Capítulo 29

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Aos poucos as rebeliões pelos presídios foram se encerrando, a água e a luz tinham sido cortadas no dia anterior e chegou a ordem pra acabar.
Depois de uma noite daquelas, era hora de se despedir, junto com isso o medo e a insegurança de deixar eles ali dentro sozinhos, sabendo que iriam apanhar e com medo de acontecer o que havia acontecido em outubro de 92 ( massacre).
Quando saí já passava do meio dia , as câmeras de TV e reportagem filmaram a minha cara e de quase todas que saíram dali.
Fui embora de carona, as cunhadas e cunhados que foram comigo me levaram para o Jardim Brasil, longe pra caramba da minha casa.
Liguei pra Luciana e ela me disse que tinha levado meus filhos pra casa da minha mãe e que ela já sabia toda verdade, senti um frio percorrer minha espinha, eu sabia que minha mãe não deixaria barato.
Decidi que não voltaria pra casa aquele dia, o pessoal que estava comigo me convidou pra ficar e eu aceitei. O ritmo daquele pessoal era frenético, rolava bebida, drogas e muito samba, todo mundo fazia um corre e eu me senti em casa, me diverti como não fazia a anos, chapei de cerveja e só voltei pra casa na quarta.
Fui buscar meus filhos e minha mãe me deu um check mate:
- Ou eu voltava pra casa, ou ficava sem as crianças.
Chorei, briguei, gritei mas não teve jeito, ela mandou eu devolver a casa, pegar minhas coisas e meus filhos e voltar, caso não ela me denunciaria por abandono de incapaz.
Na verdade eu nunca havia abandonado meus filhos, tinha deixado eles com Luciana e dei dinheiro pra ela, não foi de graça, mas com a rebelião ela acabou levando eles pra minha mãe e contou onde eu estava.
Pedi pra minha mãe uma semana, fui na minha casa, distribui os meus móveis, peguei minhas roupas e voltei pro inferno daquela casa.
Planejei pegar os meus filhos e fugir, mas pro meu azar o Neguinho foi transferido:
- Bom dia cunhada
- Quem tá falando?
- É o parceiro do Neguinho aqui cunhada, o irmão pediu pra te avisar que ele foi de bonde
- Bonde pra onde? Porque ele não me avisou nada?
- Porque o bonde dele cantou as 5 da manhã cunhada, os caras tava na maior piolhagem com ele, esses puto do caralho!
- Ele foi pra onde?
- Não se preocupa que onde ele chegar ele te liga cunhada.
- Tá bom, obrigada. Se vc souber de qqr novidade me avisa.
- Vc vai continuar chegando com ele cunhada?
- Claro que vou
- Fico feliz por vcs, esse cara gosta de vc pra caralho cunhada, ele fala de vc direto.
- Eu também gosto muito dele.
Neguinho foi transferido dias depois da rebelião e não estava nem sabendo que eu tinha voltado pra casa, eu estava totalmente desamparada emocionalmente, mais uma vez fui assombrada pelo fantasma da depressão.

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