ABRIL, 10. 2015.

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Mesmo com a chuva fria que banhava a cidade, Selena sentia que seus ossos queimavam. O ventre e as costas doíam, independente da quantidade de remédio que ingerisse.

Ela estava enrolada na sua cama, com os olhos apertados com força, mordendo a palma da mão para calar os murmúrios de outras dores. Havia um livro esquecido ao seu lado, ainda aberto com uma fita rosa marcando a última página que havia conseguido terminar de ler. Ela havia desistido do feito minutos atrás; agora, conseguia somente se sentir miserável.

Ela caiu no sono pouco tempo depois.

E acordou com o som de batidas estridentes, algo como uma baleia tentando quebrar a camada de gelo para imergir e capturar ar. Ela acordou-se assustada, saindo dos seus sonhos rápido demais.

Ela ergueu-se da cama, confusa, piscando os olhos repetidas vezes.

A sua visão finalmente focou-se no rosto de Marcus, parado na pequena sacada do seu quarto.

Estaria ela num sonho dentro de um sonho?

Não, o calor escaldante dentro do seu corpo era real demais.

Marcus tinha uma expressão estranha no rosto – confusão, desejo.

Ela sentia o mesmo. Por isso, apressou-se para abrir as portas para o seu quarto.

O homem não deu um passo em sua direção.

Agora que estavam um de frente ao outro, Selena começou a perceber os pequenos detalhes que indiciavam que algo estava errado.

Suas roupas estavam rasgadas e sujas, de terra e de vermelho da cor de sangue seco. Ele vestia um casaco que não era exatamente seu número, seus pés estavam descalços no piso molhado e suas mãos estavam fechadas em punhos com uma força que parecia querer esmagar seus próprios ossos. E pior que isto era a ponta da faca em seus olhos, um desejo perigoso que ela havia aprendido a reconhecer nos homens.

Por um segundo, ela estava respirando rápido demais. Pega na sua indecisão: deveria aproximar-se ou fugir do leão?

Antes que ela pudesse se mover, Marcus fez a escolha por ela. As mãos dele fecharam-se nos braços dela.

Ele contraiu o nariz, respirando o cheiro dela como um animal raivoso.

Algora estava terrivelmente errado.

– Marcus – murmurou ela.

Tentou dar um passo curto para trás, para ganhar algum espaço. Porém, ele a manteve firme no lugar.

– Você está me machucando.

Ela puxou os braços. O aperto dele não cedeu. Pelo contrário, ele decidiu trazê-la para mais perto.

Descalça, com os braços e as pernas nuas sob a chuva gelada, ela tremeu. Mas a razão pouco tinha a ver com a temperatura.

Certa vez, Selena havia dito que não poderia temê-lo. Contudo, quando Marcus abaixou o rosto e esfregou o nariz no pescoço dela, ela estava apavorada.

Quando ele abriu a boca para devorá-la, ela sentiu o hálito congelante dele. Ele lambeu a pele exposta.

Ela teve certeza que teria caído se ele não tivesse a segurando com tanta força. Ela sentia-se como um boneco inflável perdendo ar.

A memória de outras bocas em sua pele ainda estavam vivas, presentes, como uma segunda pele colada sobre a sua. E ela não conseguia pensar, congelada que estava em seu pavor, que seria violada novamente. Desta vez, pelo homem que mais confiava.

Subitamente, como se tivesse lido seus pensamentos mais sombrios, ele a empurro para longe.

Selena caiu, mas logo buscou apoio para erguer-se.

A SIDE: SELENA // Under Your Skin //Onde histórias criam vida. Descubra agora