FEVEREIRO, 21. 2015.

89 12 1
                                    

As mãos tremiam com a frieza da arma em suas mãos, apesar de protegidas por uma camada de luvas grossas. O peso do metal parecia afundar Selena no chão.

Ela piscou os olhos, incerta sobre onde estava. Por isso, precisou repetir para si mesma, com lábios que se moviam tímidos, nervosos, sussurrando palavras que nem mesmo Marcus poderia escutar.

Eles não estavam mais em Berlim, isso era certo. Marcus havia dirigido por cerca de três horas, entre estradas vigiadas por gigantes troncos, seus galhos desnudos de flora alargavam-se sob o céu como mãos pegajosas, tentando capturar os carros que se atreviam a passar por debaixo delas.

Foi quieta, a viagem. A melodia de algum rap alemão havia sido o pano de fundo para os sonhos de Selena durante o trajeto. Ela havia pensando que Marcus ficaria chateado por ter que viajar em silêncio, com uma passageira dorminhoca ao seu lado. Contudo, era Marcus... Ele estava confortável em seu silêncio.

Eles terminaram numa enorme casa feita de concreto sólido, com paredes elevadas em ângulos retos e crus.

– É a casa de um amigo. – Marcus havia dito.

Ele continua a usar tal título, amigo; contudo, Selena nunca o havia visto com alguém que merecesse determinada honraria.

Que tipo de amizade seres imortais cultivavam?

Eles comemoravam aniversários?

Eles celebravam? O que eles celebravam? Certamente não a passagem dos anos...

A curiosidade dela era infinita.

As perguntas foram colocadas num depósito para serem lembradas mais tarde. Selena o ajudara a carregar os alimentos e as malas para dentro da casa.

Por dentro, a casa era um reflexo da parte exterior – sóbria, cinza, crua. Mesmo a luz amarelada que iluminava os cômodos tinha uma textura porosa, penetrando na pele para desaparecer nela. Era uma luz fria numa casa fria. Selena não gostaria de morar ali. A única beleza da casa era a vista proporcionada por amplas janelas que dominavam a parede ao leste – uma floresta cercava a casa, escondendo-a do mundo.

Selena havia conseguido espiar o quarto onde dormiriam: uma suíte com uma grande cama de casal no centro do ambiente, uma única luminária metálica sobre um banco de couro preto, um guarda-roupas embutido no concreto, uma lareira de pedra cinza e uma estreita porta que se abria para um banheiro modesto (se comparado ao do apartamento de Marcus).

– Você poderá julgar a casa mais tarde. – Marcus havia a levado por uma escada estreita. Eles giraram até Selena ficar tonta. A escada terminara de frente a um corredor parcamente iluminado. Debaixo da terra, a casa era ainda mais fria e lúgubre.

Selena andara praticamente grudada às costas de Marcus, por medo de perder-se naquele lugar e por temer as coisas que poderiam se esconder na escuridão do desconhecido.

Quando Marcus finalmente entrara num pequeno quarto e acendeu uma luz forte, Selena liberara o ar que tinha ficado preso nas entranhas do seu medo. Nesse cômodo havia apenas dois armários metálicos, finos e compridos, e um banco vermelho, a única cor vibrante que havia visto na casa até então.

Marcus remexera nos armários sem pudor nem hesitação. A certeza com a qual havia se movido indicava que ele já havia estado ali algumas vezes.

Ele jogara um par de luvas para ela, um óculos ridiculamente grande e protetores de ouvido. Ele vestira seus próprios protetores, antes de abrir o segundo armário e retirar um pacote enrolado por grossos panos. Marcus arrancara os panos num único movimento indelicado, oferecendo-a a visão do metal retorcido em arma. Era um revólver, brilhante. Selena perdera o movimento, e, quando olhara novamente, Marcus segurava balas na mão. Ela nunca havia visto uma bala. O formato era obsceno.

A SIDE: SELENA // Under Your Skin //Onde histórias criam vida. Descubra agora