Poliana
Por um momento eu achei que fosse sonho, mas não. Nós estávamos ali, parados nos olhando com brilho nos olhos depois de um beijo. Na verdade, vários.
O João parecia estar estupidamente feliz, pois sorria sem dizer uma palavra. Eu não sabia como estava minha feição, mas também estava feliz.
— uau. — ele falou por fim.
— é... Uau mesmo.
— tu tá bem?
— vou ficar. — abri um sorriso pra ele. — sinceramente, acho melhor voltarmos pra sala de aula.
— tá de brincadeira né? — ele me olhou indignado. — como que tu estraga esse momento desse jeito?
— momento? — dei uma risadinha.
— claro! Quando que tu vai tomar uma coragem dessas de novo pra me beijar? Isso é coisa rara demais. Tenho que desfrutar das oportunidades que a vida me dá o máximo que puder...
— como assim? — ele me fitou por alguns segundos e sorriu maliciosamente.
Sem dizer mais nada, ele respondeu minha pergunta me puxando para ele, e voltou a me beijar. Dessa vez ele me beijou de uma maneira mais calma, mas ainda assim eu sentia que era algo novo.
Ficamos ali por alguns minutos até ouvirmos o sinal tocar.
— tá legal, tá legal. Agora é sério! Temos que voltar. — eu disse virando o rosto pra ele parar de me beijar.
— nossa. Tu sabe mesmo como ser estraga prazeres.
Arqueei as sobrancelhas e ele deu uma risada.
— tá bom. Vamos voltar.
— mas vai você primeiro. Assim ninguém desconfia de nada...
Ele me olhou sério mas pelo jeito compreendeu o recado. Então ele deu uma risadinha irônica, fez que sim com a cabeça e saiu da sala, me deixando ali sozinha e toda desconcertada.
Não voltei de imediato pra sala. Fiquei ali algum tempinho pra processar o que tinha acabado de acontecer.
Alguns dias atrás eu achava que o João tinha me esquecido e que nós nunca voltaríamos a nos falar, e agora, eu fico tentando não corar lembrando do fato de que quase tirei a camisa dele num momento que estávamos nos pegando numa sala vazia e escondidos... Como eu fui tão longe? Como fui capaz de ser tão ousada?
Talvez eu estivesse louca de vontade de beijá-lo novamente, talvez estivesse morrendo de saudades que nem pensei em como agir.
De qualquer forma, aconteceu. E esse era mais um segredo que eu precisava guardar.
Será que ia acontecer de novo? Será que o João iria querer ficar comigo outra vez? Eu não sabia, mas não parava de pensar sobre isso.
Voltei pra sala sentindo minhas bochechas queimarem.
— Poliana! Você tá bem? Me desculpa, amiga!!! — a Kessya veio correndo na minha direção desesperada.
— tudo bem. Vocês já pararam de brigar?
— claro que sim! Desculpa mesmo. Você não merecia aquilo.
— tá tudo bem, sério. — eu dei um sorriso sem jeito pra ela e ela cerrou os olhos como se estivesse tentando enxergar além de mim.
— mas... O que aconteceu com você, dona Poliana?! — ela disse num tom sarcástico.
— na... Nada ué. — eu desviei os olhos dela.
— aham! Sei. Te conheço, garota!
— esquece isso. Cadê o Luigi?
— não importa. O que aconteceu lá fora? — ela ignorou completamente minha pergunta.
— já disse que não aconteceu nada, menina!
— e o que é esse roxo no seu pescoço?
Paralisei. Senti meu estômago dar um nó.
— ficou muda agora? — ela disse ainda num tom sarcástico.
— eu... Você... Ah você tá viajando.
— quem te deu esse chupão, Poliana? — ela começou a rir e a se animar, ainda me intimidando.
— quê? Kessya!
— foi o João? — os olhos dela brilharam ao fazer essa pergunta e ela se animou ainda mais.
— para com isso! — ela continuou rindo.
— tá bom. Não vou forçar a barra. Se não quer me falar, não fala.
— obrigada! — eu disse firme.
Nós sentamos nos nossos lugares e a aula seguiu.
No final da aula, percebi que o João ia saindo da sala pra ir embora quando me olhou. Ele sorriu e deu uma piscada, e foi embora. Meu coração acelerou na mesma hora.
Ia colocando minhas canetas no estojo, quando vi mais um papel lá dentro. Abri o papel e li o que estava escrito.
”acho que tem alguma coisa no seu pescoço, beijoqueira."
Minhas bochechas voltaram a pegar fogo. Guardei o papel o mais rápido que pude e saí da sala. Comecei a imaginar uma infinidade de desculpas que eu ia dar pra tia Luiza a respeito desse roxo no meu pescoço... Será que se eu dissesse que um vampiro me atacou, ela acreditaria?
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joliana vol. 2
RomanceSegunda parte da história de João e Poliana. "O tempo trouxe as mudanças". {CONCLUÍDA}