Humano

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Fogo.

Eu sentia ele se alastrando por minha garganta e domando meu coração, escorrendo por todas minhas veias e sufocando-me. Eu tentava respirar, mas não conseguia, meu corpo tremia e minha consciência parecia voltar a tona, mas ainda assim eu me encontrava mais perdido do que antes, como se minha mente estivesse entrando em pane. Como se ela também estivesse queimando.

Jeongguk parecia relutar contra seus próprios desejos e um ruído abandonava sua boca enquanto ele se forçava a tirar as mãos de mim. Minha visão estava turva, nublada por uma nuvem parcialmente negra, mas eu ainda podia enxergar um pouco... A palidez de seu rosto, as presas ainda sobressaltadas e o sangue seco no canto de seus lábios. Os olhos alternando entre um negro escuro e um vermelho apagado. Eu me afastava dele. Ou tentava. Meus membros endureciam como pedra.

Tentei me levantar, agarrando-me a qualquer coisa que via pela frente. A cortina da janela, a cabeceira da cama, a parede, eu simplesmente não conseguia enxergar. Meus pés quentes alcançaram o chão frio, numa espécie de alívio. Eu precisava disso! Do frio. Minhas pernas estavam trêmulas e meus braços incertos buscavam o trinco da janela. Eu tateava tudo a minha frente. Necessitava de ar fresco. Joguei meus braços para os lados, bati contra alguma coisa, uma estante, derrubei algo e machuquei minha mão. O desespero me tomou e a dor se tornou mais forte.

Cambaleei para trás e senti Jeongguk me segurar superficialmente, tremi ainda mais e gritei com a dor entalada em minha garganta.

Levei minha mão ao pescoço e pressionei o ponto onde Jeongguk me mordeu, aquela era a parte onde mais doía e o fogo parecia partir dali e se alojar em meu peito, onde se espalhava para o resto do corpo.

Lágrimas grossas escorriam por meu rosto e eu sequer percebi quando comecei a chorar. Eu não conseguia suportar, eu não era forte o suficiente.

Nunca fui.

Jeongguk me apertou num abraço firme, eu estava no chão, me contorcia, mas não notava nada, apenas sentia a dor, como se estivesse enclausurado numa sala de tortura vendo minha vida real em segundo plano.

Jeongguk disse algo, mas eu não o escutei.

Eu sentia como se estivesse sendo queimado vivo.

— Pare de gritar. — Ele pediu em desespero. — Por favor. — Sua voz não passava de um sussurro baixo, do qual eu não conseguia ouvir com clareza. Mas me esforcei para continuar ouvindo, continuar acordado. — O que está acontecendo?

Eu não sei.

Só me salve, por favor...

Mas eu não fui capaz de lhe dizer isso.

Não fui capaz de nada. Pois tudo se apagou.

Menos a chama dentro de mim.

...

Eu acordo, mas não consigo abrir os olhos.

Minha cabeça lateja muito e eu levo a mão esquerda em direção à têmpora, massageando-a, meus dentes rangem e eu respiro alto. Sinto algo macio embaixo de mim e me aconchego melhor, tentando me desviar da dor. E percebo, com certo alívio, que ao menos aquele fogo alastrador havia se finalizado.

Uma mão pousa sobre minha cabeça e sem muito esforço posso adivinhar que é Jeongguk, seus dedos se enterram em minhas mechas e ele faz um carinho suave, me fazendo suspirar. Isso quase me faz esquecer a dor de cabeça.

Ainda sinto sono, mas não quero dormir. Forço meus olhos a se abrirem, mas a claridade da luz do quarto faz com que eu os feche novamente.

Uma tranquilidade sem igual invade meu corpo, quase como se não fosse meu próprio sentimento, mas eu não a rejeito, na verdade eu gosto disso.

Pacto de Sangue || Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora