Capítulo 5

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Louise abaixou a cabeça sentindo suas bochechas arderem. Era Henri quem estava ali em sua frente, ela tinha certeza. A menina engoliu seco, não sabia o que fazer e aquele silencio estava constrangedor, mas ele não pareceu se importar.

-Você cresceu desde a última vez que a vi... - disse Henri sorrindo.

-Foi um prazer revê-lo, senhor - interrompeu ela timidamente, - mas tenho que voltar.

-Ah, sim. Claro.

A escrava de cabeça baixa permaneceu. Queria evitar qualquer proximidade com ele ou com sua irmã, porém seria difícil já que ainda não havia esquecido o tempo em que brincavam juntos.

-Com licença - disse ela, passando por Henri.

Louise sentiu um alivio grande após entrar na cozinha. Ele não a acompanhou, preferiu andar ao redor da casa, espairecer um pouco. Henri estava mais lindo que antes, um verdadeiro cavalheiro, achou ela, e apesar de estar escuro, podia ver o quanto mudou. Sua voz engrossou, mas sempre fora melodiosa aos ouvidos de quem ouvisse. Estava mais alto e robusto.

A menina queria voltar para colocar assuntos em dia. Contar-lhes tudo o que aconteceu, compartilhar as alegrias e tristeza novamente. Queria a verdadeira amizade de Nana e a sinceridade de Henri, porém parece que tudo isso se perdeu no tempo. Iria ser difícil ter a mesma intimidade que tinham, até porque seus pensamentos mudaram e suas atitudes também.

Henri parou em um local não muito distante do casarão. O vento soprava em seus belos e modulados cabelos. A sensação de liberdade veio à tona. Era aquele lugar que lhe fazia sentir-se mais vivo, como se tudo o que tivesse vivido nos últimos anos fosse um sonho. Um sonho não muito bom, e apesar de ter conhecido Marise, sua noiva, nunca achou que seu coração lhe pertencia. Ela era linda, com seus olhos azuis cristalinos, cabelos tão lisos e castanhos claros. Charmosa, se portava bem, sensual e elegante. Entretanto, lhe faltava carisma para com os outros, sempre de nariz empinado para quem quer que fosse, e principalmente para seus escravos. Os tratava da pior forma possível.

Aceitou se casar com ela mais por questões econômicas. Com sua beleza e o dinheiro de Henri seriam um casal perfeito para se terem bons filhos, e ajudar a família dela, que não estavam em suas melhores condições de vida.

Daqui algumas semanas ela chegaria para oficializar o noivado. Helena já planejava a festa, convidados muitos mais importantes que agora, e com tudo o que tinham direito. Henri por sua vez, queria uma coisa simples, nem ao menos um jantar, mas como sua mãe adora fazer essas coisas, deixou por sua conta.

Henri encostou-se a uma árvore com os braços cruzados e suspirou. Não conseguia tirar Louise da cabeça. A luz não ajudou muito, mas foi o suficiente para dizer que se tornou uma mulher admirável. Estava ansioso para vê-la novamente, tão ansioso que mal percebeu alguém vindo.

O garoto olhou para trás tentando adivinhar de quem era aquela silhueta. Segundos depois, uma bela jovem apareceu, e sobre a luz da lua, Henri a reconheceu. Louise estava de cabeça baixa, seus cabelos tampavam o belo rosto, suas mãos estavam juntas e coladas ao corpo. Ele sentiu seu coração disparar e seu estomago revirar.

-Sua mãe está chamando o senhor - sua voz era doce, baixa, mas ainda audível.

-Obrigado, Louise.

Ao pronunciar seu nome, a menina sentiu um arrepio nada normal. Soava bonito. Ela assentiu e deu meia volta.

-Eu também achei que nunca mais iria vê-lo - disse a escrava timidamente. - Estou feliz que tenham voltado.

Henri esboçou um sorriso terno.

-E eu estou feliz por estar de volta.

Apesar da conversa não durar ao menos cinco minutos, puderam sentir a velha e nostálgica amizade renascer, desta vez um pouco mais intensa. Louise não podia negar que estava muito mais feliz do que imaginaria ficar. Na cozinha, a escrava desejava tanto ter dito algo além de "desculpas", e quando soube que Helena estaria procurando o filho correu para lhe avisar, por puro impulso. Quando se deu conta era tarde. Já haviam trocado algumas palavras, porém tinha que admitir que fora bom.

Era uma vez uma épocaOnde histórias criam vida. Descubra agora