Capítulo 9

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De nada adiantou o aviso da minha mãe, no dia seguinte levei meu filho na escola e corri pro orelhão.
Percebi que uma vizinha havia se aproximado, mas não dei muita importância, continuei falando com Neguinho, contando todo acontecido da noite anterior. Conversamos a tarde quase inteira, a ligação caía e ele retornava, ficamos assim até a hora da "tranca", ele me falou:

- Ô coração, na hora da tranca eu vou ter que desligar, tá?
- Tranca?? Que isso?
- Tranca é a hora que o guarda passa na cela pra trancar a gente.
- E vocês ficam fechados?
- A gente fica na tranca até a hora da contagem no dia seguinte.
- Contagem??
(Neguinho riu)
- Contagem aqui passa todo dia as 5 horas da manhã.
- Como assim,"contagem"?
- Os guardas passam e a gente levanta pra eles contar quantos presos tem na cela. É pra ter a certeza que ninguém fugiu durante á noite.
- Ahh tá. Mas tinha que ser tão cedo?
- Cadeia tem que ter disciplina, os caras passam, a gente levanta, eles contam, aí a gente volta a dormir.
- Nossa Neguinho, que triste. E vc vai ficar aí até qdo?
- Vou falar pra tu... minha condenação é um pouco grande.
- Grande quanto? Cinco? Dez?
- Vou mentir pra vc não... eu aqui to tendo que tirar trinta!

Minha reação foi rir! Trinta anos, como alguém podia falar naquela tranquilidade que ia ficar preso todo esse tempo?
Meu Deus, daqui trinta anos eu ia ter cinquenta e três e ele que já tinha trinta ia ter sessenta!
Nunca tinha me imaginado nessa idade.

- Cê tá louco? Nunca vi niguém ficar preso 30 anos! Posso até não entender muito bem dessas coisas de cadeia, mas 30 anos eu sei que ninguém fica! Vc fez o que heim? Roubou um banco? Kkkkkk

-Ô coração, não ri de mim assim não pô! Qualquer hora eu te conto como eu vim parar aqui, por hora o que eu te disse é só o que vc precisa saber.
Agora vai buscar teu filho, que já tá na hora dos puto vim fechar a gente.
-Ta bom, um beijo e se der essa noite eu fujo pra falar com vc.

Me despedi e fui buscar meu menino, peguei ele na escola e fui brincando com ele até em casa.

Danilo:
- Mamãe eu amo muito a senhora.
- Ô nenem a mamãe ama muito vc também.
- Eu também amo muito meu pai mãe, você me leva na casa da vó Angelita?
- Filho a mãe vai ver, tá? Eu prometo que vou ver se te levo lá nesse fim de semana.
-Ebaa, a senhora é a melhor mãe do mundo!

Meu filho sempre foi minha vida, meu  neném, meu tesouro. Apesar do ódio que sentia da minha sogra, eu era incapaz de dizer não pra ele, então decidi que no fim de semana levaria ele lá.
Chegamos em casa e assim que pisei na sala, minha mãe avançou em mim, me deu um tapa na cara de marcar os dedos, na frente dos meus filhos.

-Eu sabia que vc tava falando com macho, sua vadia! sua puta!
-Eu não fiz nada, mãe! Porque a senhora tá me xingando?
- A dona Shirley esteve aqui. Ela ouviu sua conversa toda no orelhão. Te avisei que se fosse pra ficar na rua andando atrás de macho, era melhor vc pegar os seus filhos e arrumar outro canto pra vc morar!

Fiquei cega, o sangue subiu em minhas veias... vizinha fofoqueira, desgraçada! Juro que não pensei em mais nada, abri a porta  e saí, fui correndo na direção dela que tentou disfarçar.
Voei pra cima dela, joguei ela no chão e soquei com toda vontade!
- Sua Zé povinho do caralho! Isso é pra vc aprender a não cuidar da vida dos outros! - eu socava a mulher e gritava.
Ela não se defendeu, não tinha nem como, ela só pedia socorro e cobria o rosto pra não machucar e eu continuava batendo.
- Sua vaca! Mal amada! Vou te ensinar a nunca mais atravessar meu caminho!
Eu gritava, batia e xingava, quando me senti exausta larguei ela no chão e fui pra casa. Minha mãe não botou a cara pra fora enquanto eu batia na mulher, mas quando eu entrei...
Tomei a maior surra da minha vida, minha mãe me machucou inteira, fiquei toda quebrada.

Continua...

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