A história triste da orquídea

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Pra relaxar um pouco e sair debaixo da asa da família, eu resolvi fazer uma pequena loucura naquele final de semana por vir. 

Depois do cinema de sexta-feira, que eu não ia perder por nada, aviso minha mãe que vou para Itajaí visitar a mana e que o Antônio vai junto. Ela suspira um "aiai" como quem pensa: "não falo mais nada". 

Não teve nenhuma confusão, porque coloquei na roda o nome da Alessandra e sacumé... minha mãe ficou emotiva.

— Já foram dois Dia das Mães que ela não me ligou. Três anos que ela não me liga na verdade...

— É, só que eu tava aqui e escutei a briga toda. Foi super pesado o que a senhora disse. Eu acho que faria o mesmo — minhas palavras também foram duras naquele momento, mas o que ela disse marcou o coração da minha irmã pra sempre. E a mim também. 

Dona Vânia já viveu muito mais pela opinião alheia no passado. Ali por 2014, devagar ela tentava pelo menos respeitar seu filho que ainda morava em casa. De repente, ela começou a chorar e disse que Deus lhe deu dois filhos com o "defeito" que nunca imaginou que um filho seu poderia ter, pois ambos fomos criados dentro de uma religião mais rígida, mas depois de falar defeito, ela diz que isso nem é defeito porque não parece uma escolha e sim, algo que vem dentro de nós e se manifesta em algum momento. Eu percebo que pra ela ainda é difícil e suas palavras simples me tocam.

— A Alessandra é só três anos mais velha que tu, é uma menina ainda, eu não tenho palavras pra mensurar o tamanho da culpa que eu sinto por ter falado aquilo, pelos tapas que eu dei na cara da minha filha e o pior, eu disse que ela era um lixo.

— Foi horrível, não tem como eu amenizar pra senhora. — desculpem, mas sou bem sincero.

— Eu sei bem. Mas um dia, eu espero que ela me perdoe, nem que seja no fim da minha vida porque eu mereço viver com a consciência pesada...

— Ah, também não exagera. A Lelê não é nenhum bicho, ela não fez nada de errado e o erro tava só na sua cabeça feita por pessoas de dentro da igreja. Nem o pastor Alcides, que pregou anos onde a gente ia, falava sobre essas coisas de gay e abominação. Era sempre aquela meia dúzia de "amigos" que te perturbavam até que você brigou com a Alessandra. Agora vê se alguém tá preocupado com seu sofrimento. Não tem ninguém.

— Meu Deus... eu oro todas as noite pra ela. Oro para que ela seja abençoada nos estudos, no trabalho e até em casa. Mas não consigo olhar para aquela velha que mora com ela.

— A Vanda é companheira da sua filha. É mais velha que ela, bem mais velha, mas é a melhor pessoa que a senhora poderia conhecer. Ela gosta e faz bem pra sua filha, cuida dela como mulher, amiga e mãe. Merece respeito.

— Ela é mais velha que eu?

— É sim. Mas e daí? Eu amo aquelas duas. Mais de uma vez, elas me disseram que se eu for expulso daqui, tem um quarto vago na casa delas. Inclusive a Lelê não cansa de me convidar pra morar lá, só não fui por sua causa.

Eu falei o que precisava. Ela chorou muito naqueles momentos antes de ir para o culto, sim porque eu acordei cedo só para avisar que quando ela voltasse ao meio dia, eu estaria fora.

No fim ela nem foi à Igreja e o Rogério achou que tínhamos brigado.

— Na verdade ninguém brigou — ela explica — acho que estamos começando a nos entender de verdade. Eu sei que não é fácil. Tenho a cabeça feita, só que meus filhos são uma riqueza e eu não consegui perceber antes...

Amor VirginianoOnde histórias criam vida. Descubra agora