As quatro e meia da tarde Luciana foi em casa saber porque eu não havia levado o Danilo na escola- Nossa, o que aconteceu com sua cara?!
- Minha mãe me bateu.Comecei a contar tudo para ela, que fazia uma cara assustada
- E agora, vc não vai mais ligar pra ele?
- Por enquanto não Lu, conversei com ele e pedi um tempo, expliquei minha situação
-E ele entendeu?
- No começo ficou bravo, queria até conversar com minha mãe, mas eu fui explicando tudo e no final ele entendeu.
- Ahh o Neguinho é gente boa e ele tá gostando de você, da pra perceber só pelo jeito que ele te trata.Tum! tum! tum! - Outra vez bateram na porta, fui atender:
-Oi, aqui mora a Renata?
- Sou eu mesma.
- Moça, tão ligando lá no orelhão pra uma tal de Renata, eu tava passando por lá e atendi, pediram o favor de chamar aqui nessa casa, disse que é um tal de Neguinho.Fiquei pálida, olhei pra Luciana, virei pro menino, agradeci e corri pro orelhão
- Alô Neguinho, eu ja não falei pra você não ligar mais aqui?
- Boa tarde pra vc também, dona Renata...
- Aih me desculpa, é que eu fiquei nervosa, falei pra vc não ligar.
- Aêe! eu não vou ficar sem falar com vc não, meu.
- Fala sério, vc tá querendo me ferrar? Se minha mãe descobre que eu tô falando com presidiário ela me joga na rua, tenho dois filhos pra criar!
- Se o seu problema é esse, então tá resolvido. Procura uma casa pra alugar, eu vou pagar.
- Deixa de ser doido. Não tenho como me manter não, já falei tenho duas crianças.
- Procura a casa e me fala, depois a gente vê o que faz.Desliguei e voltei pra casa, tinha deixado Luciana lá. Contei tudo que ele tinha me falado e ela respondeu:
- Ele tem dinheiro Renata, eu falei pra você, aproveita!
- Dinheiro onde? O cara tá preso!
- Tá preso mas não tá morto, fica vendo o que eu tô te falando, esse cara deve ter uma grana.Fiquei pensando no que Luciana me disse, ela entendia mais dessas coisas que eu, visitava o Wlad a mais tempo e eu nunca tinha pisado numa cadeia.
A semana passou se arrastando, minha mãe nem olhava na minha cara, no sábado cumpri o prometido, levei o Danilo pra dormir na casa da avó, fiquei só com a Rafa.
Passei na casa da Luciana, ela tinha ido ver o Wlad, queria saber se ela tinha visto o Neguinho e como estavam as coisas "lá dentro".- E aí Lu, como tá o Wlad?
- Gostoso como sempre! ( Risos)
- E o Neguinho, vc viu ele lá?
-Renata, Carandirú é grande, não dá pra gente ficar vendo os outros presos não.
- Queria saber como ele tá, tô morrendo de saudades...
- Liga lá pra ele, minha mãe colocou uma linha aqui em casa, é PABX, agora não vou mais no orelhão amiga, eu só ligo a cobrar daqui.Olhei o telefone na sala, meus olhos chegaram a brilhar.
- Nossa um telefone dentro de casa? Amiga eu quero ligar!
Luciana caiu na risada, telefone já não era mais coisa de rico, mas a ligação ainda custava muito dinheiro.
-Liga amiga, mas tem que ser a cobrar. Vc sabe o número de cor?
-Claro que sei - Pulei no sofá da sala e comecei a discar, ouvi a voz do outro lado:-Alô!
-Oi Neguinho, sou eu.
-Oi coração... Tá ligando de onde?
-Da casa da Luciana, agora ela tem telefone.
-Gata você fez o que eu te pedi?
-Vc tá falando da casa?
-É. Já arrumou um lugar pra morar?
- Fiz nada Neguinho, as coisas tão embaçadas pra mim. Com essa briga minha mãe não tá nem me olhando na cara e a fralda da Rafa acabando, não tenho como comprar.
- Vc tem uma conta?
- Conta onde? No bar?
- Não sei em que mundo vc vive... Conta no banco, né?
- Ahh pensei que era no bar, no banco eu não tenho não, nunca tive essas coisas.
- Documento você tem?
- Claro que tenho, não sou nenhuma indigente. Eu só não tenho conta no banco porque não tenho dinheiro pra guardar.
- Então pega seus documentos e segunda você vai no banco para abrir uma conta.
Vou te mandar um dinheiro pra ajudar você com suas coisas.
-Tá bom, vou desligar agora, tá?
- Um beijo no seu coração, fica em paz e cuidado aí fora.
- Um beijo no seu tambem, fica com Deus e cuidado aí dentro.Ele riu do que eu disse e falou:
- Aqui dentro eles não podem fazer nada comigo, aqui eles tem que cuidar de mim.
Desliguei feliz da vida e fui pra casa, segunda feira eu ia no banco, tinha que abrir uma conta.
No
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Visita Intima
عاطفيةEssa história aconteceu realmente e por mais que alguns detalhes possam parecer improváveis, acreditem, foi real. Aconteceu no ano de 2001, um ano antes da completa desativação do complexo carcerário do Carandiru em São Paulo, jamais eu poderia imag...