Capítulo XV

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Na primeira viagem que Tiago fez, depois do retorno para a antiga profissão, ele parou no posto da Capital apenas por algumas horas, comeu alguma coisa, descansou um pouco e tocou direto para o porto de Paranaguá. No outro dia ele descarregou e logo carregou novamente, no retorno ele não parou no posto, pois sentiu um grande vazio ao ver o pátio do posto e não ver Lola e nem Sol. Aliás, tudo estava tão mudado, não parecia mais o mesmo lugar. Na volta chegaram em Arapongas onde dormiriam em casa aquela e depois seguiriam para São Paulo de manhã.

Na segunda viagem, não teve jeito um problema no Porto causou filas imensas e atrasos na descarga de caminhões, isso obrigou Tiago e o amigo a ficarem parados no posto da Capital.

— É Tigão, não tem jeito o destino te obriga a ficar aqui! — disse o amigo assim que encostaram o caminhão.

— Pois é, da primeira vez eu achei que estava viajando pelo tempo e que quando chegasse aqui iria encontrar Sol aqui no pátio me esperando do mesmo jeito que deixei, a realidade doeu, quando enxerguei o posto e percebi que já não é mais o mesmo, olhei para minha vida e vi que já não sou o mesmo, com isso tenho que aceitar que ela também já não é mais a mesma, aquela menina perdida que olhava nos meus olhos como para um porto seguro e eu deixei pra trás.

— Ah, amigo, você tem que aceitar que ela não é mais a mesma, mas é melhor ser rejeitado de verdade do que viver sonhando com uma ilusão, você precisa ter coragem para conhecer a vida!

— Verdade, meu amigo, seja ela qual for.

Na manhã seguinte, os caminhões tomaram conta de todo o pátio do Posto, pelo que parecia a greve era grande e seria bem demorada. As rodinhas de amigos se formava no pátio, enquanto alguns se distraiam com baralhos, outros reclamavam da vida na estrada, outros ainda reclamavam do governo. Tiago parecia alheio a tudo isto, mas não era simplesmente por ter ficado fora da estrada, afinal ele conhecia a maioria dos caminhoneiros que estavam ali, alguns o procurava querendo saber sobre a vida dele e porque esteve fora da estrada por tanto tempo. Depois do almoço, Tiago resolveu sair e caminhar um pouco pelos arredores do posto, os pés sem direção caminhavam pelas ruas distraidamente, quando avistou o salão da Ju. Era o mesmo salão onde há alguns anos ele e Sol entraram juntos. Ele se aproximou e o salão estava vazio, com a porta entreaberta, ele bateu e Ju apareceu e disse:

— Moço, estamos fechados! Hoje estou apenas organizando as coisas por aqui, não tem atendimento hoje.

Quando ela se aproximou percebeu que conhecia aquele rosto:

— Você não me é estranho?

— Não se lembra de mim Ju? Sou o Tiago sempre passava por aqui para cortar o cabelo e fazer a barba, já faz tempo que não aparecia, faz tempo que parei de viajar e só agora estou voltando.

— Sim, eu me lembro de você. Você é aquele rapaz que trouxe a Sol aqui pela primeira vez. Entre! Vamos tomar um café!

Ela o convidou com tanta intimidade que Tiago ficou admirado, pois nem parecia que tinha se passado tanto tempo desde a última visita. Ela encostou a porta da frente e seguiu para a cozinha do salão, convidando Tiago para acompanha-la. Sentados em uma mesa redonda de quatro lugares eles conversaram animadamente por algum tempo, Tiago contou sobre o tempo que ficou fora das estrada, e tomando coragem perguntou:

— Você sabe da Sol, você sabe onde ela está? — As palavras surgiram involuntárias.

— Sim, ela vem aqui toda semana. — Respondeu ela com naturalidade.

Tiago sentiu seu corpo gelar por inteiro o estômago se contraiu e ele respirou fundo . Naquele momento, ele sentiu que a verdade estaria à sua frente. Suas mãos suavam e em sua boca um amargor que ia muito além do café, e a verdade começou a se descortinar em sua mente.

Os Fantasmas Da Sol    (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora