martírio. Não que eu não gostasse deles, ele eram realmente pessoas boas. O problema era que eu via nos olhos deles as perguntas que eu nunca respondi e que com o tempo eles se cansaram de perguntar. Como a menininha deles havia se tornado tão fria e distante?
Eu sabia que eu os magoava com a minha indiferença, e com eles eu não fazia de propósito. Mas depois de tanto sustentar um papel, você começa a crer nele. Depois de um tempo chega a se tornar difícil saber onde começa você e onde termina o seu personagem.
Mentira. Eu sou uma idiota de uma mentira. E como eu não estava pronta pra enfrentar Marie e John Portilla eu inventei uma desculpa muito esfarrapada para no dia não precisar ir. Eles eram meus avós por parte paterna, e nutriam uma afeição muito grande por minha mãe que se transformava em uma pessoa muito diferente da qual eu estava acostumada a ver quando ficava na frente deles.
Eu estava com cólicas. Pelo menos era isso que eu disse a minha mãe e seu "adorável" marido. Como já era pálida por vida, não foi muito difícil associar isso a uma careta de dor. E assim eu estava livre pra passar todo o fim de semana sozinha em casa. O fim de semana inteiro sem ter que me preocupar com Phil vindo me procurar.
Sem ter de falar coisas que eu não sinto a minha mãe. A cada dia que passava parecia piorar o fardo a ser carregado. Parecia mais difícil de sustentar o papel.
Olhei pela janela, e os vi entrando no carro e em seguida partindo. Respirei aliviada. Pronta para aproveitar o final de semana. Iria me dedicar à história, quem sabe eu pudesse adiantar? Aproveitaria para ver uns filmes e talvez desse uma passada no cinema para ver algum filme novo.
Por enquanto era somente eu e a casa que eu habitava. Cocei os olhos, eu teria que ligar para Mai uma hora ou outra. Tínhamos aquele maldito trabalho para fazer juntas. Eu não me incomodava de ter que fazer só, mas da ultima vez que eu propus isso a ela, ela ameaçou de contar ao professor e isso era algo que ele não tolerava.
Então para não me prejudicar eu acabava cedendo. Fazia os trabalhos com ela e não entendia a insistência que ela tinha de se aproximar de mim. Então tive a ideia de aproveitar esse fim de semana com a casa vazia e chama-la pra vir aqui e fazer.
Disquei o tão conhecido número da casa dela, afinal só ela fazia os trabalhos comigo quando havia necessidade de ser em dupla.
- Alô._ a Sra. Perroni atendeu
Oi, Mai está?_ perguntei desajeitadamente.
- Só um segundo Anahí._ ela respondeu.
A mãe da Mai sempre sabia quando eu ligava, acho que era porque eu não tinha muito jeito com as palavras por telefone. Nem por telefone, nem pessoalmente, eu percebi.
Demorou um pouquinho e Mai finalmente veio atender ao telefone.
– Oi Anahí._ Dificilmente Mai estava um mal humor. Eu achava isso impressionante.
– Oi. Olha, será que você poderia vir aqui em casa ou hoje ou amanhã para fazermos o trabalho?_ eu perguntei.
– Trabalho? Que trabalho?_ ela ecoou confusa.
– O trabalho que o professor Banner passou em dupla._ eu lembrei.
– Ah, esse trabalho._ ela murmurou e pela voz dela eu imaginava que não iria gostar nenhum pouco do que ela iria dizer a seguir.
– O que foi Mai?_ Já estava sem paciência
– É que eu fiquei de fazer o trabalho com Chistian. E agora que você tem outro parceiro, eu afirmei a Chistian que faria o trabalho com ele._ ela respondeu rapidamente.
Eu apertei o telefone nas minhas mãos. E eu fiquei com raiva.
– Mas que droga Mai!_ eu exbravejei.
– Eu sinto muito Anahi._ ela murmurou.
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UNTOUCHED
RomanceAlguém sem muitas expectativas na vida, sem ambição, sem amor próprio. Destinada a viver as mesmas experiências em um eterno deja vú, Ela precisava encontrar seu caminho, suas esperanças e sonhos novamente. Mas ela se sentia capaz? O destino coloca...