Helena e Jonathan se entreolharam por alguns segundos antes de fixarem em Henri. Ela abriu a boca, mas nenhum som saiu.
-Onde está Louise? - Perguntou ele, mais uma vez, em tom ameaçador.
-Como assim onde está Louise?
-Marise me contou que a colocou para trabalhar em outro lugar.
Sua mãe balançou a cabeça e sorriu nervosamente para o marido procurando algum apoio, mas ele apenas levou sua xícara de chá a boca. Ela suspirou vendo que Jonathan não reagia e engoliu em seco.
-Isso é verdade - admitiu ela, - mas por razão. Ela teve o que mereceu. Desrespeitou sua noiva debaixo do seu nariz e ainda por cima você não fez nada a respeito.
-Onde ela está? - Disse ele, como se não tivesse ouvido o que sua mãe havia falado.
-Não direi.
Henri a encarou por um momento, ofegante. Seus olhos acusadores estavam afiados e cheios de raiva.
-Então não pisarei nesta casa até coloca-la novamente aqui.
Helena levantou-se boquiaberta.
-O-o que? Você não está com o direito...
O garoto saiu sem ouvir o restante de reclamações vinda de Helena.
-Henri! - Gritou sua mãe, logo depois voltou-se ao seu marido. - Porque não o impediu?
-O que você queria que eu tivesse feito?
-Não sei... qualquer coisa!
-Foi você que a colocou lá - disse ele, se levantando de sua poltrona. - E também acho que fora um erro.
Helena caminhou em direção a Jonathan até ficaram cara a cara. A mulher estava irritada, não esperava ouvir isso de seu marido.
-Pensei que estivesse do meu lado. Pensei que quisesse um futuro diferente para seu filho, uma mulher decente e não uma escrava...
-Helena, querida, eu desejo a mesma coisa para o nosso filho, mas agiu mal pelas minhas costas. Poderíamos simplesmente conversar com ele.
-Você sabe que conversas não adiantam, principalmente com ele.
O homem suspirou.
-Ele teve a quem puxar, não é? - Disse ele, calmamente.
-Como assim? Você não... eu não sou difícil de conversar.
Jonathan segurou os braços de sua esposa levemente.
-Querida, tudo o que tem feito até agora fora mandar fazerem o que você quer.
-É claro, eu sou a mãe deles.
Seu marido umedeceu os lábios e a abraçou desajeitado, pois sentira que ela ainda não mudara de ideia.
-Estou atrasado. Tenho uma reunião daqui a pouco. Creio que Henri não virá comigo - ele caminhou até o hall onde pegou sua pasta de couro e caminhou até a porta. - Deixe o garoto pensar, está bem?
Helena ficou calada. Jonathan não entendia a complexidade da situação, as consequências que isso traria se deixasse Henri com aquela escrava. Marise apareceu ao pé da escada, ainda com o rosto avermelhado, olhos inchados e tristonhos, mãos entrelaçadas na altura do peito.
-Henri não quer me ouvir - disse ela, quase em um sussurro.
A mulher sentou-se na poltrona e cruzou as pernas. Chamou Marise para sentar-se com ela, a menina fez, caminhando lentamente até se aproximar da sogra.
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Era uma vez uma época
Romance"A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força". No século XIX a escravidão estava em seu apogeu, mesmo sobrecarregados, os...