Capítulo XIII

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Depois da perda do bebê Melissa logo voltou a sua vida de antes, voltou para a faculdade e para a academia na companhia de seus amigos, porém Tiago não era mais um viajante, não era mais um caminhoneiro. Ele trabalhava o dia todo na oficina e quando chegava em casa, já no início da noite, Melissa já tinha saído para a faculdade, isso acontecia quase todos os dias. Os finais de semana eram sempre longos quando ficavam juntos. Melissa quando não ia para a casa da mãe, ou saía com amigas ou inventava fazer faxina, expulsando Tiago para fora de casa. Ela também estava na fase dos estágios e fora contratada para dar aulas na academia, assim sua vida passava paralela a vida de Tiago. Os momentos juntos eram sempre conflituosos ou silenciosos.

Um dia enquanto Tiago trabalhava em um caminhão, um velho amigo da estrada encostou seu caminhão na oficina:

— Ei irmão! Não acredito que você abandonou a estrada. Não acreditei quando me contaram e resolvi conferir, como foi que resolveu fazer isso?

— Ei, que bom te rever, faz tempo, cara! Pois é a história é longa. — respondeu Tiago abatido.

— Já tá tarde, vamos tomar uma cerveja e você me conta sobre isso. — sugeriu o amigo.

O convite agradou Tiago que chamou um funcionário e pediu:

— Caio, fecha tudo pra mim que vou indo e não volto mais hoje. Vou estar aqui do lado na lanchonete do posto, deixa a chave lá comigo, beleza?

Caio era um mecânico muito responsável e esforçado, sempre que Tiago precisava sair, sabia que podia contar com a competência de Caio. Durante toda a fase difícil Caio foi o grande apoio de Tiago. Ele tocou, por semanas, a oficina, praticamente sozinho, pois Tiago passava por lá em alguns momentos apenas. Todo aquele momento doloroso da gravidez de Melissa até a perda do bebe, também fez Tiago se afastar de seus amigos. Quando seu velho amigo apareceu ele sentiu uma grande alegria e prontamente aceitou o convite.

Lanchonete em pátio de posto com cerveja sobre a mesa é sempre um bom convite a amizade. Outros amigos apareceram por ali e a conversa seguiu animada até a noite, as garrafas vazias se acumularam sobre a mesa e os ânimos finalmente relaxados, entre uma conversa e outra Tiago contou para o amigo tudo que havia acontecido em sua vida nos últimos tempos. O amigo curioso então perguntou:

— Quando mesmo que aconteceu, que sua mulher perdeu o bebê?

— Então, foi um mês ou dois depois que voltamos de Goiás. — Tiago respondeu sem tomar nota do que estava dizendo.

— Ei, pera aí! Como assim, dois meses? A criança tinha três meses, e nós ficamos dois meses em Goiás, tem algo errado, meu amigo você está comendo gato por lebre? — O amigo disse com desconfiança.

— Ah, não ser que, você engravidou ela por telefone. — disse o outro amigo esfregando sua cabeça.

— Ah, vocês não sabem fazer conta nem quando estão são, imagina bêbados! — disfarçou Tiago com brincadeiras.

Depois que todos foram embora ficaram somente Tiago e o amigo mais antigo, que resolveu conversar sobre o mesmo assunto:

— Tigão, olha bem o que está fazendo da sua vida? Você deixou a estrada que tanto amava, uma paixão em erupção, tudo por causa da sua mulher. Agora olho pra você e vejo esta tristeza no olhar, você acha que valeu a pena? Pelo menos estão bem, você e ela? — Perguntou o amigo com sinceridade.

Aquela palavras tocaram fundo em Tiago, que respondeu rápido, como quem joga pra fora algo insuportável:

— Estamos bem? Hahahaha. Uma porcaria, acho que nem existe mais casamento, ela vive a vida dela e eu vivo a minha e nossa maior união são as contas que pago, só isso!

Os Fantasmas Da Sol    (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora