Março, 01. 2015.

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A bala acertou a bolota vermelha pela segunda vez. Apesar de Marcus não parecer impressionado, Selena mantinha-se contente. Em parte por aprender a como controlar a sua mira terrível, em parte por causa dos beijos da noite anterior.

Após o treino, eles comeram em silêncio, arrumaram os lençóis retorcidos, juntaram seus pertences e partiram.

Os braços de Selena ainda latejavam, e não havia espaço suficiente para abri-los dentro do carro.

Tudo o que ela queria era chegar em casa, tomar um banho quente e dormir por vinte horas seguidas. O sono pesava em seus olhos. Mais de uma vez, pegou-se a cabeça vacilando para o lado, os olhos abrindo-se rápidos de mais, num susto por não ter percebido quando começara a cochilar.

Selena aumentou o volume da música, na esperança que o barulho lhe mantivesse acordada.

Minutos depois, ela tinha a cabeça escorada no vidro.

Marcus diminuiu o volume e murmurou:

- O que você quer saber?

Ela piscou diversas vezes, lutando contra o sono, antes de perceber que Marcus havia começado um assunto.

Esta seria uma primeira vez.

- O que? - A mulher bocejou e esfregou os olhos.

- Você disse que gostaria de saber sobre o meu passado... - O suspiro dele não denunciou felicidade. - Que parte?

Selena balançou a cabeça, ainda distraída. Apesar do cansaço e da confusão, havia algo que ela precisava saber.

- Você sabe... Conte-me sobre Adelaide. Ela deve ter sido muito linda para merecer seu coração.

Se ele não parecia particularmente contente, agora ele ficaria ainda mais irritado pelo pedido dela. Contudo, foi ele quem se propôs a falar!

Ela precisava saber sobre essa garota que havia possuído o coração dele. Saber o que aconteceu, como ela fez para conquistá-lo para além da razão.

- Ela era linda, sim.

Selena mordeu o lábio para evitar a pergunta seguinte. Ela era mais bonita do que eu?

- Como ela era? Como vocês se conheceram?

- Eu a conheci numa festa. Era mil oitocentos e sessenta e alguma coisa. Ela tinha três irmãs, e era a filha de um comerciante português em ascensão. Ela era a terceira filha, o que significava que ninguém esperava que ela tivesse um bom casamento como o de suas irmãs, nem fosse tão bem educada como suas irmãs, nem tão mimada e amada como a sua irmã mais nova. Todos os privilégios foram para as primeiras filhas. Ela era apenas a terceira filha que ninguém lembrava o nome. Por causa disso, ela aproveitava o seu tempo para frequentar um círculo de artistas e cultos boêmios que causavam grande polêmica na época. Ela dizia que o fazia para causar ira em seus pais. Mas ela era inteligente, tinha uma língua afiada e nunca perdia uma boa piada. Ela era uma grande fã de Byron.

Marcus apertou o volante. Sua mão estava pálida com o esforço de, talvez, não quebrar o objeto. Ele continuou a falar.

- Ela estava na Espanha, visitando parentes quando nos conhecemos. - A pausa dele alongou-se pela estrada deserta. - Sim, ela era linda. E foi isso o que me atraiu quando a vi pela primeira vez. Ela parecia inocente como uma cobra enrolada nos espinhos da rosa. Eu a desejava com uma voracidade que ainda não havia reconhecido em mim. Eu a amei, admito. Foi ela quem me introduziu às grandes obras literárias, quem me ensinou-me a degustar vinhos, a dançar e a falar como um membro da alta sociedade. Nós conversávamos sobre arte, sobre ciência, sobre magia, sobre todas as coisas pequenas e grandes daquele mundo. E eu amava ainda mais por ela ser inatingível. Seria impossível para nós estarmos juntos. - Ele virou o rosto, desviando sua atenção da estrada por um instante. Selena não conseguiu o encarar, não quando ele falava sobre a mulher com que desejara se casar. - Às vezes, eu olho para você e tudo o que eu consigo me lembrar é dela. Vocês são tão parecidas...

A SIDE: SELENA // Under Your Skin //Onde histórias criam vida. Descubra agora