Capítulo 8 - À prova de fogo

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As estrelas saltavam de um lado para outro no céu negro daquela noite, abençoando o castelo abaixo dela como uma criança infortunada. O brilho das constelações agia como uma fonte de luz tão poderosa quanto as chamas do corredor onde Guilherme e Snopy se encontravam.

O menino finalmente subira os sete andares e encontrara a enorme tapeçaria retratando a insensata tentativa de Barnabás, o Amalucado, ensinar balé aos trasgos. Por três vezes, o pequeno Lerback caminhou próximo a parede mentalizando o lugar que precisava.

Antes de sequer lhe surgir o benefício da dúvida, uma porta começou a surgir da parede diante dele. Ela era tão grande e magnífica quanto se podia imaginar. Os olhos do pequeno se acenderam, encantado com a bela forma de magia.

- Funcionou. - Guime sibilou para seu dragão, que estava quieto até demais.

Com passos lentos o menino se aproximou da grande porta e com um simples toque ela rangeu. Uma pequena abertura, o suficiente para que o sonserino passasse, surgiu. O rapaz atravessou acariciando a porta e admirando sua espessura. Foi então que o significado de admirar ganhou um novo conceito para ele, pois ao observar o interior da sala ficara completamente sem palavras.

Guime estava diante de uma escada que o levava até o centro da enorme sala circular. Do chão de carvalho, largos muros de pedra polida separavam o núcleo da arquibancada, sustentando sete grandes estátuas orbiculares e equidistantes. Cada uma representava um grande e renomado duelista da história bruxa, apontando uma varinha para o âmago da sala.

Atrás deles, uma gigante arquibancada crescia com dezesseis divisórias até as paredes entalhadas mais altas que o menino já vira. Suas gravuras na pedra transitavam entre as pequenas janelas retangulares, milimetricamente alinhadas, até o teto com um único vitral por onde a luz da lua entrava e iluminava o interior.

- Eu amo esse colégio. - Ele afirmou sorridente.

Enquanto descia as escadas, ele observou seu entorno e percebera que não havia movimento aparente. Seu olhar perspicaz identificara: ele já estava em teste. E para que não lhe restassem incertezas, a porta semi-aberta fechou-se e simplesmente desapareceu diante de seus olhos.

Guime fixou seu olhar para o único ponto onde a iluminação lhe levava. - Às oito horas da noite, especificadamente, a luz da lua irá se perfilar entre as varinhas dos campeões no Salão Repto. - Ele repetiu com o mesmo tom que a professora quando esta lhe recitou. - Se é poder que ambiciona, será o momento perfeito para se provar merecedor. - Ele finalizou deslizando a mão pelo corrimão de pedra.

Degrau por degrau, o menino desceu até se encontrar no centro do salão. Exatamente em seu núcleo, ele posicionou-se onde a lua convergia sua luz, entre as varinhas dos campeões, apontadas em sua direção. O menino olhou bem para cada uma das esculturas confiante e certo de que a pista estaria lá.

- É minha vez de lutar, amigão. - Ele afirmou para Snopy. - Hoje preciso que você seja meu suporte. - A criatura logo desceu de seu ombro e enfiou-se no bolso interno do sobretudo, encantado ilegalmente para ser expandido, e desapareceu.

O pequeno Lerback encarou a que representava Elizabeth Smudgling, a duelista suprema mais provável inventora do Feitiço de Desarmamento. Ele a olhava e ela o olhava, mas ele reparou que a visão que deveria ser fria e sem vida estava repleta de incerteza e nervosismo. Atento a qualquer movimento, ele viu uma gota de suor escorrer pela estátua. Ele sorriu e ela piscou inevitavelmente.

- Depulso!

Guime impôs-se com um encantamento simples e subestimada pela, até então, estátua. O que ela não previu foi a competência do bruxo que a arrebitou bem mais longe que o feitiço geralmente alcança. O tranco a levou para fora do pedestal e ela moveu-se humanamente.

A Tríade - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora