Capítulo 4 - A casa dos órfãos

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As primeiras horas do ano letivo de Marcos e Gleidson deveriam ter sido mágicas e especiais. Aprontar pelo trem e fazer amizade era o objetivo dos dois. Contudo, o longo tempo que passaram no Expresso de Hogwarts fora tão lento e angustiante quanto uma pingueira tentando encher um grande balde.

Suas mentes dançavam entre lembranças desesperadas e teorias conspiratórias. Com o pensamento no estado de Guilherme e Snopy, nenhum dos dois sequer saíra do vagão dos monitores. E, acredite, nem mesmo os alunos especializados em cuidar dos novatos foram capazes de lhes tirar dali.

A estação que os aguardava se encontrava próxima ao famoso Lago Negro. Enquanto o Expresso de Hogwarts diminuía gradativamente sua velocidade, era possível ver um pequeno grupo de edifícios, sendo o maior, o lugar de descanso do condutor do trem. Com um pequeno tranco e um suspiro de cansaço, o trem finalmente parara e seu maquinário pôde, enfim, descansar.

Os passos de euforia eram muitos. Nos outros vagões, os demais primeiranistas corriam animados para tentar ver sua escola. O desembarque parecia tão agitado e vivaz quanto deveria. Os monitores também deveriam desembarcar, mas Shun deixou que os demais fossem na frente, ficando com o compromisso de ajudar os dois meninos a descerem.

- Chegamos. - Ele afirmou, tentando ser o mais aprazível possível. - Precisamos descer. Vou deixar vocês com o Hagrid. Terão uma maravilhosa e privilegiada visão de Hogwarts.

Os meninos não pareceram se animar muito. Mesmo Marcos, com toda a sua atribulação em relação a Guilherme, estava preocupado com o significado daquele ataque e o que ele representava a Gleidson. Era uma área nova para ele, desenvolver sentimentos empáticos, mas aquele foi um bom primeiro passo.

Shun, por sua vez, abaixou-se para ficar na altura dos meninos. - Olha... Eu sei que esse primeiro dia não está sendo nada fácil, mas acho que vocês não deveriam mais se preocupar. O outro menino está bem, com certeza. Fora que Hogwarts é o lugar mais seguro do mundo bruxo para vocês agora. A Diretora Minerva jamais deixará que algum mal aconteça a vocês. Só... Dêem uma chance. O que acham?

Marcos observou Gleidson ignorar completamente as palavras do rapaz, como se sequer as tivesse ouvido e decidiu usar o pequeno laço que estavam construindo para melhorar a situação. Ele odiava se sentir mal. Ainda mais se fosse pelos outros.

O Barbosa levantou-se calmamente. Shun ofereceu ajuda, mas ele queria fazê-lo sozinho. Depois de dois tapas para tirar o borralho dos ombros, ele ergueu a mão para o Santos. - Vamos, Glei. Ele bem... Aquele metido é chato para cacete, mas já deu para perceber que ele é duro na queda. Aposto que já está dentro da escola esperando a gente para caçoar da nossa cara zoada.

O pequeno Santos se viu acolhido pelo discurso bem mais simples do amigo. - Verdade. - O menino afirmou imaginando as sobrancelhas ousadas de Guilherme em alguma parte lúdica do castelo lhes contando como escapou da morte com seu fiel escudeiro. Ele segurou a mão de Marcos e levantou-se. O frangote reuniu todas as suas forças, mas conseguira apoiar o forte colega.

Acompanhados por Shun, os dois meninos finalmente desembarcaram. Eles esperavam que a plataforma estivesse mais vazia, contudo os primeiranistas estavam todos no local.

Marcos observou os alunos mais velhos caminhando para não muito longe dali, para baixo a partir dos edifícios. Seu caminho eram os portões de entrada para Hogwarts, ao longe, em uma clareira da Floresta Proibida.

Já os alunos iniciantes estavam bem próximos, no final da plataforma. Ali, uma barreira de crianças eufóricas quase o impedia de ver pequenos barcos ancorados à espera de sua chegada.

- Todos os alunos em fila indiana! - Gritava a senhora enrugada. - Ei vocês, não saiam do grupo! Fila indiana é um atrás do outro, não três lado a lado, senhorita!

A Tríade - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora