ABRIL, 08. 2015.

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Praticamente duas semanas havia corrido por entre seus olhos, e ela continuava a voltar para aquela mesma mensagem que Marcus havia lhe deixado.

M: Tenho que fazer um trabalho. Estou fora de Berlim. Voltarei próxima semana.

Toda noite, adormecia de exaustão, com os olhos vermelhos de insônia.

Ela guardava os sentimentos de impotência e de dúvida em bolsos velhos, gavetas mofadas e grandes caixas com suas memórias de outra terra. E pretendia que não pensava sobre que, talvez, ele tenha a deixado novamente.

A dúvida em suas entranhas a deixada nauseada, alguns dias. Escancarava a boca esperando vomitar todas as palavras que a angustiava. Ela sequer sentia fome, a visão de comida a fazia querer se encolher em cantos escuros. Uma vez, dentro de um ônibus lotado, ela se desequilibrou e o mundo rodou por segundos terríveis. O barulho do trânsito ia ficando cada vez mais distante, até que Selena percebesse a fraqueza de suas pernas oscilando em direção ao chão. Alguém a ofereceu um assento, e ela respirou fundo várias vezes com o rosto colado à janela, a pele pinicando; o seu corpo inteiro clamava por espaço.

Ela pensou, então, o pior dos pensamentos: estaria grávida?

Não, não, não. Isso não poderia estar acontecendo!

Ela tinha uma vida e um futuro muito bem planejado! Terminaria seu curso em dois anos. Em sete, conquistaria os títulos de mestre e de doutora. Ela seria uma cientista com prêmios e reconhecimento internacional. Uma professora que inspiraria garotas a seguirem seus sonhos.

Ela não arruinaria tudo isso por um bebê.

Na segunda, Selena encarou o pacote de teste de gravidez por tanto tempo...

– Você precisa de algo, moça?

– Não... Obrigada. – Ela correu para fora da farmácia antes que pudesse dizer "obrigada".


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Selena finalmente sangrou.

Acordou quarta-feira sentindo as pernas molhadas e um cheiro metálico no ar. Ela afastou os lençóis e deu de cara com uma cena de crime hediondo.

Tossiu e sentiu o gosto azedo do vômito subir pela garganta. Ela correu para o banheiro, deixando um rastro de sangue para trás. Caiu de joelhos no azulejo frio e vomitou o jantar da noite anterior na privada. Tinha certeza que não havia comido tanto, mas não conseguia parar o fluxo de líquido pastoso para fora da sua boca. Quando finalmente conseguiu respirar, limpou a boca com a mão e reclinou a cabeça na parede, esperando que o mundo parasse de mover em ângulos perigosos. Ela podia sentir o suor frio em suas costas, o gosto de bile na boca, as lágrimas nos olhos.

Com dificuldade, ergueu-se apoiando uma mão na pia, retirou as roupas sujas e jogou-as dentro da pia. Entrou no chuveiro com as pernas trêmulas.

Estava se sentindo terrível.

Quando terminou de se lavar, enrolou a toalha entre as pernas, tentou lavar um pouco do sangue nas roupas e voltou andando na ponta dos pés para o seu quarto.

Havia sangue no chão e nos seus lençóis. Ela queria queimar tudo.

Contudo, ela não estava grávida.

O sorriso nos seus olhos não alcançou os lábios.


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Eu sei que vocês duvidaram de mim! Até eu duvidei que realmente conseguiria editar e postar hoje. Mas é aquele ditado né: bora fazendo. 

Quinta tem novo capítulo, e ele tá babadeiro. Com direito a drama, revelações e reviravoltas! Para quem gosta daquele gostinho de ansiedade, eu tô pensando em lançar alguns trechos dos próximos capítulos no feed. O que vocês acham? Nada a ver? Posto sim?

A SIDE: SELENA // Under Your Skin //Onde histórias criam vida. Descubra agora