Cara de cachorro coitadinho

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Quem já teve dezenove anos, se apaixonou e não conseguiu prestar a atenção em nada à sua volta, faz que sim com a cabeça! 

Haha. Eu estava bem assim durante a aula enquanto tentava me concentrar no...  no que mesmo?

O preço da mensalidade era o mesmo se eu aproveitasse ou não o conteúdo programático. Sendo virginiano eu deveria estar me cobrando um desempenho decente especialmente em metodologia científica. Só que se eu levasse uma bronca da minha mãe, certamente me acharia na razão. Eu já tinha dezenove e jogaria na sua cara que ela parou de estudar quando começou a trabalhar muito cedo e não entendia o que era fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Pobre mulher.

Ela sempre comentava sobre a gravidez precoce, quando tinha seus dezesseis anos, de um cara com quase trinta e cheio de complicações. Teve dois filhos antes dos vinte e viveu para nós, para trabalhar e nos vestir, educar e alimentar. Esperou que eu ficasse adolescente antes de colocar o primeiro homem dentro de casa e até hoje agradeço por ter sido o Rogério. Não que fomos amigos desde sempre, pois eu já o odiei muito quando ele quis dar seus pitacos na minha vida.

Viúvo, pai de duas mulheres maravilhosas, ele sempre foi um bom homem pra minha mãe, que não teve um só namorado que prestasse antes desse cara.


Gente, eu queria beijar na boca mais tarde, então me desculpa porque no momento chega de falar da família. Deixa os dois vendo o Programa do Ratinho ou Luciana by Night em casa, que eu tô saindo na troca de professores.

Eu ligo e ele diz naquela calmaria:

Péra só um pouco que furou o pneu e meu amigo tá fazendo um remendo. Não fica fora do portão da faculdade que é perigoso.

Aiai, essa fofura que mata um.

Fiquei sentado num banco no bloco das Exatas. Ele que me ligou pra avisar onde parou com a moto, porque o campus é gigantesco e até achar a saída do labirinto, dependendo de onde a pessoa combina de esperar, vai tempo.

— Hoje tá friozão. — ele comenta percebendo que estou com uma jaqueta grossa e sorri outra vez. Será que conto que ele fica mais sensual ainda quando tira o capacete e os cabelos ficam despenteados um pouco pra cada lado?

— Teu cabelo tá uma bagunça. — dou risada quando ele passa a mão trazendo pra frente, estilo Nerso da Capitinga. — Coloca pro lado, aqui ó.

Eu ajeito pro lado, mas como é do tipo liso volumoso, não ajuda muito. Aiai, Rony Weasley da minha vida.

— A gente vai lá no morro né?

— Vamo seu afobado. E só três beijos.

— Então só vou te beijar lá que é pra aproveitar bem cada beijo.

Quando ele arranca com a moto, me seguro em sua cintura e procuro não pensar na minha família ou na dele. Não penso no fato de estar perdendo uma aula importante e que ainda poderemos ser descobertos dentro da empresa. Ou nos amigos dele que certamente vão se afastar. A gente sabe bem como são as coisas.

Ele toma uma direção diferente, não sobe o mesmo morro, óbvio, mas um ainda mais íngreme e isso faz meu coração quase saltar de tão forte que bate. Antônio segura minha mão pela primeira vez, para a moto num lugar meio isolado e me chama para sentarmos num ponto de ônibus que tem por ali.

— Pensei em te levar lá na baia. Mas entrou um gato e mijou no tapete. (baia é casa)

Eu rio um tanto nervoso. Não sei se é intencional ele me trazer pra esses lugares com cara de perigosos ou ele não tem medo de nada.

Amor VirginianoOnde histórias criam vida. Descubra agora