capítulo 7

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Fui andando em direção a secretaria. Nas regras da escola, dizia: "Em casos de alunos novos, comparecer a secretaria para ser guiado por um aluno experiente e conhecer o colégio.".
Eu estava ali esperando alguém me atender quando uma moça jovem, de pele branca, cabelos enrolados até o ombro e de óculos abriu um sorriso enorme ao me ver.

— Bom dia! Você deve ser a Marina, né? — disse apertando minha mão — Sua guia já está vindo. Como você deve ter lido, o sinal bate às 07:30 mas no primeiro dia de aula, começamos meia hora mais tarde para os alunos novos terem oportunidade de conhecer toda a escola.

Dei um sorriso e agradeci mentalmente por ter sido tão simpática e por ter me explicado.
Então quer dizer que a aula acabaria 12:30?

— Fique tranquila, acaba no horário normal: 12:00 — disse dando uma leve risada parecendo ler meus pensamentos. — Já estou acostumada com esse tipo de pergunta então respondo antes.

— Mesmo tendo 30 minutos vagos, sempre aparece muita gente assim? — perguntei para tomar tempo.

Antes que a secretária respondesse, uma menina branca, magra, alta, de cabelos loiros passando um pouco dos ombros e de olhos azuis, apareceu respondendo minha pergunta:

— Ah, sim! O pessoal vem para matar a saudade. Prazer, meu nome é Ana. Sou sua guia.

— Oi! Sou a Marina. Prazer. — apertei a mão dela já estendida para um cumprimento e dando um sorriso sincero.

Fui seguindo ela que foi me apresentando o pátio, as quadras e a cantina que ficavam no térreo.

— Essa escola é boa. Tomara que você goste! — disse ela sorrindo  e subindo as escadas.

— Aqui chamamos de 1º piso. Tem biblioteca, sala de artes, de música, salas de alguns cursinhos e os banheiros, claro. — foi falando enquanto andávamos no corredor vendo cada sala.
Fomos para o 2° e o 3° piso onde vimos as salas do ensino médio. Ela me mostrou as salas do segundo ano e também a qual eu ficaria.
Ficamos conversando sobre a escola, quando o sinal bateu.

— Vamos entrar? Não te contei, mas estamos na mesma sala. Bem vinda! — disse ela me puxando e sorrindo. Ana sentou no meio da sala e deu uns tapinhas em uma cadeira ao lado dela para que eu sentasse ali.

Era uma sala comum. Tinha armários na parede e cadeiras azuis. O ar condicionado estava ligado e a sala estava um pouco gelada.
Os alunos foram chegando aos poucos e escolhendo um lugar para sentar.
Eles me olhavam como se eu fosse uma alienígena. Quando eu achei que alguém iria me dar um sorriso, uma menina ruiva com sardas perguntou:

— Você é nova?

— Sim. Prazer, sou a Marina! — respondi estendendo a mão para cumprimentá-la.

A menina mascando seu chiclete, levantou uma das sobrancelhas, revirou os olhos e deu meia volta me deixando no vácuo. Eu fiquei tão envergonhada que só faltou cavar um buraco no meio da sala de aula e me esconder lá.
Ana vendo minha situação, tentou me animar falando que eu iria gostar da turma e aos poucos me adaptaria.
Coloquei meu material em cima da mesa e um professor de bigode e barriga grande foi entrando na sala todo animado:

— Bom dia, bom dia, bom diaaa! Vou ali na direção pegar meu apagador e canetão e já volto. Comportem-se!

— Esse é de Matemática. Te passo os horários depois — disse Ana dando uma piscadinha pra mim com um dos olhos.

O colégio parecia legal mas eu não gostava da ideia de ser a única negra na sala. Alguns ficavam me encarando e eu realmente estava me sentindo o patinho feio da turma. 

— Ei, menina nova! Qual é seu nome? — um menino do outro lado da sala me perguntou e todos me olharam esperando a resposta.

— Me chamo Marina. — respondi envergonhada.

— Fala mais sobre você — ele disse e alguém deu uma risada. Resolvi ignorar e responder mesmo assim.

— Tenho 16 anos e sou de São Paulo. Gosto muito de ler, toco violino e minhas matérias preferidas são matemática e inglês.

— Tá bom, neguinha. Agora abaixa essa juba aí que o pessoal de trás não consegue ver — disse o mesmo menino que perguntou como eu me chamava. A turma começou a rir.

Me sentindo humilhada.
Abaixei minha cabeça e fingi não escutar as risadas que pareciam não acabar..

Resistência (Em Atualização)Onde histórias criam vida. Descubra agora