Capítulo Final

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Eu gostaria de escrever pra vcs o final mais lindo que um conto pode ter, um final feliz. Mas infelizmente essa história não é fruto dos meus devaneios e sim um relato de uma parte da minha vida que eu jamais vou esquecer...
Quando comecei a escrever o "Visita Íntima" nunca imaginei que minha história pudesse mexer tanto com a imaginação e sentimentos de outras pessoas, procurei expressar através de palavras todos os meus sentimentos e chegar de uma maneira resumida o mais próximo de tudo que vivi.
Hoje compreendo que diferente do que eu pensava há 17 anos, o amor muitas vezes é renúncia e na maturidade dos meus quase 41, reconheço que Neguinho verdadeiramente me amou.
... O tempo foi passando e com o tempo Neguinho foi deixando de fazer parte da minha vida.
Meses depois do acontecido, liguei de um número restrito no celular dele e caiu direto na caixa postal, onde tinha uma mensagem com voz de Gisele dizendo assim:
"Neguinho eu te amo".
Liguei várias vezes só pra ter certeza que a voz era realmente dela e não me restou nenhuma dúvida.
Cinco anos depois, entrei num chat de celular, onde tinha um homem que dizia estar falando da "faculdade de Araraquara", pra quem não sabe, faculdade é como os presos chamam as Penitenciárias onde cumprem pena. Como ele pra conversar no privado e perguntei se ele conhecia Neguinho e ele me disse que sim.
Pedi pra ele me passar o contato, mas com medo e desconfiado, ele me disse que "não era fácil chegar nesses caras"
Então deixei meu número e pedi para ele entregar pro Neguinho, ele anotou e fiquei aguardando um retorno.
As duas da manhã, meu celular vibrou, olhei no visor e vi que o DDD era de Araraquara, atendi e era o tal preso me trazendo um recado:
- Alô senhora
- Oi, pode falar...
- Consegui chegar lá no Neguinho senhora, é embaçado falar com esses caras aqui dentro, sabia?
- Nossa, obrigada. Ele se lembrou de mim? Me mandou algum recado?
- Lembrou na hora, não precisei nem explicar, foi só falar o seu nome...
- Sérioo?
- Sim. Ele mandou te dar um recado... Eu posso falar?
- Claro!
- Ele disse assim:
"fala pra ela que é aquilo que eu falei com ela no telefone."
Quando ouvi isso, tentei difarçar, dizendo que não sabia do que se tratava, mas no meu íntimo, a voz de Neguinho ecoou na minha memória:
"Nunca mais me procure e nem me telefone... Eu amo vc e respeito seus filhos, mas se algum dia ele colocar as mãos em vc por minha causa, eu mato ele"
Me lembrei de tudo, vi aquele dia passar como um filme diante dos meus olhos, desliguei o celular sem ao menos agradecer e joguei aquele chip fora.
Nunca mais tive nenhuma notícia de Neguinho, nem encontrei alguém que pudesse me dizer como e onde ele está.
Na busca pelo nome dele, constam mais de 1.200 homônimos, tornando quase impossível de encontrar.
Guardei essas lembranças por anos, até decidir dividir com vcs os meus mais íntimos segredos, e agradeco a todas que vibraram comigo a cada capítulo, me fazendo viver novamente todas as emoções passadas.
Acredito que nessa vida nada acontece por acaso e que por maiores que sejam meus planos, os planos de Deus sempre serão melhores que os meus.
Segui minha vida, mas nunca esqueci, e o que pude fazer por nós, foi me tornar aquela mulher forte e independente que ele sempre disse que eu seria.
Escrevo essas últimas palavras, ouvindo a música que me faz lembrar Neguinho, o nome dela é Liberdade Sonhada do grupo Katinguelê.

A distância de um amor!
Não há amor, sem dor,
Não há sentimento sem renuncia,
Não a paixão, sem riscos,
Não há ninguém que exista
Sem amar,
Sem Amor,
Sem calor,
Sem dor,
Não há dias que não passem,
Não há tempo que desgaste
Aquilo que está em destaque
Um olhar, um sonhar, um pensar...
Não há despedida, sem um novo encontro,
Não há encontro, sem haver se despedido,
Mais a certeza é que não há fim
Por que seja pra onde vá, você está guardado em mim

(Valdirene de Souza Cavalcante)

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