Luigi
Meia noite, eu ouvi alguém bater na porta do meu quarto com força. Sorte que o Mário tem o sono extremamente pesado, e continuou babando no travesseiro.
Abri a porta com um pouco de receio de ser um espírito querendo minha alma, mas para minha surpresa, ela estava ali, parada na minha frente descabelada, de pijama e descalça.
— Yasmin?!
— Luigi. — ela disse me olhando assustada.
— o que você tá fazendo aqui? Ou melhor, como entrou aqui?
— pela ligação das nossas casas através do sótão. Aquele clubinho idiota dos nossos irmãos — ela dizia tentando arrumar o cabelo.
— mas o que foi?
— você tá bem? Tá de boa? — ela disse parando de mexer nos cachos, me encarando.
— acho que sim... Por que a pergunta?
— o que você estava fazendo?
Fiz uma careta para ela um pouco confuso.
— dormindo.
— te acordei? Meu Deus, desculpa. Sério, foi mal.
— Yasmin, para de enrolar e fala por que você apareceu na porta do meu quarto no meio da noite.
— é que eu tive um sonho — ela disse soltando as palavras.
— sonho?
— você estava nele, e estava morrendo afogado, e eu não podia te ajudar, ah foi horrível... Tava mais pra pesadelo.
Abri um sorriso de canto, achando graça do desespero dela.
— e você achou que eu realmente estava morrendo afogado? Como eu poderia morrer afogado em cima da minha cama?
— ah, deixa pra lá, esquece. Foi bobeira minha mesmo.
Ela ia se virar para ir embora, parecendo decepcionada. Foi aí que percebi que mais uma vez eu iria perder a chance de dizer á ela o que sentia quando ela me desse a oportunidade. Aquela era uma oportunidade, e era um dos momentos certos. Eu não poderia deixar passar mais uma vez.
— Yasmin, espera.
Puxei ela pelo ombro, fazendo ele se virar para mim. Não pensei duas vezes, e segurando seu rosto, a beijei intensamente enquanto ela retribuía.
— o que foi isso? — ela disse me olhando assustada após pararmos o beijo.
— você não sai daqui sem antes me dizer por que se preocupou tanto comigo só por causa de um sonho.
— sei lá, você é meu amigo, e eu...
Ela pareceu engolir em seco as palavras, repensando nelas.
— e você?
— eu gosto de você, tá? Eu fiquei com medo de aquilo não ter sido só um sonho ruim e ter te perdido de verdade.
— mas...
— e na real, eu te perdi. Você não morreu, mas eu dei um jeito de te afastar de mim por conta da minha idiotice. E agora aqui estamos nós, presos nessa droga de "amizade".
— "droga de amizade"?
— é, eu não quero sua amizade! Quero que a gente volte a ficar junto! Mas eu não sei como fazer pra você me perdoar de verdade e voltar a confiar em mim... Eu sei que a gente se beija às vezes porque você quer passar o tempo, e...
— que? Yasmin — eu disse segurando seu rosto. — eu nunca te usei só para passar o tempo. Eu já te perdoei, te perdoei porque não consigo ter rancor de você, nunca. Eu ainda gosto de você demais!
— você tá falando sério?
— eu nunca falei tão sério na minha vida.
Meu coração estava mais acelerado que qualquer outra coisa. Beijei ela mais uma vez, e ela entrou no meu quarto.
Fechei a porta, Mário ainda continuava dormindo. Ela se deitou na minha cama comigo, e eu a envolvi em meus braços.
— desde quando a gente era pequeno — cochichei em seu ouvido. — eu já sabia que você ia ser minha.
Apagamos ali mesmo, agarrados, sem nos preocuparmos com mais nada.
...
— mãe!!!!
Ouço os berros do Mário ecoarem entre as quatro paredes do nosso quarto e abro os olhos lentamente, ainda sonolento.
— o que foi, criança?! — minha mãe responde do corredor.
— o Luigi e a Yasmin estão dormindo juntos!
— o quê?!!! — minha mãe grita, entrando no quarto.
Eu e Yasmin damos um pulo assustados, enquanto minha mãe nos encarava furiosa.
— como isso aconteceu??? — ela perguntou.
— desculpa, tia Joana. Eu... Vim pra cá a noite depois de ter um pesadelo, e acabei adormecendo aqui mesmo.
— e você fala isso com essa normalidade?!
— mãe! — interrompi ela.
— se a Cláudia sabe disso...
— ela vai ter mais coisas pra ficar sabendo — continuei.
— que coisas?
— eu e a Yasmin estamos namorando agora.
Yasmin me olhou assustada e arregalada, mas logo me abriu um sorriso.
— namorando? — minha mãe perguntou de queixo caído.
— sim.
Minha mãe veio até nós e nos deu um abraço, mudando completamente seu humor e sua feição de raiva, para uma emoção total.
— então quer dizer que estamos namorando? — Yasmin me perguntou sorrindo.
— se você quiser — respondi um pouco sem graça.
— óbvio que quero.
Ela me deu um selinho e eu não pude deixar de sorrir igual bobo.
— Eca, vocês são nojentos — Mário disse saindo do quarto.
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joliana vol. 2
RomanceSegunda parte da história de João e Poliana. "O tempo trouxe as mudanças". {CONCLUÍDA}