Louise não tinha palavras para descrever o que sentia na semana em que Henri esteve fora. Uma mistura agonizante de saudade e tristeza. Havia momentos em que se pagava pensando nele deixando os afazeres de lado, coisa que Helena notou e repreendeu-a várias vezes por isso. Precisava se forcar mais senão tudo estaria por água a baixo se sua senhora descobrisse.
Na maior parte do tempo, a negra realizava suas tarefas só, mas Nana, sempre que podia, acompanhava sua amiga com boas conversas e risadas, porém sua mãe a interrompia dando alguma desculpa para saírem, então voltava a ficar só. Já se acostumara com a situação, só que desta vez, de algum modo, se sentia diferente, como se estivesse faltando algo.
Felizmente amanhã Henri chegaria para acalmar os nervos da menina. Deveria fazer uma surpresa? Seria ótimo e com certeza Henri iria gostar, mas o problema era que não teria tempo para realizar uma e muito menos participar dela. Seria arriscado e tudo o que mais queria era ser cuidadosa.
Louise sentava em sua cama após um longo dia de trabalho. Devia ser mais ou menos meia noite, todos já dormiam deixando a casa num silencio absoluto. A menina ascendeu a lamparina que emitia uma luz amarelada por todo o quarto, deixou-a sobre o chão e então se inclinou para pegar uma caixinha debaixo da cama. Ao sentar-se novamente retirou de dentro dela o colar que Henri havia dado. Ela sorriu ao lembrar-se do dia em que recebera. Sabia exatamente como agrada-la, o que a deixava encabulada. Ele sabia de seus gostos mais que qualquer um, era como se lesse seus pensamentos a todo instante, desde pequenos.
A negra colocou delicadamente o cordão em cima da cama e pegou outro, o que pertencia a ele. O pingente já enferrujado ainda lhe trazia muitas lembranças. Era como se sentisse o cheiro de quando eram crianças. Cheiro de terra, árvore, cachoeira, acompanhada das brincadeiras, corridas e escaladas. Uma torrente de recordações boas. Sentia falta de tudo isso, sentia falta de sua mãe reclamando a decima vez no dia para parar de brincar com seus senhores, de encontra-la todas as vezes na cozinha e mesmo cansada sorria das brincadeiras que Louise fazia.
Ela não tinha mais lágrimas para chorar a perda de sua mãe, pois sabia que não era isso o que ela desejava. E Benjamin? Como será que ele estava? Não teve noticias desde que fugiu, nem mesmo comentadas de seu senhor. Queria um dia ainda poder vê-lo, abraça-lo e saber como estava. A esta altura, Benjamin, Marta e os outros já deviam estar longe, escondidos em algum quilombo, desfrutando de sua liberdade.
Naquela noite, Louise rezou fervorosamente para que seu primo estivesse bem, que, aliás, aprendera quando era pequena, a única que sabia. Logo depois suspirou guardando seus pertences de volta na caixinha. Deitou-se na cama apagando a lamparina e então dormiu.
A conversa entediante provocava pequenos bocejos em Henri. Sabia que aquilo era importante para as vendas e seria obrigado a aprender os ofícios do pai, porque mais cedo ou mais tarde teria que assumir os negócios. No entanto, seus pensamentos rodeavam a toda hora a fazenda onde sua amada estava. Fazia uma semana que a saudade apertava e a cada dia sentia mais sua falta. Algumas vezes sorria para si mesmo sem perceber, Jonathan via, estranhou sua atitude, porém nada falava. Seu pai pigarreou duas vezes chamando atenção de Henri, que parecia estar imerso em suas ideias.
-Minhas mercadorias irão rodear o norte para depois chegar à França. Tenho muitos compradores nessas redondezas, então irei aproveitar para fazer uma viagem somente.
Henri devia estar atento a qualquer assunto, pois ele era o tradutor das conversas. Eles viajaram para o litoral, que ficava algumas horas da fazenda, para comercializar produtos. Jonathan era produtor de café muito bem requisitado por outros compradores, os grãos eram de alta qualidade e o valor era dentro do orçamento de qualquer um.
Henri traduziu para o homem que se encontrava a sua frente, com olhos mais azuis que qualquer outro, um nariz extremamente grande, cabelos penteados para trás, barba feita e trajes simplesmente divinos. Devia ter em torno de quarenta anos, ou se não, até mais. O acordo fora feito minutos depois, com cinquenta e cinco sacas de café para os franceses e em troca dariam vinte barris de vinho e quarenta sacas de arroz.
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Era uma vez uma época
Storie d'amore"A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força". No século XIX a escravidão estava em seu apogeu, mesmo sobrecarregados, os...