QUARENTA E SEIS | CONTINUAÇÃO

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◘◘◘

Fecho os olhos e tudo o que eu consigo ver é ela. A sua raiva e todos os outros adjetivos antônimos com relação ao que Julianne sentiu ao saber que tinha sido um alarme falso.

Parece que Deus resolveu colocar tudo a prova hoje, porque um trovão explode em algum lugar lá fora. Fico olhando para o teto, vendo a claridade dos relâmpagos clarearem o quarto. E em menos de dez minutos é iniciada a chuva de primavera.

Ergo a cabeça para ter uma visão melhor da minha esposa. Julianne está dormindo lindamente agarrada ao meu braço, uma das suas mãos está espalmada sobre seu abdômen. Eu não sei se ela está com dor ou ela está sonhando com o bebê que não vamos ter.

Eu não consegui dormir depois de toda a agitação durante a madrugada, pensando na possibilidade dessa notícia a deixar deprimida de alguma forma, porque ela teve esperanças. Ela me mostrou o teste que ela fez ontem de manhã. Seus olhos pareciam tão melancólicos que levou tudo de mim. Ainda mais quando ela disse que tinha guardado o bastão com os dois ponteiros rosas indicando que ela estava gravida com a intenção de fazer uma surpresa para mim.

Isso abriu toda a merda de lembranças que eu tenho guardada a sete chaves. Bem, eu pensava que estavam guardadas.

Após o quarto se firmar no mais terrível silencio, eu a escutei fungar baixinho, porém, as fodidas lembranças já estavam na borda, me condicionando a só ficar em silencio remoendo tudo. A única coisa que fiz foi acariciar sua mão e deixar ela chorar. Pois tem certas coisas na vida que o choro é a única opção.

O frenesi de sentimento e lembranças voltaram com força total. Parece que tudo que aconteceu há quatro anos está novamente diante dos meus olhos. Porém, a resposta gritante e que me atormentou durante esses longos anos foi: "Você não é o pai deste feto".

Tudo parece tão claro agora. Cada palavra que ela jogou para mim. Toda a merda fodida que ela gritou, além de ter virado as costas sem olhar para trás, me deixando completamente acabado na sala do nosso apartamento. Onde eu tinha planejada tudo para a nossa vida a três. Tudo antes dela jogar as coisas na minha cara.

Um raio estala em algum lugar, seguido de um trovão. Julianne parece cansada o bastante para não acordar nas próximas horas. Então eu me afasto dela com cuidado, sabendo que a minha menina adorável está do outro lado do quarto desprotegida. Vou na direção da porta que dá ligação para o quarto dela. Essa foi a única mudança que Julianne pediu para que fizessem com relação ao nosso quarto. Eu abro a porta e encontro Cellina sentada na cama com os olhos azuis assustados e com vestígios de um começo de choro.

— Papai! — ela começa a chorar. Eu corro para ela, pegando-a no colo. Cellina envolve seus pequenos e gordinhos braços ao redor do meu pescoço.

— Shh... está tudo bem, pequena. Papai está aqui.

— Eu não gosto desse barulho, papai.

Eu acaricio seus cabelos, a acalmando.

— Eu sei, bonequinha.

Vou para o lado da poltrona e me sento. Cellina esconde o rosto no meu peito. Fixo minha atenção na luz do seu abajur lilás cheio de ursinhos.

Tudo começou há seis anos, quando conheci Judith Miller. Ela parecia aquele tipo de mulher formidável que qualquer homem se encanta. Ela era divertida, tinha assuntos intrigantes e uma beleza jovial envolvente. Uma mulher loira de lindos olhos verdes, um corpo incrivelmente apetitoso. Tinha um sotaque alemão carregado, por ser descendente de alemães, mesmo que eu nunca conheci nenhum fodido parente dela. Ela parecia a mulher perfeita para iniciar uma família. Eu sempre quis ter filhos, fugia de casamentos como o diabo foge da cruz, mas sempre pensei em ter minhas próprias crianças. E quando eu a conheci pensei que ela fosse a mulher perfeita para isso.

Nós começamos a nós conhecer melhor, fazendo pequenos passeios noturnos pelas festas importantes de Nova York e de Boston. Até o dia em que a pedi em namoro, e para a minha felicidade ela aceitou. Porém as coisas começaram a ficar estreitas. Ela queria ser um espirito livre, quando eu precisava ficar trancado em alguma reunião fodida. Nós começamos a ter convergências na maioria das coisas que decidíamos, brigávamos quase todas as noites, porque ela queria sair e eu só queria ir para a cama e ficar enterrado dentro dela até de manhã. O sexo funcionava perfeitamente entre nós, mas era só isso. Até que em um determinado dia nem isso parecia estar funcionando. Mesmo assim eu empurrei o nosso relacionamento de merda com a barriga. A levando para conhecer a família num daqueles domingos lotados de gente. Foi assim que ela conheceu Torent.

— Papai?

Eu pisco aturdido, mirando minha atenção em Cellina.

— Sim, bonequinha?

Ela me encara com seus lindos olhos azuis. Suas bochechas estão rosadas. Ela parece uma pequena bonequinha, é a minha pequena bonequinha para sempre.

— Eu amo você, papai. Um montão assim. — ela se afasta e gesticula com os braços. O meu coração de macho alfa derrete toda vez que ela diz isso. Igual quando ela me faz sentar na sua pequena mesa de chá junto com seus brinquedos, e começa a contar coisas que somente ela entende. Isso é muito doce.

— Eu também te amo, bonequinha. — Eu planto beijos por todo o seu rosto, fazendo ela rir gostosamente. — Muito, muito, muito.

Isso é a prova que o tempo cura qualquer coisa. Que todas as lagrimas fodidas que um homem macho pode derramar é valido. Ninguém nessa porra de vida é totalmente forte.

Um movimento na minha visão periférica indica que ela está parada na porta. Eu olho na sua direção e a vejo encostada na soleira da porta, com seus cabelos loiros caídos em cascatas sobre os ombros seguindo até a sua cintura. Seus olhos brilham. Sua mão está sobre o abdômen. E novamente aquela sensação estranha me invade.

Eu amo essa mulher para caralho. E foda-se que entreguei o meu coração para ela cedo demais. Eu sei que com ela eu posso qualquer coisa. Ela é a mulher certa, e eu soube disso no momento que a vi dentro daquela sala.

Um relâmpago é emitido lá fora. Eu me levanto com Cellina no meu colo, vou até o abajur e apago. Então vou na sua direção. Julianne sorri para mim lindamente, ela pega Cellina do meu colo e vai na direção da nossa cama, eu fecho a porta. Fazendo o mesmo com as lembranças.

Eu me deito na cama. Cellina está no meio, com suas mãozinhas enroladas em uma mecha de cabelo de Julianne. Minha esposa tem o mais lindo sorriso estampado no seu rosto, enquanto observa a nossa filha.

Eu me aproximo dela e planto um beijo na sua testa.

— Obrigado, meu amor. Vocês são os meus melhores presentes, sempre. 

Olá, adoráveis

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Olá, adoráveis. Como vão?

O que acharam sobre esse capítulo? Espero que as teorias estejam bem. Ah, eu amo esse capítulo de paixãozinha. E uma dica: Temos muitas surpresas ainda.

Beijos e abraços,

Tessa.

SENHOR DOMINIKOnde histórias criam vida. Descubra agora