Capítulo 13

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Na segunda saí cedo, peguei meus documentos, conta de luz e fui até o banco. Tentei abrir a conta, mas o gerente pediu um depósito inicial de 500 reais.
Tinha pego uma fila enorme, saí desanimada, parei no primeiro orelhão e liguei pro Neguinho:

- Oi vida, sou eu. Vim no banco mas não me deixaram abrir a conta, não.
- Oi coração, não deixaram porquê?
- Disseram que tem que fazer um depósito de no mínimo 500 reais, onde é que eu vou arrumar esse dinheiro?
- Vc tá onde agora?
- To perto do banco.
- Então vai pra casa e mais tarde quando você voltar de buscar as crianças, isso aí vai estar resolvido.
- Outra coisa... Vc sabe dirigir?
- Sei, mas não tenho carta.
- Isso aí vai ser resolvido também.

Desliguei e fui pra casa, quando cheguei minha mãe fez o maior escândalo de novo:

- Cadela! Seus filhos acordaram e vc não tava em casa!
- Mas mãe, eu falei pra vc que ia sair!
- Não quero saber de nada! Não mandei você fazer filho! Quem pariu, que balance!

Eu não aguentava mais aquilo, todo dia uma briga, uma ofensa, uma humilhação.
Sai pra rua na cara dela e corri pro orelhão:

- Neguinho, não aguento mais, quero ir embora desse lugar!
- Que aconteceu coração?
- Minha mãe me xingou de tudo quanto é nome sem eu ter feito nada, eu avisei ela que ia no banco.
- Nao fica assim não. O problema da sua mãe é dinheiro e hoje eu vou resolver.
- Me tira daqui Neguinho, não aguento mais isso!

Desliguei o telefone chorando, tava decidida a mudar de vida, já tava cansada de tanta humilhação.
Entrei em casa e minha mãe veio gritando, dessa vez eu respondi a altura:
- Olha mãe, eu sei que você me ajudou e eu reconheço. Espero que um dia eu possa te recompensar por tudo que fez por mim, mas a partir de hoje eu não vou mais tolerar que você me xingue e nem me humilhe na frente dos meus filhos.
Se o grande problema é por eu estar morando aqui, tudo bem, eu saio e você pode ficar com sua casa.
-Você pensa que a vida lá fora é fácil? Se sair vai viver de que?
-Eu sei que não é, mas se o preço pra ter seu respeito é esse, eu pago. Pode ficar tranquila que até o final dessa semana eu vou embora da sua casa.

Estava decidida, não ia deixar ninguém mais mandar na minha vida e ia fazer o que tivesse que ser feito pra isso.
A tarde encontrei Luciana, contei tudo que havia acontecido.

- Caramba Renata e você vai sair da casa da sua mãe mesmo?
- Neguinho disse que vai me ajudar.
- Ain amiga, sei lá... Vocês só se falam por telefone, você nunca foi na visita, cê acha que um cara que nunca te viu pessoalmente vai dar uma casa pra você morar?
- Se você estiver certa amiga, de baixo da ponte será meu lugar!

Busquei o meu filho na escola, sentei perto do orelhão e nada do Neguinho ligar, decidi que tbm não ligaria. As horas passaram e comecei a pensar que tinha entrado na maior fria da minha vida, mas agora já estava feito e não adiantava nada chorar. Cansei de ficar esperando, chamei as crianças e entrei. Quando foi 7 hs da noite escutei Luciana me chamando no portão, já saí falando:

-Você tava certa amiga, tomei no cú, ele não vai me ajudar.
- Ele ligou lá na minha casa Renata, mandou eu te buscar, tem um amigo dele aí te esperando.
Sai com Luciana e fui até o carro onde o cara estava, ele abriu a porta, saiu pra fora e esticou a mão me cumprimentando.
- Tudo bem? A senhora que é a Renata? (Ele me chamava de senhora que nem os outros presos).
- Não precisa me chamar de senhora, vc é amigo do Neguinho?
- Neguinho é meu "irmão", ele pediu pra trazer umas coisas, um diretinho e uma merréca. Anota meu número aí se a senhora precisar, essa semana se pá te trago mais um troco.

Peguei o celular e o dinheiro, anotei o número dele na palma da mão com uma caneta que estava no carro, ele riu:

- Ô senhora, o celular tem agenda.
(fiquei meio sem graça, agradeci e ele foi embora).

Olhei pra Luciana comecei a rir, agora não tinha mais que ir no orelhão, agora eu tinha um celular.

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