Capítulo VIII

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Quando o caminhão saiu fora da cidade na rodovia, Tiago foi dirigindo para o acostamento, sinalizando uma parada. Sol sentiu um frio atravessar seu corpo, quando o caminhão parou. Ela olhou para ele, não acreditando no que estava acontecendo, mas ele olhou fixo nos olhos dela vendo o medo, a tristeza e o desespero estampados naqueles olhos verdes, avermelhados de muitas lágrimas derramadas, anteriormente e disse pra ela:

— Agora, abra a porta!

Sol abriu receosa a porta do caminhão e sem entender o que estava acontecendo perguntou:

— O que foi que eu disse de errado? Se não ia me levar, deveria ter me deixado lá onde eu estava. Foi você que insistiu para eu vir. Qual é cara? Não basta de desgraça na minha vida, hoje? Que droga!

— Calma vou levar você, fica calma, mas essa tristeza, não! Meu caminhão não suporta uma carga tão pesada. Então jogue ela fora, deixe-a aqui na beira da estrada pra pegar carona com outro. Só quero levar você e este sorriso lindo que você tem. Vamos, jogue ela fora! Dê um pontapé nesta tristeza, um empurrão neste desespero e um pé na bunda deste medo, deixe tudo agora! E vai ver como este caminhão vai rodar leve e manso para uma vida nova. — disse Tiago acalmando-a.

Sol respirou fundo e sorriu, chutou o ar com força, como se chutasse todo o seu passado para longe, depois bateu a porta do caminhão com força e disse:

— Pronto! Podemos seguir então?

Tiago aumentou o volume do rádio e acelerou o caminhão, e começou a cantar a canção junto com rádio, ele insistiu tanto que Sol arriscou acompanhar os dois com o "Legião Urbana"

"Então me abraça forte

Me diz mais uma vez que já estamos

Distantes de tudo

Temos nosso próprio tempo

Temos nosso próprio tempo

Temos nosso próprio tempo..."

Os dois cantavam com tanta força que a vida se submetia as palavras da canção. E juntamente com aquele som toda a tristeza ia se desfazendo no ar. E assim, Sol via seu passado ficando para traz com as luzes da cidade, pelo retrovisor do caminhão.

Tiago era um homem de boa aparência, porém um pouco desleixado, normal para um caminhoneiro já a quase 10 anos na estrada. Estava sempre com barba para aparar e os cabelos fora do corte, escondido por um boné marrom cor de terra. Usava uma camisa xadrez nas cores branco, azul e vermelho, com detalhes em jeans e mangas bem curta para deixar os braços livres, mostrando propositalmente os músculos bem torneados. Ele ainda abotoava um botão a menos na camisa deixando à mostra o peitoral e uma medalha de proteção. A calça jeans apertava o suficiente para desenhar os músculos das pernas e cobria até a uma parte da bota de couro. Por causa deste estilo de camisa a pele estava sempre bem bronzeada nas partes expostas e no rosto, isso dava destaque aos olhos claros. E apesar de sua alegria contagiante, seu olhar era triste e profundo. Ele era um piadista nato ou talvez usasse a piada para esconder seus verdadeiros sentimentos. Tiago era casado, e sua mulher Melissa, apesar dos cinco anos de casamento não queria nem pensar na ideia de ter filhos. Vivia na academia e seu corpo era seu mundo. Loira oxigenada e corpão bem definido sua única preocupação com o marido na estrada era quando o dinheiro faltava. Principalmente, para pagar a mensalidade da faculdade onde cursava o terceiro ano de Educação Física. Tiago e Melissa se combinavam muito bem, no final de semana que eles passavam juntos preferiam ficar em casa ou passear na casa da mãe dela que ficava do outro lado da cidade. Melissa nunca reclamava de solidão, pois sua vida era bem agitada com faculdade, academia e amigos, desde que casou foi assim, porque Tiago já era caminhoneiro antes do casamento.

Os Fantasmas Da Sol    (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora