Capítulo 16

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Eu prendi a respiração. Havia tanta dor nos olhos dele que eu me vi presa no mesmo sentimento. Eu conseguia sentir a dor que parecia emanar de cada poro da pele dele. Um pequeno soluço rasgou de seu peito e ele parecia tão frágil! Eu me vi querendo abraça-lo forte, mas ao invés de consolá-lo, ele é que me consolava e me abraçou tão forte.

- Eu não quero que você termine como ela!_ ele disse forte, como se tentasse convencer a si mesmo que eu não teria o mesmo desfecho que ela.

Mas o problema era: O que havia acontecido a Angel Herrera? A pergunta começou a rodear a minha cabeça, e eu queria que ele me respondesse logo, mas eu não podia forçar uma resposta rápida quando ele estava tomado pela emoção.

Estaria ele chorando? Ele soluçou mais uma vez, mas eu não pude ver seu rosto uma vez que seu abraço forte me mantinha presa com a cabeça em seu peitoral. Eu queria olhar seu rosto e tentar entender a sua dor. Seria a sua dor tão parecida com a que eu sentia em minha vida?

De algum modo eu me senti próxima emocionalmente a ele. Ele havia perdido a irmã, eu havia perdido o meu pai. De maneiras parecidas ou não? Meu pai morreu em um atentado, eu pelo menos não acho que a Angel tenha morrido da mesma forma. Mas ainda morreu. E eu conhecia bem a dor de se perder alguém que se ama.

- Alfonso...._eu chamei a atenção dele mas um barulho nos fez sobressaltar.

A enfermeira Ana, uma mulher de seus 40 e poucos anos entrou batendo a porta ruidosamente. Eu me afastei um pouco de Alfonso e pude finalmente olhar para ele. Algumas lágrimas ele havia derramado e me olhava com ternura.

– Sinto muito interromper jovens. É bom ver que a senhorita Portilla está bem. Pregou um susto enorme em seu namorado!_ Ana comentou com um sorriso doce.

– Ele não é meu namorado._ eu disse sem graça.

– Oh querida! Se não é, o que está esperando para agarrá-lo? O garoto certamente gosta de você._ Ana estava sendo inconveniente, mas parecia não perceber. _Como se sente querida?

– Eu estou bem. Foi só uma tontura._ afirmei.

– Sendo assim, deixarei vocês dois a sós._ ela nos olhou antes de sair do cômodo.

Eu não sei o que me levou a limpar as lágrimas do rosto dele, mas eu o fiz e não me espantei com a reação. Ele me deu um sorriso fraco e beijou minhas mãos delicadamente.

– Eu preciso ter essa conversa com você. Mas ela não pode ser aqui._ ele me ajudou a descer da maca e me firmou no chão quando eu ia me desequilibrando.

– É algo muito pessoal. Eu imagino que você não esteja confortável para falar sobre isso e se você não quiser, eu não me importarei._ eu menti descaradamente. Eu estava louca para saber, mas eu não o pressionaria porque eu mesma tinha de admitir que me sentiria acuada se alguém me pressionasse daquela forma.

– Você é uma péssima mentirosa, Anahí. Eu consigo ver no seu olhar a curiosidade queimando. Mas não pense que com essa atitude me fará querer te desvendar menos._ ele alertou._ Consegue andar?

– Sim, eu já estou bem. Nem mesmo consigo entender porque desmaiei. _comentei.

– Está mentindo novamente. Mas eu não te pressionarei a me dizer nada por enquanto. Eu quero que você escute a história da minha irmã. Mas acima de tudo eu quero que você escute de olhos abertos e fique atenta aos erros que a minha irmã cometeu.

Saímos em direção ao estacionamento. Alfonso não falou nada no curto trajeto, mas eu havia notado que a sua postura estava rígida. Ele estava longe de estar relaxado. E saber disso trouxe um impacto para mim, já que estava acostumada a somente vê-lo como uma pessoa confiante.

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