Capítulo 34

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Chegou o fim de semana do dia dos pais, Neguinho me ligou perguntando se eu iria na visita, respondi que não sabia, dei uma desculpa de almoçar com meu pai, mas na verdade eu queria fazer uma surpresa, ia levar as crianças para passar o dia com ele.
Preparei tudo, mas me senti insegura de pegar a estrada com duas crianças, o trânsito costuma ficar mais intenso porque muitas pessoas viajam para visitar os seus pais nessa época.
Liguei para guia e reservei dois lugares e a noite segui pro metrô Carandirú de onde partiam as excursões.
Cheguei faltando pouco tempo para o ônibus partir, a Rafa e o Danilo foram comigo, notei que o meu ônibus estava estacionado um pouco mais a frente do que o habitual e segui segurando a Rafa nos braços e puxando o Dan pela mão.
De repente Danilo se soltou e correu em disparada, tomei um susto enorme e corri tentando segura- lo, ele se jogou nos braços de uma mulher... era minha ex sogra, a mãe de Rodrigo.
Ela abraçou Danilo chorando, me esticou sua sacola de plástico e pediu:
- Por favor, leve essas crianças para ver o meu filho.
Danilo quando ouviu aquilo começou a gritar:
- Eu quero ver meu pai, mãe... Eu quero ver meu pai... Por favor mamãe, por favorzinho... Me leva pra ver o meu papai.
- Danilo não chora, a gente vai ir ver o "tio".
- Não mãe! Eu te imploro minha mamãezinha linda, me leva pra ver meu pai, eu amo muito ele, eu quero ver o meu pai!
Meu mal, talvez foi sempre pensar nos meus filhos antes de mim...
Tentei convencer Danilo de todas as maneiras, mas no final foi ele quem me convenceu.
Só para vcs entenderem...
Naquele tempo as coisas estavam começando a se informatizar, então dava facilmente para entrar em mais de uma penitenciária e meu nome sempre esteve no holl de Rodrigo, eu que nunca pude ir por imposição da minha mãe e depois não fui porque conheci o Neguinho.
A carteirinha pra quem morava em outra cidade ou estado era permitido ser feita na hora, mesmo se não fizesse, era possível entrar na primeira visita sem carteirinha.
Eu não tinha carteirinha e não fiz, mas fui na visita e levei meus filhos para o pai poder ver, entrei apenas com RG e certidão de nascimento das crianças.
Outro detalhe, só os responsáveis pela criança podiam entrar com elas, por isso aquela velha desgraçada não podia levar eles por mim.
Ela estava indo visitar o filho e
quando cheguei na estação ela provavelmente me viu passando com as crianças e eu entretida com o ônibus não percebi qdo ela chamou Danilo.
Entrei no ônibus que ficava estacionado três pontos antes do meu, com a passagem que estava reservada para ela e segui para penitenciária onde Rodrigo cumpria pena.
Me senti mal a viagem inteira, tive náuseas e pressão alta.
Cheguei no presídio pela manhã e aquele era o lugar mais feio que já vi.
Entrei e qdo vi Rodrigo senti vontade de vômitar... Ele abraçou meus filhos, chorou e os outros presos deixaram que ele ficasse sozinho comigo na cela, nesse momento pensei que ele iria me matar.
Ele encostou em mim, tentou me abraçar, senti nojo, fiquei dura, tive vontade de sair correndo e comecei a chorar... Foi o dia mais horrível da minha vida.
Não tive vontade de beijar, abraçar, nada... Só sentia medo e por mais que ele insistisse, consegui sair de lá sem deixar que ele me tocasse.
Tenho certeza que esse dia foi péssimo para Rodrigo também e isso fez com que eu me sentisse ainda pior.
Não contei nada sobre estar visitando outro homem, tive medo, eu só rezava para que as horas passassem voando e eu pudesse retornar pra minha casa.
Meu filho ficou radiante, disse que eu era a mãe "mais melhor do mundo" e apesar de tudo que eu estava colocando em jogo, voltei pra casa com o sentimento de uma mãe que é capaz de abrir mão da própria felicidade, pela felicidade dos filhos.
Quando sai da penitenciária meu celular tinha 233 ligações não atendidas, todas de Neguinho.

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