A janela do meu quarto bateu forte, fazendo com que deixasse de lado o meu notebook com minhas anotações, e fosse fechá-la. Estava em casa, sozinha. Novamente sozinha.
Podia haver milhares de pessoas dentro desta casa, e ainda assim me sentiria sozinha.
Uma sombra se projetou do lado de fora. Parei instintivamente e recuei. O estranho estava preparando-se para entrar no quarto. Não tive medo. Eu já fazia ideia de quem fosse.
– Porque você não atende a porta? - Madson perguntou indignada, jogando a enorme cascata castanho-reluzente de cabelos por sob o ombro.
– Não estava a fim de falar com ninguém_ respondi sentando-me novamente na cama.
–E quando você estará afim?_ ela rebateu sorrindo.
Suspirei cansada. Não importava o quanto eu tentasse afastar Madson de mim. Ela persistia insistentemente em nome da nossa amizade. Ou o que restou dela pelo passar dos anos.
– Se vai permanecer aqui, ao menos fique calada_ pedi.
_ Não posso. Não vê o que tenho em mãos? - ela sacudiu o álbum de fotos em minha direção. Desviei meu corpo da trajetória do objeto onde bateu na parede e em seguida caiu na minha cama.
_ Tire isso daqui_ minha voz saiu com um sussurro.
_ Qual o problema Anahi? _ Madson perguntou com seus olhos azuis arregalados.
–Tire isso daqui. _ repetir mais forte fazendo com que ela se assustasse.
– Anahi, eu não compreendo.
– Medson eu acho melhor você ir embora. _ arrisquei uma olhada na direção do álbum.
Ele havia caído aberto, onde mostrava uma foto minha e de Maite pequenas, em uma época em que não tínhamos problemas. O sorriso inocente em meu rosto, a lembrança desse tempo fez com que cada célula do meu corpo se enchesse de raiva. Raiva de mim, raiva de todos que estavam ao meu redor. Eu simplesmente não enxergava mais nada na minha frente.
– Madson vá embora _gritei com todo o meu ar que estava dentro de meus pulmões.
Ela ficou sem reação, e até mesmo me surpreendi. Depois de tanto tempo ela já devia ter se acostumado a tudo.
A meu comportamento, principalmente.
Timidamente ela se afastou rumo à porta.
– Espero que fique bem, Anahi _ ela disse
– Leve o álbum._ disse entre dentes.
Ela foi embora, e eu continuei lá sozinha como sempre. As noites eram o meu refugio.
Eu não precisava falar com ninguém. Não precisava e não queria. Em contrapartida, meus dias eram um inferno. Embora eu estudasse o que sempre quis, Literatura, frequentar a universidade era desgastante. Tanto físico quanto emocionalmente.
– Está na hora de levantar. _ minha mãe disse apaticamente batendo na porta do meu quarto. Mas eu já estava pronta. Olhei atentamente ao reflexo do espelho a minha frente. Os grandes olhos Azuis que tinham grandes olheiras ao redor. O nariz pequeno, mais proporcional ao rosto. Mais um dia, mais uma jornada a ser cumprida.
Peguei um casaco e joguei o capuz por cima da minha cabeça. Peguei meu ipod e saí do quarto.
Todos estavam na cozinha. Marichelo, Phil e Sarah. Marichelo era a minha mãe, que sempre estava ocupada demais pra prestar atenção na minha presença. Phil, seu atual marido fazia questão de me ignorar. Pelo menos na frente da minha mãe. Ele me dava nojo. Eu não suportava nem olhar pra ele que ânsias de vômito dominassem meu corpo. E por ultimo, Sarah. Minha meio-irmã. Tinha 7 anos, e era a coisa mais linda do mundo. A única com quem eu me importava. Tudo estaria bem, desde que ela estivesse bem.
_ Bom dia, Anahí - ela disse animadamente.
_ Bom dia, Sarah _ respondi o mais animadamente possível.
Ninguém mais falou comigo. O clima estava insuportável tenso e o ar parecia ter ficado pesado demais. Era hora de sair daqui.
Eu não aguentaria ficar naquela casa por mais tempo. Meu pai, a lembrança dele fazia meu peito doer tanto. Meu pai era militar. Foi enviado ao Afeganistão depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Ela estava feliz no aeroporto. Um sorriso no rosto estampado, mostrando o orgulho que ele tinha por estar servindo ao seu país. Foi a ultima vez que vi meu pai.
Por que a ultima coisa que soube é que ele tinha morrido em combate. Seu corpo voltou em um caixão lacrado, e eu chorei, chorei pela perda.
E chorei mais ainda por não poder ver seu rosto e dizer adeus.
Espero que gostem dessa novas aventuras que está nos aguardando em Untouched.
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UNTOUCHED
RomanceAlguém sem muitas expectativas na vida, sem ambição, sem amor próprio. Destinada a viver as mesmas experiências em um eterno deja vú, Ela precisava encontrar seu caminho, suas esperanças e sonhos novamente. Mas ela se sentia capaz? O destino coloca...