Capítulo 13

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Suas mãos voltaram para o meu rosto e limparam os vestígios das lágrimas que haviam passado por lá. Suas mãos agiam carinhosamente, fazendo meus olhos se fecharem e eu suspirar de prazer pelo toque.

Mais uma vez o alerta em minha mente soou. Próximo demais! Eu senti sua respiração bater em meu rosto e eu abri meus olhos espantada. Ele estava mais próximo do que antes e eu me via encurralada sem ter pra onde ir.

Ele encurtou a distancia entre nossos rostos e levemente encostou seus lábios nos meus. Foi breve, mas foi o suficiente para fazer a eletricidade percorrer todo o meu corpo. Abri meus olhos em choque e não conseguia decifrar a expressão no rosto dele que por incrível que pareça, não havia se alterado.

- O que você pensa que está fazendo?_ eu quase rosnei.

- Desculpe, foi um impulso._ ele se retratou imediatamente, mas mesmo assim a expressão no rosto dele não se abalou. Ele se desculpou por mera formalidade pra mim. Ele não estava se importando com a minha reação.

– Não quer se desculpar de verdade._ sussurrei.

– Não._ ele confirmou meneando a cabeça.

– Por quê? _eu estava revoltada, mas a minha vontade de saber por que ele estava fazendo isso era maior, bem maior.

– Porque eu não me arrependo de ter feito o que fiz. É simples._ ele respondeu._ Já percebeu que eu tenho que responder as suas perguntas, mas você não responde as minhas?

– Não se trata de mim._ me defendi.

– Tudo se trata de você Anahí. Faz uma semana que eu visito o campus informalmente para conhecê-lo antes de começar a estudar lá. E desde o primeiro dia em que fui lá, você foi à primeira coisa que me chamou a atenção.

– Eu? O que eu tenho a ver com a sua visita ao campus?

– Eu já havia visto pessoas excluídas antes. Mas você não é uma simples pessoa excluída. Porque não são os outros que te afastam, é você mesma que age contra você. Observava Madson sempre querendo falar com você e você se esquivando, tratando-a mal embora não estivesse perto o suficiente para escutar o que você dizia.

– Estava me espionando? _perguntei ultrajada.

Que filho da puta! Que direito ele achava que tinha para ficar fiscalizando a minha vida? As minhas ações?

– Espionar não seria o termo certo, mas o que eu quero que saiba é que se eu me pronunciei diante do seu desentendimento com Berlinda, foi para ter a imediata desculpa de ver você, ainda que na sala do reitor.

– E você quer ser a porra da fada madrinha que vai transformar a minha vida num conto de fadas?_ perguntei sarcástica_ O que você quer de mim?

E lá vem o senhor certinho que não altera pra mim o tom da voz, nem quando eu sou sarcástica. Ele parecia me olhar com pena, e aquilo era o que me matava. Matava-me aos pouquinhos.

- Não ouse me olhar assim!_ eu quase gritei.

- Como é que eu estou te olhando Anahí?_ ele perguntou fixando seus olhos em mim mais uma vez.

Eu podia ver o meu reflexo neles, e eu não gostava do que via. Novidade, eu nem gostava de me ver a frente de um espelho, quanto mais refletida nos olhos de outra pessoa!

- Você está me olhando com pena!_ acusei.

– Não!_ ele negou apressadamente._ Não, eu não estou te olhando com pena.

– E que merda é essa que eu vejo nos seus malditos olhos azuis?

– Provavelmente é a pena que você sente de si mesma Anahi!_ ele devolveu.

Mas seu tom não era hostil, era calmo e tranquilo. E talvez por isso deva ter feito eu me sentir pior do que já estava.

– Olha, eu vou pra casa. Eu já não estou me sentindo bem.

– Não, nós vamos comer e vamos conversar._ ele repetiu.

– Alfonso, eu já disse que..._ele pôs o indicador nos meus lábios me impedindo de continuar a falar.

– Vamos falar sobre um assunto neutro. Eu tenho certeza que você ainda não escolheu no que iria se voluntariar, certo?_ ele perguntou.

– Sim, eu ainda não pensei._ admiti.

– O Hospital geral de Seattle tem um programa de voluntariados para ajudar com alguns idosos. O Hospital é parceiro do asilo, que abriga idosos que foram abandonados pelas suas famílias e os que são doentes e não podem pagar os custos de seus respectivos tratamentos.

Ele falava com orgulho do projeto, como se o conhecesse intimamente.

– Como você conheceu o projeto? Duvido que você estivesse procurando algo pra mim a toa por aí.

– E não estava. Eu sou voluntario de lá há pouco tempo. Achei que você não procuraria, achei que acabaria esquecendo e que esse trabalho em si poderia te interessar.

De fato ele estava certo na questão do esquecimento. Eu havia esquecido e precisava dar uma resposta a Jerry amanhã de todo o jeito. Se não desse poderia haver consequências.

Mas então, isso significaria passar mais tempo ao lado de Alfonso e eu não sabia se estava disposto a passar esse tempo com ele. Então eu recusaria.

- Não, eu não me interesso._ eu respondi firme.

– Tem certeza que não?_ ele tornou a perguntar.

– Absoluta. E eu não vou comer. Eu vou voltar agora mesmo pra casa.

Eu percebi que ele ia protestar, mas eu o calei logo.

- Olha, eu agradeço por ter vindo fazer o trabalho, agradeço por ter me convidado para jantar e agradeço pela indicação do trabalho voluntário. Nós vemos amanhã.

Eu estava prestes a sair do carro quando ele me puxou para um abraço. Um abraço forte, poderoso. Eu me senti amolecer diante daquela sensação.

– Até amanhã Anahi._ ele sussurrou.

Eu saí do carro sem olhar pra trás. Em dois dias Alfonso Herrera já havia feito algumas mudanças na minha vida. Mudanças que não estavam sendo boas pra mim. Por que agora eu me sentia meio paranoica achando que qualquer um poderia enxergar dentro de mim como ele estava fazendo.

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