-Pai, você venderá alguns de nossos trabalhadores? - Perguntou Henri.
Jonathan franziu o cenho.
-Onde ouviu isso?
-Só me responda.
Nana parou de comer imediatamente.
-É verdade, papai?
Ele umedeceu os lábios e suspirou.
-Só estive pensando nisso. Sua mãe e eu achamos melhor termos poucos escravos.
A loira largou os talheres no prato e cruzou os braços.
-Porque isso agora? Não dá para desfazer deles desse jeito.
-São só escravos, Nana - disse Helena, debochada. - Se precisarmos de mais podemos comprar.
Nana a fuzilou com os olhos. Como aquelas palavras saíam tão facilmente de sua boca? Era inacreditável o quanto sua mãe se tornava mais arrogante a cada dia.
-Eles são humanos, mãe! - Vociferou ela - Pessoas, como eu e você, até mesmo melhores que algumas.
Helena sorriu de uma forma zombeteira. A loira se enfureceu, ficou boquiaberta com tal atitude e entristecida pela forma que sua mãe os tratava. Nana levantou-se da cadeira subitamente e saiu.
-Nana - chamou Helena, mas a menina mal ouviu.
-A senhora é inacreditável - disse Henri, depositando seus talheres no prato.
Sua mãe suspirou.
-Não me tratem como se eu fosse algum tipo de monstro. Não vejo o que há de errado. Eles nasceram para fazer isso, eles são impuros. Não vê a cor de sua pele...?
-Chega, Helena - interrompeu seu marido, que havia parado de comer há um tempo.
Henri levantou da cadeira, mas antes de sair voltou-se para sua mãe. Seu coração batia velozmente, queria soltar as palavras amargas que sentia, porém se conteve, agravaria ainda mais a situação.
-A senhora acabará sozinha se continuar assim.
Helena respirava profundamente para reprimir seu desejo de chorar. Não esperava ouvir isso de seus próprios filhos, mas realmente não entendia o jeito que pensavam: aqueles trabalhadores - como diziam - eram tão importantes quanto seu senhor. Os criou para comandar e não para serem tratados como um deles. Henri e Nana sabiam que era assim que deveria ser.
O silencio do corredor fora interrompido pelo estrondo que Nana fez ao fechar a porta. Seus olhos ardiam pelas lágrimas que ameaçavam escapar. Às vezes sua mãe passava dos limites, pensou que com o tempo que passaram longe ela estaria diferente, porém se tornou pior. A menina deitou em sua cama e respirou fundo. Algumas lágrimas salientes escorreram pelo seu rosto, entretanto as limpou logo, não queria chorar, afinal aquela guerra ainda não acabou, teria que ser forte para ajudar aqueles que precisassem.
Ao ouvir três batidas na porta, Nana se levantou para abri-la. Henri estava do outro lado da porta, sorriu ao ver a irmã, mas por dentro todo seu corpo queimava de raiva.
-Está bem?
-Não.
A loira abriu espaço para seu irmão entrar.
-Eu não entendo a mamãe. Eu não estou entendendo nada. Parece que todos estão... cegos e esquecem do que fazem.
Henri sentou-se na beirada da cama e suspirou. Ele também não entendia como aquilo fora acontecer, um ser humano se intitular melhor que outro devido a sua c
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Era uma vez uma época
Romance"A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força". No século XIX a escravidão estava em seu apogeu, mesmo sobrecarregados, os...