capítulo 10

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— E aí princesa, bora dar um rolézinho?

Eu congelei.
Ele era muito alto, branco e tinha uma barba enorme. Escondi meu celular discretamente e disse:

— E-eu já estou saindo, moço...

— Não foge morena, vai ser rápido. — disse ele descendo da moto e segurando meu braço. 

O meu medo do cara e a raiva dele ter me chamado de "morena" se misturaram tanto, que meu único impulso foi ter dado um chute no saco dele. Quando escutei o grito de dor do homem, percebi a burrada que tinha feito. Ele merecia mais por estar me fazendo passar por aquilo; mas óbvio que aquela não era a hora de fazer justiça com minhas próprias mãos. 

Meu primeiro pensamento foi sair correndo em direção a minha casa, mas com todo o desespero, não percebi a rota contrária que eu estava fazendo.  Parei por uns segundos com as mãos em meus joelhos pra poder retomar todo o fôlego perdido e olhar em volta pra ver onde eu estava. Me virei pra trás e vi a luz forte de uma moto se aproximando de mim. Minha única saída foi ter corrido disparadamente até não ver uma pedra, e tropeçar. 

O homem então desceu da moto rapidamente e se agachou na minha frente já que eu estava quase deitada no chão por conta do meu acidente com a pedra na calçada.

— Por favor, não me machuca! — implorei chorando e fazendo uma barreira para meu rosto com minhas mãos — Me desculpa pelo chute! Só por favor, não faz nada comigo.

O homem tirou o capacete e me segurou pelos ombros até eu olhar nos olhos dele.

Tomei um susto ao ver quem era.

— Marina? É você? — perguntou ele me tirando do chão.

— Sim... você é o Rogério, certo? — eu estava tão desesperada que tive que perguntar pra ter certeza.

— Achei que não ia lembrar de mim. — conheci o pai de Ana quando fui fazer um trabalho na casa dela — Vi o que homem de barba grande tentou fazer... como você está?!

— Eu... ãhm.. — fiquei sem resposta e comecei a chorar ali mesmo.

— Vamos pra minha casa e depois eu ligo para seus pais — disse ele me fazendo parar de chorar — Vou ligar para Ana nos esperar no portão.

Coloquei o capacete e subi na moto.

Mesmo não sabendo da situação, Ana me recebeu com um longo abraço. Assim que coloquei meus pés na porta, a mãe dela apareceu - que inclusive, é linda igual ela - preocupada e perguntou o que havia acontecido. Eu não entrei e detalhes; só disse que saí para dar uma volta e me perdi.

Elas me ofereceram um chá e tentaram me acalmar conversando.

— Tá melhor, Marina? Esse chá cura qualquer um! — falou a mãe de Ana.

— Estou sim, obrigada!

— Vamos para meu quarto enquanto seus pais não chegam. — falou Ana.

Entramos e assim que eu fechei a porta, ela perguntou desesperada:

— O que aconteceu?! Dá pra ver o medo em seus olhos, Marina. Quem te machucou?

Já sentada na cama me mexendo para mostrar que estava desconfortável com aquela situação, respirei fundo e respondi:

— Briguei com a minha mãe... sofri assédio e racismo desde que eu me mudei pra cá e ela pouco se importou. Minha saúde mental está em jogo e ela acha que isso são fases minhas, sabe? — ela assentiu com a cabeça — Então, saí um pouco de casa pra esvair mas um cara ridículo tentou me agarrar. Aí seu pai conseguiu me salvar, me trouxe até aqui e o final da história saberemos daqui a pouco...

Ri de nervoso quando terminei de relatar e ela riu junto. Depois de alguns segundos em choque, Ana me abraçou forte até sua mãe chegar e nos interromper.

— Meu bem, seus pais estão no quintal te esperando. Sua mãe está furiosa e acho melhor não demorar.

— Como eles descobriram nosso endereço?— perguntou Ana.

— Tive que passar alguns de seus dados que eu sabia assim que minha mãe soube que te conheci — falei limpando minhas (quase) lágrimas e indo em direção à saída. Olhei para minha mãe e vi que estava andando em círculos; sinal de que estava preocupada. Vi meu pai tentando a acalmar.

— Obrigada por tudo, gente! Vocês já são minha segunda família — agradeci me despedindo e dando um abraço em cada um.

Passei pelos meus pais sem fazer contato visual e já entrando no carro.

— Marina... sabia que ficamos preocupados?! — perguntou meu pai em pé ao lado de fora do carro escandalizado com minha tamanha falta de educação.

— Você preocupado eu acredito. Já sua esposa...

— Olha aqui, Marina... — ordenou minha mãe antes de perceber que estava falando alto na casa dos outros. Os dois abriram a porta e entraram. — Vamos resolver isso em casa, dona moça.

O percurso não era longe mas pareceu muito mais do que 5 minutos.
Não falei nenhuma palavra até chegar em casa. Eu já estava subindo para meu quarto, quando minha mãe disse:

— Marina, espera! Eu sei que você está chateada comigo e eu entendo..

— Não. Você não entende. — a interrompi.

— Descansa e amanhã vamos conversar. — ordenou meu pai tentando acabar com a discussão.

Tomei meu banho e me deitei.
Só conseguia pensar em toda a confusão e por isso, demorei pra dormir. Não podia imaginar o que viria nos próximos dias...

Resistência (Em Atualização)Onde histórias criam vida. Descubra agora