Fui andando em direção a secretaria. Nas regras da escola, dizia: "Em casos de alunos novos, comparecer a secretaria para ser guiado por um aluno experiente e conhecer o colégio.".
Eu estava ali esperando alguém me atender quando uma moça jovem, de pele branca, cabelos enrolados até o ombro e de óculos abriu um sorriso enorme ao me ver.— Bom dia! Você deve ser a Marina, né? — disse apertando minha mão — Sua guia já está vindo. Como você deve ter lido, o sinal bate às 07:30 mas no primeiro dia de aula, começamos meia hora mais tarde para os alunos novos terem oportunidade de conhecer toda a escola.
Dei um sorriso e agradeci mentalmente por ter sido tão simpática e por ter me explicado.
Então quer dizer que a aula acabaria 12:30?— Fique tranquila, acaba no horário normal: 12:00 — disse dando uma leve risada parecendo ler meus pensamentos. — Já estou acostumada com esse tipo de pergunta então respondo antes.
— Mesmo tendo 30 minutos vagos, sempre aparece muita gente assim? — perguntei para tomar tempo.
Antes que a secretária respondesse, uma menina branca, magra, alta, de cabelos loiros passando um pouco dos ombros e de olhos azuis, apareceu respondendo minha pergunta:
— Ah, sim! O pessoal vem para matar a saudade. Prazer, meu nome é Ana. Sou sua guia.
— Oi! Sou a Marina. Prazer. — apertei a mão dela já estendida para um cumprimento e dando um sorriso sincero.
Fui seguindo ela que foi me apresentando o pátio, as quadras e a cantina que ficavam no térreo.
— Essa escola é boa. Tomara que você goste! — disse ela sorrindo e subindo as escadas.
— Aqui chamamos de 1º piso. Tem biblioteca, sala de artes, de música, salas de alguns cursinhos e os banheiros, claro. — foi falando enquanto andávamos no corredor vendo cada sala.
Fomos para o 2° e o 3° piso onde vimos as salas do ensino médio. Ela me mostrou as salas do segundo ano e também a qual eu ficaria.
Ficamos conversando sobre a escola, quando o sinal bateu.— Vamos entrar? Não te contei, mas estamos na mesma sala. Bem vinda! — disse ela me puxando e sorrindo. Ana sentou no meio da sala e deu uns tapinhas em uma cadeira ao lado dela para que eu sentasse ali.
Era uma sala comum. Tinha armários na parede e cadeiras azuis. O ar condicionado estava ligado e a sala estava um pouco gelada.
Os alunos foram chegando aos poucos e escolhendo um lugar para sentar.
Eles me olhavam como se eu fosse uma alienígena. Quando eu achei que alguém iria me dar um sorriso, uma menina ruiva com sardas perguntou:— Você é nova?
— Sim. Prazer, sou a Marina! — respondi estendendo a mão para cumprimentá-la.
A menina mascando seu chiclete, levantou uma das sobrancelhas, revirou os olhos e deu meia volta me deixando no vácuo. Eu fiquei tão envergonhada que só faltou cavar um buraco no meio da sala de aula e me esconder lá.
Ana vendo minha situação, tentou me animar falando que eu iria gostar da turma e aos poucos me adaptaria.
Coloquei meu material em cima da mesa e um professor de bigode e barriga grande foi entrando na sala todo animado:— Bom dia, bom dia, bom diaaa! Vou ali na direção pegar meu apagador e canetão e já volto. Comportem-se!
— Esse é de Matemática. Te passo os horários depois — disse Ana dando uma piscadinha pra mim com um dos olhos.
O colégio parecia legal mas eu não gostava da ideia de ser a única negra na sala. Alguns ficavam me encarando e eu realmente estava me sentindo o patinho feio da turma.
— Ei, menina nova! Qual é seu nome? — um menino do outro lado da sala me perguntou e todos me olharam esperando a resposta.
— Me chamo Marina. — respondi envergonhada.
— Fala mais sobre você — ele disse e alguém deu uma risada. Resolvi ignorar e responder mesmo assim.
— Tenho 16 anos e sou de São Paulo. Gosto muito de ler, toco violino e minhas matérias preferidas são matemática e inglês.
— Tá bom, neguinha. Agora abaixa essa juba aí que o pessoal de trás não consegue ver — disse o mesmo menino que perguntou como eu me chamava. A turma começou a rir.
Me sentindo humilhada.
Abaixei minha cabeça e fingi não escutar as risadas que pareciam não acabar..
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Resistência (Em Atualização)
Non-FictionNos dias em que vivemos, ser mulher e totalmente fora do padrão da sociedade não é nada fácil. Com Marina a situação não é diferente... A mudança de um estado para outro fez com que os problemas da garota de apenas 16 anos, só aumentassem. A dificul...