Pêga no Pulo

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Poliana

Era o intervalo da terceira aula da quarta-feira, eu estava concentrada no meu livro mordendo um pedaço da minha maçã quando tenho ele bruscamente tirado das minhas mãos. Tomo um susto e levanto a cabeça para ver quem era, e a Filipa começou a falar:

— como você conseguia?! — ela me olhava de um jeito irritado com o livro nas mãos.

— como assim?

— você sabe! Todos sabem do meu rumor sobre a minha festa!

— eu saí mais cedo da sua festa. Desculpe decepcioná-la.

— não vem com gracinha não, debochada! Todos da escola já sabem que eu tentei beijar o João! Acontece que ele não me rejeitou! Só me afastou porque estava se sentindo tonto. Ele mesmo me disse isso...

— ok ...

— mas ele é diferente! — ela continuou sua pronúncia — sempre que tento me aproximar dele, ele se afasta. E é igual com as outras garotas! Nenhuma consegue se aproximar ao ponto de conquistar ele! Todas são rejeitadas! Claro, menos eu... 

— uhum... — tentei dar o máximo de atenção às palavras dela.

— ele é diferente dos outros caras... Pois é como se nenhuma garota fosse boa o bastante pra ele! Aí é que você entra na história, Poliana! — ela abriu um sorrisinho irônico e eu olhei pra ela assustada. — ele gostava de você antigamente, né?

— bem... Éramos amigos...

— vocês não namoravam?

— Filipa, onde você quer chegar com toda essa enrolação e esse papo furado?

Ela me olhou por alguns segundos, suspirou e soltou o que estava se segurando para não dizer.

— tá. Vou direto ao ponto. Eu quero ficar com ele, mas ele não me quer. E eu quero saber o que você fazia com ele antigamente, que acabou conquistando e fazendo ele se apaixonar por você...

— eu nunca fiz nada.

— tá de brincadeira, né?

— não. Sério. E nós nunca namoramos de certa forma...

— mas... Que droga! Fui tapeada!

Encarei ela por alguns segundos e ela me devolveu o livro e saiu bufando. Eu fiquei satisfeita com minhas respostas, afinal eu não tinha mentido em nenhum momento.

Queria voltar a me concentrar na história do meu livro, mas o ocorrido de alguns momentos antes voltava aos meus pensamentos. O João estava mesmo bem popular...

Resolvi fechar o livro e voltar para a sala de aula, mas no caminho acabei esbarrando no professor Marcelo.

— opa. Oi, Poliana. — ele me diz com um sorriso no rosto.

— Olá professor!

— é... Sua tia vai estar em casa hoje?

— acho que sim... Por que?

— depois da aula vou passar lá então, pra fazer uma visita. Sei que não sou a pessoa que ela mais espera ver no momento, mas preciso conversar com ela uma hora, né? — ele me olhou esperançoso, como se quisesse que eu concordasse com ele.

— bom, espero que ela te atenda! — eu dei um sorriso pra ele e tomei meu rumo.

O Antônio e eu passamos na casa do senhor Pendleton por alguns instantes para podermos conversar. Assim que chegamos em casa, vi o carro do professor Marcelo estacionado. Fui entrando com o Antônio um pouco animada depois da conversa que tive com o senhor Pendleton.

— ooooi tia! Eu estava conversando com o... — meu sorriso e minha animação logo desapareceram assim que vi quem estava na sala junto com a tia Luiza. Professor Marcelo e João. Os dois me olhavam com um sorrisinho de canto, provavelmente acharam graça da minha cara que devia estar mais vermelha do que pimenta.

— bem educada você, em Poliana?! — minha tia diz me lançando um olhar torto.

— tudo bem. Ela deve ter se esquecido que eu disse que viria aqui hoje.

— esqueci mesmo... Desculpa. Oi professor — eu dei um sorriso sem graça pra ele.

Eu sei que eu deveria ter dado Oi pro João também. Mas acreditem, eu não tive coragem, seria constrangedor demais... Eu estava quase escapando e indo pro quarto quando a tia Luiza interveio na minha fuga o mais rápido possível...

— por acaso é só o Marcelo que está de visita aqui no recinto?!

"Porquê tia Luiza... Porquê????"

Me virei para o João completamente sem jeito e disse meio baixo um "Oi" que mais soou como um resmungo.

— Oi, Poliana.

Assim que ouvi ele dizer, levantei os olhos e olhei diretamente pra ele, surpresa. Ele não tinha me esquecido, ele se lembrava de mim...

Ele me olhava extremamente calmo, como se não tivéssemos motivos para nos sentirmos constrangidos. Cheguei até a esquecer que a tia Luiza e o professor Marcelo estavam ali.

Ah meu Deus.

Eu tentei disfarçar a cara de espanto. Fiz um gesto e subi para o quarto.

"Tudo bem, tudo bem. O João está aqui na sua casa nesse exato momento, e ele se lembra de você. Não só isso, ele falou com você. Tudo bem, não entre em pânico, você está segura agora aqui dentro do quarto, respire fundo Poliana, calma, respire fundo"...

Alguém interrompeu meus pensamentos com batidas na porta. Não tive dúvidas de que era a Nanci, e fui logo dizendo antes de abrir a porta coisas como:

— Nanci, graças a Deus! Preciso contar isso pra alguém... O João está lá  em baixo com o professor Marcelo e você não vai acreditar no micão que passei só por vergonha de falar com ele, sério! Tô quase tendo uma convulsão...

Abri a porta.

— foi mal, não é a Nanci.

— João?!!! — meu queixo caiu por alguns segundos enquanto ele me olhava com um sorrisinho nos lábios.

 

joliana vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora