Garotas Discretas

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Poliana

Eu pensei que se talvez passar base por cima do roxo ia conseguir disfarçar um pouco. Foi o que fiz. Assim que guardei os materiais e o bilhete, corri pro banheiro para poder dar um jeito naquilo.

Não demorei muito, pra não deixar o Antônio com nenhuma suspeita. Consegui disfarçar bem, pelo menos pra ele. O Antônio não desconfiou de nada e nem notou nada de diferente.

Eu já estava confiante de que tinha dado certo, então entrei na mansão bem tranquila, indo falar com a tia Luiza como se nada fosse.

Ela estava lendo. Eu só disse "Oi" e depois de alguns segundos ela me respondeu.

— Poliana! Preciso te pedir um favor. — ela diz fechando o livro e se vira para mim. — hoje eu...

Ela fixou os olhos em mim por alguns instantes.

— Poliana, por que você passou base no pescoço?

Gelei completamente. Ela deve ter notado que fiquei em choque e se levantou, se aproximando de mim.

Pensei em correr e me esconder pra sempre, mas eu sabia que não ia funcionar. Arregalei os olhos.

Assim que ela ficou parada na minha frente, tirou um lenço do bolso e começou a passá-lo no meu pescoço, retirando toda base que eu havia passado.

Não demorou nada para ela ver o que tinha embaixo da base. Apenas uns 5 segundos de tortura onde eu me preparava psicologicamente pro surto da tia Luiza que estava prestes a acontecer.

Ela abriu a boca.

— tia, por favor, não pira. Eu posso explicar!

— quem fez isso em você?!

— ninguém... Eu...

— Poliana! Não minta!

— mas... Aaaah! Tia! Eu... Eu não sei o que falar!

— pode começar me falando a verdade.

para de me pressionar, por favor! — comecei a entrar em pânico e meu ar começou a faltar. Já estava prestes a chorar quando a tia Luiza soltou um suspiro.

— para com todo essa drama, Poliana.  Eu prometo que não vou gritar com você.

— não... Não é só isso... Eu... Eu não sei  como dizer isso... Não sei como te contar! Nunca passei por isso antes!

— só me diga quem fez isso com você! Não preciso de detalhes.

Eu respirei fundo e pensei alguns segundos antes de soltar o nome dele.

— João.

Nesse momento foi a vez da tia Luiza arregalar os olhos.

— o... O João?

— sim...

— bom... vocês estão juntos?

— é... Não.

— Poliana!

— nem sabíamos que ia acontecer isso tia! Foi sem querer...

— não se ganha um roxo no pescoço desses sem querer Poliana!

— você disse que não queria saber os detalhes!

— Ah! — ela suspirou revirando os olhos. — tudo bem. Mas não pense que não vamos mais falar sobre isso! E não me apareça mais com o pescoço desse jeito aqui! Nem o pescoço, nem os braços, nem as pernas, nem...

— tá bom, tá bom tia! Eu prometo! — assim que terminei de prometer, sai correndo e subi as escadas.

Estava pensando seriamente em passar o dia trancada no quarto.

Mas mesmo assim ainda queria que o João estivesse ali comigo.

Que droga, Poliana! Tira ele da sua cabeça!

Acabei descendo pra comer e o resto do dia não foi muito produtivo.

No dia seguinte, a Kessya passou a maior parte da primeira aula me encarando com um olhar sarcástico.

Era óbvio que ela queria saber sobre o que aconteceu. E era óbvio que ela queria os detalhes, diferente da tia Luiza.

— tá bom. O que foi?! — eu disse me virando pra ela.

— ué. Eu não disse nada.

— fala logo Kessya, eu sei que você quer perguntar alguma coisa.

Ela me fitou alguns segundos e não se aguentou. Então começou a perguntar.

— tá legal! Já que você insiste... — revirei os olhos ao ouvir isso. — me diz o que rolou ontem!

— em que parte do dia?

Ela me olhou séria.

— debochada você hein! Me fala do chupão!

— xiiiiiu!

— Ah, para! Da pra ver que isso no seu pescoço não passa de base! — sim, eu não tinha desistido de usar a base.

— Ah, tá! Eu vou dizer mas não ouse contar pro Luigi ou pra qualquer outra pessoa!

— eu juro!

— ok. Bem... Logo depois que eu saí da sala no meio da sua briga com a Filipa, o João veio atrás de mim...

— awn que romântico...

— quieta! — ela deu uma risadinha. — aí eu estava meio doida, em pânico, sei lá. Alguma coisa deu em mim e eu precisava me distanciar da realidade por alguns instantes... Foi aí que eu beijei ele.

— O QUÊ?!!!! — todos da sala olharam para nós duas imediatamente.

— fala baixo, pelo amor de Deus! — eu disse quase sussurrando pra ela.

— foi mal, é que... Eu não esperava por isso... — ela olhou em volta pra checar se os alunos tinham voltado a conversar entre si e prosseguiu — quer dizer... Ele te beijar eu já até tinha pensado na possibilidade... Mas você beijar ele? Isso não é coisa "de Poliana".

— pois é. Enfim... Ele me beijou de volta e uma coisa levou á outra e deu nisso aqui. — eu apontei pro chupão discretamente.

— caramba... Poliana, tô chocada! Eu sabia que a história de vocês não tinha acabado!

— não viaja, Kessya! Acabou sim. Provavelmente ele agiu por impulso do momento igual eu. Não vai acontecer de novo.

— tá, mas e se ele pensar que não foi por impulso, e querer repetir a dose?

— quê? Isso não vai acontecer.

— hum. Eu duvido.

Revirei os olhos e voltei a escrever.

Já tinha dado a hora do intervalo e resolvi ir ao banheiro para retocar a base no meu pescoço.

Mas antes que eu pudesse chegar ao meu destino, fui bruscamente puxada para uma sala aleatória pelo braço.

— João!

Ela me olhou e sorriu.

— saudades?



joliana vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora