capítulo 19

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Realizada.
Realização era o que eu estava sentindo.
Pensando bem, era difícil descrever tudo o que eu estava sentindo naquele momento. Mais um sentimento e poderia explodir de tantas emoções vividas em poucas horas.
   
     Eu estava ainda no auditório e cansada por ter palestrado a manhã e a tarde inteira. Peguei minhas últimas coisas quando olhei para trás, e vi uma garota. Aparentava ter 14 anos ou mais. A menina pareceu tomar coragem e olhou no fundo dos meu olhos, dizendo:

"O-oi. Eu queria conversar mas tenho que ir. Poderia ler essa cartinha? Mas por favor, leia só quando chegar em casa!"

A menina estendeu a carta e saiu.
Eu estava atônita! Seria uma carta gentil falando de como tinha gostado ou seria um desabafo?
Fiquei olhando para o papel dobrado alguns segundos até que lembrei que não sabia o nome dela.

"Ei! Eu não sei seu nome!" - gritei indo em busca dela.

A menina viu que eu estava a seguindo e correu. Vi que algo tinha caído de seu bolso. Parei de correr quando vi o objeto no chão. Me abaixei e vi que era uma lâmina.
Naquele momento entendi o que aquela carta iria me dizer..

✽✽✽

"E o que diz na carta?" - perguntou Léo sentado em minha cama.

"Não sei! Estou meio que com medo de saber o que ela escreveu, sabe? Depois daquela lâmina que vi.." - falei andando de um lado para o outro.

"Mas não quer dizer que seja dela a lâmina."

Fiz uma careta para mostrar que o que Léo havia dito, não fazia sentido algum. Era óbvio que era dela! Eu vi um objeto cor prata caindo de seu bolso. Não era possível aquela lâmina ser de outra pessoa!

"Senta aqui, amor." - disse ele dando leves tapinhas na cama para indicar onde eu sentaria. "Vamos ler juntos isso e resolver. Sendo elogios ou um pedido de socorro, eu estou contigo, tá?"

Ele beijou minha testa e apertou minha mão. Léo era um namorado tão perfeito, que às vezes, me perguntava se eu o merecia.

Então abrimos e começamos a ler aquela bendita carta:

"ᴏɪ. sᴏᴜ ᴀ ᴍᴀᴅᴜ. ᴇsᴛᴏᴜ ᴇsᴄʀᴇᴠᴇɴᴅᴏ ᴀɢᴏʀᴀ, ᴀǫᴜɪ ɴᴏ ᴀᴜᴅɪᴛᴏʀɪᴏ ᴘᴏʀǫᴜᴇ ᴇᴜ.. ᴇᴜ ᴀᴄʜᴏ ǫᴜᴇ ᴘʀᴇᴄɪsᴏ ᴅᴇ ᴀᴊᴜᴅᴀ ᴇ ᴠᴏᴄᴇ ᴛᴇᴍ ᴄᴀʀᴀ ᴅᴇ ǫᴜᴇ ᴘᴏᴅᴇ ᴍᴇ ᴀᴊᴜᴅᴀʀ. ᴠᴏᴄê ʀᴇᴘᴀʀᴏᴜ ǫᴜᴇ ᴇᴜ sᴏᴜ ɢᴏʀᴅᴀ, ɴᴇ? sɪᴍ. ғᴇɪᴀ ᴛᴀᴍʙéᴍ, ᴅᴇsᴠᴀʟᴏʀɪᴢᴀᴅᴀ ᴇ ᴍᴀɪs ᴜᴍ ᴘᴏʀçᴀᴏ ᴅᴇ ᴄᴏɪsᴀs. ᴏ ɴᴇɢóᴄɪᴏ é ᴏ sᴇɢᴜɪɴᴛᴇ: ᴇᴜ ɴãᴏ ᴠᴇᴊᴏ ᴍᴀɪs ʀᴀᴢãᴏ ᴘᴀʀᴀ ᴄᴏɴᴛɪɴᴜᴀʀ ᴀǫᴜɪ. ᴀs ᴘᴇssᴏᴀs ᴍᴇ ᴄʀɪᴛɪᴄᴀᴍ, ᴍᴇ xɪɴɢᴀᴍ ᴇ ᴍᴇ ʙᴀᴛᴇᴍ ᴘᴇʟᴏ ғᴀᴛᴏ ᴅᴇ ᴇᴜ sᴇʀ ɢᴏʀᴅᴀ! ᴇᴜ ɴãᴏ ᴀɢᴜᴇɴᴛᴏ ᴍᴀɪs ɪssᴏ ᴇ ᴘʀᴇᴄɪsᴀᴠᴀ ғᴀʟᴀʀ ᴄᴏᴍ ᴀʟɢᴜéᴍ. sᴜᴀ ᴘᴀʟᴇsᴛʀᴀ ᴀᴛé ᴍᴇ ᴍᴏᴛɪᴠᴏᴜ, sᴀʙᴇ.. ᴍᴀs ᴀssɪᴍ ǫᴜᴇ ᴍᴇ ʟᴇᴠᴀɴᴛᴇɪ, ᴇʟᴇs ᴍᴇ ᴇᴍᴘᴜʀʀᴀʀᴀᴍ ᴇ ʀɪʀᴀᴍ. ᴀᴄʜᴏ ǫᴜᴇ ᴠᴏᴄê é ᴜᴍᴀ ʙᴏᴀ ᴘᴇssᴏᴀ ᴇ ᴍᴇ ᴄᴏɴᴠᴇɴᴄᴇʀɪᴀ ᴅᴇ ɴãᴏ ғᴀᴢᴇʀ ᴏ ǫᴜᴇ ǫᴜᴇʀᴏ ғᴀᴢᴇʀ. ᴇɴᴛᴇɴᴅᴇ? sᴇɪ ʟᴀ... ᴀᴄʜᴏ ǫᴜᴇ sᴏᴜ ᴜᴍᴀ ɢᴏʀᴅᴀ ǫᴜᴇʀᴇɴᴅᴏ ᴀᴛᴇɴçãᴏ. ᴀ ɢᴇɴᴛᴇ sᴇ ᴠê ᴘᴏʀ ᴀɪ."

Eu estava confusa e chocada. Desprezar uma pessoa pelo físico dela é muito errado e infelizmente, é o que hoje, a sociedade faz. Só pelo fato de você não se encaixar nos padrões, você está fora de qualquer grupo.

"Isso está totalmente errado!" - disse Léo relendo a carta e balançando a cabeça em forma de negação. "Precisamos fazer alguma coisa, Marina!"

Me levantei da cama e fui até a janela do quarto pensar em uma solução.
Olhando para a cidade e tudo a sua volta, me peguei pensando em como somos ignorantes e deploráveis. Em toda a diversidade, somos capazes de excluir alguém só pelo fato de ser diferente - que é algo bom e original. Mas a sociedade exige em apontar um dedo na sua cara e falar "Você está errado! Seja como nós ou então não entra!" - e isso é muito ruim e totalmente, sem cabimento.

"Tenho que ir, tá?" - disse Léo me dando um beijo e desfazendo meus pensamentos.

"Eu te levo em casa. Vamos"

Léo estranhou mas mesmo assim não questionou. O caminho era curto mas eu queria passar alguns minutinhos a mais com ele.
  
"Sabe o que podíamos fazer, amor? - perguntei a Léo enquanto caminhavámos.

Léo negou com a cabeça e franziu as sobrancelhas.

"Ir na escola que fomos hoje e tentar saber mais sobre a menina."

"Ah..." - pareceu decepcionado.

"O que foi? Não gostou da ideia?" - perguntei confusa.

"É que eu achei que você fosse falar algo como sair para jantar ou fazer um piquenique. - tive que rir. Léo era um cara realmente romântico e eu tinha que aprender mais com ele. "Achei boa sua ideia. Amanhã eu passo lá então?" - completou.

Afirmei e me despedi dele.
  Eu estava já voltando para casa com um sorriso estampado em meu rosto quando vi a garota misteriosa..

Resistência (Em Atualização)Onde histórias criam vida. Descubra agora