ABRIL, 15. 2015.

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Selena! O nome que o sonho colocou na boca do menino.

Ela segurou na mão das outras crianças e, juntas, elas giraram mais rápido do que a rota das nuvens. Todas caíram rindo no chão. Selena apoiou suas mãos pequenas, caindo de joelhos, gargalhando tanto que poderia sufocar. Ela não podia ver a cor das suas próprias mãos, mas ela podia ver a cor dos olhos da menina. Eles eram verdes brilhantes.

A menina tinha o rosto de Selena, ou rosto que Selena julgava ter aos cinco anos. Elas tinham o mesmo cabelo fino e o mesmo sorriso fácil.

Por um instante, Selena não sabia quem era. Aquela que estava olhando ou aquela que era olhada?

A menina não parava de a encarar. E Selena viu o sorriso dela transformar-se numa caricatura de sangue. Ou talvez, o seu próprio sorriso havia sido cortado por navalhas, e Selena sangrava pela boca e pelos olhos.

O menino estava gritando, um gigante de rosto desformado estava o segurando, a cabeça dele tampava o sol. Selena precisou levantar a cabeça para ver os últimos tons de azul se dissolverem em cinza escuro, as nuvens virando um sinal de fumaça. O menino estava pedindo por algo, socorro, ajuda, pare!

O gigante virou-se, levando-o.

Selena ergueu a mão como se pudesse impedi-lo, mas o gigante desapareceu atrás da fumaça. Tudo estava cinza pesado. E mesmo os olhos brilhantes da menina estavam se apagando na escuridão. Selena ergueu-se em pernas trêmulas e começou a correr, mas havia apenas uma escuridão terrível que nada lhe revelava.

Acordou suando frio, chutando as cobertas para longe do seu corpo. Levou as mãos ao rosto e percebeu que elas voltaram molhadas, ela estava chorando como uma criança que acorda de um sonho ruim.

Não era mais uma criança!

Enxugou as lágrimas nas costas das mãos e virou-se para Marcus. Ele estava tão quieto quanto havia estado todo o dia.

Selena pegou o celular e encarou a hora. Nove horas da manhã. Bufou. Mesmo se quisesse ir à aula, não tinha roupas para usar.

Escreveu uma mensagem para uma colega do seu laboratório explicando que não poderia ir à tarde.

Ela ergueu-se da cama para fazer as suas necessidades diárias, lavou o rosto e caminhou à cozinha.

Lucy finalmente estava acordada. Ela conversava com Lionel num tom que escapava à Selena. Ela decidiu que não era seu assunto, então começou a revirar a geladeira.

– Vocês querem omelete?

– Nós já comemos, obrigada – disse Lucy sem se virar.

Selena cozinhou o seu omelete e preparou bastante café para o resto do dia. Comeu em pé na cozinha, encarando o céu de Berlim além das grandes janelas. Ainda estava cinza, mas havia uma pequena faixa em que as nuvens haviam escapulido para os lados e a luz do sol entrava para iluminar a cidade. Mais algumas semanas, e a chuva daria espaço para o sol do verão.

Lucy aproximou-se com um sorriso pequeno.

– Desculpa por ter caído no sono. Eu não deveria ter a deixado sozinha com Marcus, mas eu estava tão cansada. E pensei que ele não fosse ser grande ameaça, ele mal consegue se manter em pé.

– Tudo bem. – Selena assoprou o seu café, mesmo que ele já não estivesse mais tão quente. – Ele vai melhorar?

– Sim. Você deu a segunda dose, não é? – Selena acenou. – Tudo ficará bem, Marcus só precisa descansar. O seu corpo tentou lutar contra o veneno por muito tempo, provavelmente por uma semana antes de ele conseguir escapar. É um milagre ele estar vivo – Lucy abaixou os olhos para os seus pés, mas Selena não perdeu o brilho triste acumulado nas laterais de seus olhos. – Eu acho que ele já está acostumado... A situações de quase morte – deu de ombros.

A SIDE: SELENA // Under Your Skin //Onde histórias criam vida. Descubra agora