Capítulo 12

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O silencio estava entre os escravos que corriam cuidadosamente pelo matagal, só o barulho dos galhos quebrando se manifestava. Jorge os guiava para fora da fazenda ao lado de Benjamin e Marta logo atrás. Os nervos estavam a flor da pele, porém o sonho de se tornarem livres era maior que qualquer medo.

Aproximadamente quinze negros seguiam caminho rumo a uma cerca de arame farpado que se dividia em seis partes, entretanto antes que pudessem chegar ouviram tiros se sucederem onde estavam. Foram descobertos. O coração de Marta gelou nesse momento fazendo-a apertar a mão de Ben fortemente.

-Fique calma - disse ele. - Estão dando tiros às cegas, ainda não nos encontraram.

A menina se pôs a chorar, mas continuou correndo. Ao chegarem à cerca, Jorge e Ben posicionaram uma cerra em um dos fios de arame e começaram a cerra-los, com força e velozmente até cortar todos. O homem fez um quadrado médio para que pudessem passar.

-Vamos - chamou Benjamin.

O menino passou pelos arames ganhando alguns cortes nos braços e pernas, logo depois foi a vez de Marta. Ela se curvou e atravessou a cerca, porém sua saia prendeu em algo que a fez cair no chão, por pouco os fios não a perfurou. A negra puxou a saia para si rasgando-a até a altura do joelho, e então correu para o encontro de Benjamin.

Os tiros ressoavam pelo matagal. Os negros passavam com rapidez para o outro lado até o capitão do mato avista-los. Houve mais dezenas de tiros. O homem vociferou para outro mais atrás que também atirava sem parar. Gritos angustiantes começavam a surgir de um por um ainda dentro da fazenda. Homens e mulheres caíam no chão ensanguentados com uma bala encravada em seus peitos. Naquela noite, exatamente cinco pessoas morreram, quatro foram pegos pelos feitores e apenas seis conseguiram escapar, incluindo Marta e Benjamin.

Os escravos fugitivos correram o máximo que puderam, olharam para trás algumas vezes, porém nada viram, nem mesmo Jorge, seu líder. Mesmo com corações entristecidos não deixaram de correr.

Finalmente estavam livres.

Louise andava de um lado para o outro, com a mão no peito tentando amenizar sua aflição, porem nada adiantava. Mil pensamentos lhe correriam pela cabeça a ponto de fazê-la doer, seu corpo pedia para descansar, nem que fosse só meia hora, mas não iria.

Seu quarto estava totalmente escuro, não havia passagem de ar o que dificultava sua respiração, mesmo assim permaneceu ali, no silêncio, até que um barulho ecoou ao longe. Ela conhecia este barulho. Eram tiros e mais tiros. Louise sentiu uma dor intensa vinda de seu coração, suas mãos tremeram ao imaginar seu primo no meio dos corpos caídos no chão.

A menina foi até a porta e a abriu notando movimentos estranhos dentro da casa. Todas as luzes se acenderam, inclusive a da cozinha. Louise andou em passos lentos até a sala de estar onde estavam reunidos o senhor Jonathan e seu filho, Henri, mais um homem branco com aparência rude segurando uma espingarda. Eles conversavam sobre algo serio, porém inaudível, só o que a negra entendeu fora a palavra "fuga" e nada mais.

Louise tentava ouvir com atenção até o senhor Jonathan mudar drasticamente a expressão. Seus cenhos franzidos demonstravam raiva o que a fez encolher os ombros e entrar no desespero. Henri parecia surpreso, mas seu rosto continuava sereno, como se aquilo não o abalasse.

-Leve-os ao calabouço - disse Jonathan. - Amanhã cedo quero todos no tronco.

-Pai...

-Não comece, Henri - ordenou ele, logo depois voltou-se ao feitor. - Faça o que digo.

E assim o feitor saiu para cumprir o que lhe haviam mandado. O senhor não disse mais nada, somente caminhou até seu quarto para descansar. Henri suspirou e fechou os olhos. Louise o observava, seus gestos eram graciosos e leves. Como alguém como ele poderia dizer que a amava? Ela abaixou a cabeça e afastou-se dali, caminhou até a porta dos fundos, abriu-a lentamente para não ranger e saiu.

Era uma vez uma épocaOnde histórias criam vida. Descubra agora