capítulo 24

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10 minutos e ninguém me atendia.
Eu estava na porta da casa do Leo segurando copos de café super quente e ninguém abria a porta!
Peguei minha bolsa que estava no chão para ir embora quando alguém finalmente apareceu.

"Ah, Mariana. É você." - disse o primo do Léo me olhando de cima a baixo.

"Boa noite pra você também, Jonas. E é MARINA!"

"Ainda não é noite" - disse olhando para o relógio. "São 17:53."

Revirei os olhos.
A maturidade de Jonas me impressionava cada vez mais.

"Oi, Mari!" - falou a mãe de Léo me cumprimentando. Ela estava de roupão então provavelmente, estava no banho e Jonas ficou com preguiça de abrir a porta. "Entra. Pode entrar. E não liga para o tosco do primo do Leonardo."

Tive que rir. Pelo jeito eu não era a única que achava aquilo.

Expliquei para ela que só queria ver como Leo estava e já ia embora.
Bati na porta do quarto dele e entrei.

"Boa noite, princeso." - fiz biquinho o vendo deitado na cama com cara de doente. Entreguei o café e tive que rir da cara que ele fez quando segurou o copo quente.

"Oi, amor." - disse tentando sentar na cama.

"Pode ficar deitado" - eu disse o impedindo "Eu vim rapidinho pra te dar uma notícia boa."

"Fala, fala!" - disse ele empolgado.

"Ok.. Comprei os ingressos pra nossa viagem!!" - falei com um sorriso enorme no rosto.

"Você comprou o meu também? Com seu dinheiro?" - perguntou confuso se sentando na cama.

"Claro! Mais um presente meu para você."

Nessa hora não entendi o porquê de ele não ter ficado feliz com a notícia.

"Não precisava, Marina." - disse olhando para o chão, refletindo.

"Leo, é um presente meu. Não precisa se preocupar. Você merece!" - falei acariciando seu rosto.

"Mas... não é assim que acontece. Eu devo pagar as coisas pra você, Marina!"

Nesse momento eu entendi o motivo de ele estar bravo.
Fiquei o encarando esperando mais explicações. Como ele não disse nada, não consegui me conter, e explodi.

"Vai ser machista, Leonardo? Depois de tudo o que eu passei, você ainda tem coragem de ser machista?" - me levantei bruscamente.

"Ei, calma." - ele disse dando leves batidas na cama para eu me sentar.

"Eu não acredito que você está fazendo isso. Não esperava isso de você" - falei rispidamente pegando minha bolsa e me levantando.

Tenho certeza que a minha última frase o matou por dentro. Todos odeiam ouvir um "não esperava isso de você". Ainda mais meu namorado.
Ele ficou me olhando com uma carinha que só pedia um abraço mas eu não podia me render tão facilmente.

"Ainda dá tempo de cancelar." - falei colocando a mão na maçaneta.

"Você quer cancelar porque se magoou com o que eu disse?" - ele perguntou espantado.

"Você está sendo tão machista quanto os meninos da escola do Rio. Por Deus, Leonardo" - falei bufando.

"Por favor, não me compare com aqueles meninos idiotas. Se já não é uma boa lembrança para mim, para você deve ser muito menos."

Respirei fundo.

"Então percebeu seu erro?" - perguntei.

"Chega, Marina!" - ele gritou me fazendo assustar. "Você só quer saber de aceitação, direitos iguais e racismo o tempo todo! Só falta escrever um livro sobre isso. Por favor, pare!"

Meu olho encheu de lágrima. Não queria mostrar que aquilo tinha me magoado mas era tarde demais. Abri minha boca pra falar mas não saiu nada. Ao invés disso, lágrimas já estavam escorrendo pelo meu rosto.

"Ok, Leonardo. Eu cancelo os ingressos."

Não consegui ver a reação dele pois já saí disparadamente. Tentei parar de chorar enquanto descia as escadas correndo. Sim, não era uma boa ideia descer uma escada com a visão toda embaçada e ainda correndo. Mas naquele momento, não via outra solução.

~~
Cheguei em casa eu fui direto para a dispensa na cozinha. Aquela discussão toda merecia muitas colheradas de leite em pó (sim, eu como leite em pó e é uma delícia!).

"Oi filhota. Tenho algo para te contar."

"Pode falar, pai."

"Não é algo que você vai gostar." - disse já sentando em minha frente.

"Fala logo, por favor!" - pedi

"Você não passou na agência de modelo," - falou dando um sorriso amarelo tentando me confortar. "mas as fotos ficaram ótimas!"

"Ah, ok." - falei desanimada "Vou subir e não sei se vou jantar hoje, ok?"

Meu pai estranhou minha reação e o jeito que eu mudei o assunto da conversa repentinamente mas não questionou nada.
Tomei meu banho e deitei.
Tentei parar mas fui dormir chorando.

Resistência (Em Atualização)Onde histórias criam vida. Descubra agora