deixa-los a sós.
Louise sentia suas bochechas queimarem. Levou uma de suas mãos aos olhos e abaixou a cabeça desejando que aquilo nunca estivesse acontecendo. Seu coração batia descontroladamente ao ver, pelas brechas do dedo, o corpo de Henri.
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Era uma vez uma época
Romance"A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força". No século XIX a escravidão estava em seu apogeu, mesmo sobrecarregados, os...