Louise abaixou a cabeça sentindo suas bochechas arderem. Era Henri quem estava ali em sua frente, ela tinha certeza. A menina engoliu seco, não sabia o que fazer e aquele silencio estava constrangedor, mas ele não pareceu se importar.
-Você cresceu desde a última vez que a vi... - disse Henri sorrindo.
-Foi um prazer revê-lo, senhor - interrompeu ela timidamente, - mas tenho que voltar.
-Ah, sim. Claro.
A escrava de cabeça baixa permaneceu. Queria evitar qualquer proximidade com ele ou com sua irmã, porém seria difícil já que ainda não havia esquecido o tempo em que brincavam juntos.
-Com licença - disse ela, passando por Henri.
Louise sentiu um alivio grande após entrar na cozinha. Ele não a acompanhou, preferiu andar ao redor da casa, espairecer um pouco. Henri estava mais lindo que antes, um verdadeiro cavalheiro, achou ela, e apesar de estar escuro, podia ver o quanto mudou. Sua voz engrossou, mas sempre fora melodiosa aos ouvidos de quem ouvisse. Estava mais alto e robusto.
A menina queria voltar para colocar assuntos em dia. Contar-lhes tudo o que aconteceu, compartilhar as alegrias e tristeza novamente. Queria a verdadeira amizade de Nana e a sinceridade de Henri, porém parece que tudo isso se perdeu no tempo. Iria ser difícil ter a mesma intimidade que tinham, até porque seus pensamentos mudaram e suas atitudes também.
Henri parou em um local não muito distante do casarão. O vento soprava em seus belos e modulados cabelos. A sensação de liberdade veio à tona. Era aquele lugar que lhe fazia sentir-se mais vivo, como se tudo o que tivesse vivido nos últimos anos fosse um sonho. Um sonho não muito bom, e apesar de ter conhecido Marise, sua noiva, nunca achou que seu coração lhe pertencia. Ela era linda, com seus olhos azuis cristalinos, cabelos tão lisos e castanhos claros. Charmosa, se portava bem, sensual e elegante. Entretanto, lhe faltava carisma para com os outros, sempre de nariz empinado para quem quer que fosse, e principalmente para seus escravos. Os tratava da pior forma possível.
Aceitou se casar com ela mais por questões econômicas. Com sua beleza e o dinheiro de Henri seriam um casal perfeito para se terem bons filhos, e ajudar a família dela, que não estavam em suas melhores condições de vida.
Daqui algumas semanas ela chegaria para oficializar o noivado. Helena já planejava a festa, convidados muitos mais importantes que agora, e com tudo o que tinham direito. Henri por sua vez, queria uma coisa simples, nem ao menos um jantar, mas como sua mãe adora fazer essas coisas, deixou por sua conta.
Henri encostou-se a uma árvore com os braços cruzados e suspirou. Não conseguia tirar Louise da cabeça. A luz não ajudou muito, mas foi o suficiente para dizer que se tornou uma mulher admirável. Estava ansioso para vê-la novamente, tão ansioso que mal percebeu alguém vindo.
O garoto olhou para trás tentando adivinhar de quem era aquela silhueta. Segundos depois, uma bela jovem apareceu, e sobre a luz da lua, Henri a reconheceu. Louise estava de cabeça baixa, seus cabelos tampavam o belo rosto, suas mãos estavam juntas e coladas ao corpo. Ele sentiu seu coração disparar e seu estomago revirar.
-Sua mãe está chamando o senhor - sua voz era doce, baixa, mas ainda audível.
-Obrigado, Louise.
Ao pronunciar seu nome, a menina sentiu um arrepio nada normal. Soava bonito. Ela assentiu e deu meia volta.
-Eu também achei que nunca mais iria vê-lo - disse a escrava timidamente. - Estou feliz que tenham voltado.
Henri esboçou um sorriso terno.
-E eu estou feliz por estar de volta.
Apesar da conversa não durar ao menos cinco minutos, puderam sentir a velha e nostálgica amizade renascer, desta vez um pouco mais intensa. Louise não podia negar que estava muito mais feliz do que imaginaria ficar. Na cozinha, a escrava desejava tanto ter dito algo além de "desculpas", e quando soube que Helena estaria procurando o filho correu para lhe avisar, por puro impulso. Quando se deu conta era tarde. Já haviam trocado algumas palavras, porém tinha que admitir que fora bom.
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Era uma vez uma época
Romance"A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força". No século XIX a escravidão estava em seu apogeu, mesmo sobrecarregados, os...