Capítulo 10

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  Eu e Gustavo ficamos conversando até pegar no sono. Acordamos 9:30, o café da manhã só seria servido até as 10 horas. Corremos para nos arrumar. Coloquei outra roupa do Gustavo. Dessa vez coloquei uma blusa xadrez vermelha.

  Gusta: - Você  não quer logo todas as minhas roupas não?
  Ana: - Deixa de ser egoísta. Eu vou te devolver depois.
  Gusta: - Não sei porque, mas eu não confio em você.
  Ana: - Um dia eu te devolvo.
  Gusta: - Sua ladra.

  Tomamos nosso café da manhã e fomos atrás de Eva. Pagamos pela nossa estadia e seguimos viagem. Gustavo foi dirigindo e eu fiquei no tédio.

  Gusta: - Agora só faltam 13 horas de viagem.
  Ana: - O quê? Como assim?
  Gusta: - É. A gente saiu de lá 21 horas e parou pra dormir meia noite. A gente já andou por 3 horas.
  Ana: - Então a gente só vai chegar lá daqui a 13 horas?
  Gusta: - Se não pararmos em nenhum lugar e nem dormimos, sim. Como nós vamos parar pra comer e pra dormir, eu acho que vamos chegar lá amanhã de manhã.
  Ana: - E em quanto isso eu faço o que?
  Gusta: - Fica contando as árvores.
  Ana: - Eu só não te deixo no meio da estrada porque eu preciso de você.
  Gusta: - Eu sei que você me ama. Prefere até usar minhas roupas pra ficar sentindo meu cheiro.
  Ana: - Você se acha muito.
  Gusta: - Eu não me acho, eu sou.
  Ana: - Posso ligar o som?
  Gusta: - Se você prometer devolver minhas roupas...
  Ana: - Eu vou devolver suas roupas.
  Gusta: - Promete?
  Ana: - Prometo. ... Um dia quem sabe.

  Ele me fuzilou com os olhos e eu apenas ignorei. Liguei o som e coloquei em uma rádio que estava tocando funk. Fiquei cantando e dançando. Gustavo ficou me olhando como se eu fosse louca, acho que é porque eu realmente sou louca.

  Gusta: - Você dança bem.
  Ana: - Mas eu nem estou dançando direito, com esse espaço limitado.
  Gusta: - Mas eu já vi você dançando antes.
  Ana: - Você me espionou tanto assim? 
  Gusta: - Não.  Foi na festa do Júnior. Você estava dançando funk. Você dançou muito bem. Sua animação contagiou todo mundo.
  Ana: - Eu passei uma boa parte daquela festa observando as pessoas, não lembro de ter te visto.
  Gusta: - Eu estava vendo a festa de cima. Encima da casa, pra ser mais exato.
  Ana: - Eu deveria ter olhado pra cima. Passei 3 dias naquela casa e não te vi.
  Gusta: - Você deve ter me visto, só não prestou atenção em mim.
  Ana: - Se eu tivesse te visto antes eu com certeza teria prestado atenção. Um cara como você não passa assim despercebido.
  Gusta: - Como assim, um cara como eu?
  Ana: - Você é alto, forte, bonito e ainda é estiloso.
  Gusta: - Obrigado. E sou inrresistivel também.
  Ana: - Você se acha demais.

  Voltei a dançar e Gustavo também entrou na onda. Começou a tocar Fuleragem, uma das minhas músicas preferidas.

  Ana: - Quer dizer que você  gosta de funk?
  Gusta: - É um ritmo legal. Não é meu tipo de música favorita, mas eu escuto. 
  Ana: - E qual é seu tipo de música favorita?
  Gusta: - Eu gosto de pop, eletrônica. Gosto de música agitada.
  Ana: - Então é desse tipo de música que agentes secretos gostam?
  Gusta: - Os que são legais sim. O Oliver, que é o cara que vai ficar cuidando de você quando minhas férias acabarem, gosta de música clássica. Chega a ser engraçado um cara grande como ele gostar de música clássica.
  Ana: - Então, me fala mais desse Oliver.
  Gusta: - O que  você quer saber?
  Ana: - Tenho que saber quem é o meu babá.
  Gusta: - Seu babá trabalha na CIA há anos e é um dos melhores agentes. Tenho certeza que ele não vai deixar ninguém tocar em você.
  Ana: - Quantos anos ele tem?
  Gusta: - Eu não sei, mas eu chuto uns 30, por aí.  Ele não é tão velho, muito pelo contrário, ele tem porte físico de um jovem.
  Ana: - Quando acabam suas ferias?
  Gusta: - Daqui a 29 dias. Até lá eu vou ser seu babá.
  Ana: - O que eu fiz pra merecer isso, Deus?
  Gusta: - Acho que você fez muita coisa boa pra merecer um amorzinho de pessoa como eu.
  Ana: - Acho que eu assacinei o Papa em outra vida.

  Estávamos no meio do nada quando a gasolina acabou. Gustavo tinha jurado que não era necessário colocar mais gasolina porque o que  tinha era suficiente.

  Ana: - É desse jeito que você pretende proteger minha vida? Deixando a gente morrer no meio do nada?
  Gusta: - Deixa de ser dramática. Deve ter alguma cidadezinha aqui por perto.
  Ana: - Por que a gente não usa o GPS?
  Gusta: - Não podemos correr o risco de sermos encontrados. Você não assiste filme?
  Ana: - Sabe, filmes de agentes secretos não são meus preferidos.
  Gusta: - Bom, nossa única saída é  ir andando até encontrar um posto de gasolina.
  Ana: - Você tá doido?
  Gusta: - Você tem alguma ideia melhor?
  Ana: - Não.
  Gusta: - Então vamos.

    Saímos andando em busca de um posto de gasolina. Uma hora andando e nada, apenas árvores e uma longa  estrada. Estava perdendo as forças quando um carro passou por nós e parou na nossa frente. Um cara alto e jovem desceu do carro e veio até nós.

  Xxx: - Pra onde estão indo?
  Gusta: - Nosso carro está sem gasolina, estamos procurando um posto.
  Xxx: - O posto mais perto fica a mais de 1km daqui. Se quiserem posso dar uma carona pra vocês.  Me chamo Samuel.
  Gusta: - Se não for  muito incômodo. Meu nome é José e ela se chama Luana.

    Olhei pra Gustavo com o olhar tipo: O que você tá fazendo? Ele apenas me olhou tipo: Confia em mim. Entramos no carro de Samuel e fomos até o posto de gasolina, compramos o tanto que precisávamos e voltamos junto com Samuel até o nosso carro. Samuel nos deixou lá e foi embora. Colocamos a gasolina no carro e voltamos a nossa jornada.

  Ana: - José? Luana? Sério?
  Gusta: - O que você queria? Revelar nossos nomes e corrermos o risco de sermos pegos?
  Ana: - De onde você tirou esses nomes? Veio do nada?
  Gusta: - Foram os primeiros que vieram na minha cabeça. Você tem cara de Luana.
  Ana: - Você não tem nada a ver com Jos... Gustavo é mesmo seu nome ou você mentiu pra não contar seu nome verdadeiro pra mim?
  Gusta: - Quer ver minha certidão de nascimento pra comprovar?
  Ana: - Você tá com sua certidão de nascimento aí?
  Gusta: - Não, eu fui irônico. Você tá com fome?
  Ana: - Ainda não. Na verdade eu não tô com mínima vontade de comer. De repente surgiu um medo dentro de mim. Só de pensar que minha mãe tá lá naquela casa com aquele piscicopata...
  Gusta: - Ei, vai ficar tudo bem. Sua mãe não tá lá sozinha e eu tô aqui com você.  Não vou deixar nada acontecer com você.  Tá?

    Apenas afirmei com a cabeça e fiquei olhando pela janela. Uma mistura de sensações me invadiam. Tentar imaginar meu futuro agora era doloroso. Não saber o que viria era assustador. Eu confio em Gustavo e sei que ele foi muito bem treinado pra isso, que ele sabe o que tá fazendo, mas tenho medo de chegar em um ponto que ele não vai poder me proteger. Medo de minha vida nunca mais voltar a ser normal.
    Pensando em tudo isso algumas lágrimas escaparam, mas não deixei Gustavo ver. Ele já tem muita coisa pra lidar, ter que lidar com minha instabilidade emocional já é demais.
   Já eram uma 15 horas quando paramos pra comer. Mesmo sem vontade, tomei uma vitamina de manga que Gustavo me obrigou a tomar.
    Saímos de lá e dessa vez eu estava dirigindo. Liguei o rádio e comecei a cantar as músicas que tocavam na tentativa de esquecer tudo. É impressionante o poder que a música tem.
    Eu e Gustavo só trocamos algumas palavras desde a última conversa. O silêncio não era insuportável, muito pelo contrário, ele nos trazia uma paz. 
Durante todo esse tempo pude pensar em muitas coisas e uma delas foi o nosso beijo. É estranho pensar que beijei um agente secreto. Uma pessoa que conheci a poucos dias e que eu dependo dele pra viver. Mas ao mesmo tempo é incrível pensar que beijei Gustavo, e que  poderia ter acontecido mais. Eu não reclamaria se tivesse acontecido, Gustavo é uma delicinha e eu tenho certeza que ele arrasa na cama. Meu Deus o que eu tô pensando? Comecei a ficar envergonhada por esses pensamentos.

  Gusta: - Você tá bem?
  Ana: - Tô, por que?
  Gusta: - Você tá vermelha.
  Ana: - Tô é? É o calor, tá muito quente aqui.
  Gusta: - Mas o ar condicionado tá ligado, tá fazendo frio.
  Ana: - Sua pele deve ser sensível ao frio, por isso. Porque aqui ta quente.
  Gusta: - Você quer baixar o vidro e ir de ar natural?
  Ana: - Pode ser.

    Essa é Ana Júlia, não pode ver uma vergonha que já quer passar. Depois dessa péssima atuação seguimos  viagem.
 


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