Capítulo XIV

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Era o primeiro dia de trabalho de Sol como garçonete na Boate Paradise, ela passou pelo salão renovou a cor negra dos cabelos, depois uma maquiagem bem forte, que a deixou quase irreconhecível. Apenas o verde dos olhos poderia entrega-la a algum conhecido de sua alma. Assim que ela se apresentou Lívia tomou a frente e disse:

— Eu sou Lívia, fiquei responsável por te ensinar como tudo funciona por aqui.

— Muito prazer Lívia! — respondeu Sol, meio acanhada.

Lívia era uma bela mulher de cabelos e olhos castanhos, tinha um ar de superioridade que gostava de expor aos estranhos, porém entre as moças da Boate ela era aquela que sempre resolvia qualquer situação. Apesar de ser mais que uma empregada para Edith, era como uma irmã, ela brigava com a patroa por causa das moças, mas também lutava pela Boate Paradise como se fosse a dona, por isso Edith sempre a ouvia em seus negócios.

Lívia passou todas as instruções para Sol e a levou para uma espécie de camarim onde elas vestiam o uniforme e retocavam a maquiagem. Ela percebeu o espanto de Sol quando ela apresentou-lhe o uniforme. Uma microssaia de pregas, com um top, meias e cinta liga:

— Este é meu uniforme também? Pensei que usaria uma roupa normal. — disse Sol meio constrangida.

— É, meu bem! Este é o uniforme de todas por aqui, você não reparou?

— Sim, mas como fui contratada para garçonete, não pensei que precisasse.

Lívia riu e respondeu:

— Devia ter questionado isso antes de assinar o contrato. Agora não tem jeito, tem que vestir.

— Tudo bem! Só achei estranho.

— Fica tranquila, você se acostuma rapidinho.

Os dias se passaram e realmente como Lívia havia dito, Sol se acostumou com aquele ambiente, logo aprendeu a fumar, e nos dias de folga as novas amizades a ensinaram que a bebida poderia ser uma ótima companheira para espantar os fantasmas do passado, que insistiam em aparecer nas noites de solidão. Sol não fazia programas, mas realizava muito bem seu trabalho de garçonete e incitava tanto os fregueses que a maioria acabavam gastando horrores na Boate e isso agradava cada dia mais, Edith.

Com este novo trabalho, as novas amizades ocupavam o tempo de Sol quase integralmente, dessa forma a casa e a família ficava sobre a responsabilidade de Lola, que depois de alguns dias que havia deixado o hospital, estava muito bem e mantinha o zelo por todos e pela casa com o maior carinho. Lola deixou os pais no interior e foi para a capital ainda adolescente com uma família amiga que prometeram dar oportunidade de estudo e uma vida melhor. No interior vivia com os pais e cinco irmãos. O pai alcoólatra gastava tudo com bebida, por isso estavam sempre passando necessidade. Como Lola era uma das irmãs mais velhas a mãe resolveu apostar nela para trabalhar em casa de família e ajuda-los com algum dinheiro. Porém logo que chegou na capital, Lola percebeu que o sonho não era compatível com a realidade. A família que a levou mandavam sim todos os meses algum dinheiro para sua família, no entanto, ela não pegava em um centavo sequer. A patroa dava a ela roupas e calçados usados ou que não a serviam mais e a comida. Quanto ao estudo ela dizia que Lola jamais conseguiria acompanhar os estudos da capital, e que ela não daria conta do serviço e estudo, sempre que Lola tocava no assunto ela dizia:

— Você precisa se acostumar melhor com a cidade e com o trabalho depois você estuda.

A patroa falava isso com tanta naturalidade que Lola acreditava e aceitava passivamente. A patroa de Lola trabalhava em um super mercado, inclusive aos domingos. Ela chegava à noite, sempre junto com o marido, pois os dois cumpriam os mesmos horários no trabalhos. Depois de um certo tempo que Lola estava morando com eles o super mercado despediu o marido da patroa, que assim que ficou desocupado passou a perseguí-la todos os dias e logo conseguiu consumar seu desejo de possuir Lola. A patroa logo percebeu que algo estava acontecendo e num dia ela saiu para o trabalho deixou o carro a alguns quarteirões e voltou a pé para casa, confirmando assim suas suspeitas. Encontrou o marido no quarto de Lola totalmente nu sobre ela. E o que aconteceu a seguir foi o óbvio, depois dela dar uma surra em Lola jogo-a na rua e fez as pazes com o marido. Depois deste dia Lola ficou pela sorte, as vezes morava na rua, as vezes morava em abrigos e perdeu totalmente o contato com a família, assim ela se tornou garota de programa no pátio do posto e finalmente, ela e Sol se encontraram para escreverem juntas uma nova história de suas vidas.

Os Fantasmas Da Sol    (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora