Dê Migalhas aos Pássaros

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— Existe uma forma... — Ela segurou minhas mãos contra as suas. — um jeito de arrancar de vez essa escuridão que habita em seu interior. Para que assim, ela nunca mais te atormente.

— Como? Qual forma?

— Há uma pessoa. Uma única pessoa neste mundo inteiro, que pode te salvar. No entanto, ela terá que pagar com sua própria vida, para que você se livre desse temor. — Meu coração acelera terrivelmente rápido. Não, mais uma sacrifício não. — Só uma pessoa forte o suficiente pode fazer isso por você, Tae.

— E quem é? — Indago exasperado. — Quem é essa pessoa?

— Essa pessoa sou eu. — Ela solta minhas mãos, seu olhar se mantém frio e cortante, mas eu consigo enxergar a dor nublada por trás daquela autoproteção. — No fundo, eu sinto que fui a culpada por tudo isso estar acontecendo com você. E também sinto, que de alguma forma, eu preciso pagar pelo que fiz. Me utilizei de uma magia poderosa e proibida para ajudar sua mãe a te dar a luz. E isso danificou sua alma, a manchou com uma sombra intocável. E só eu posso terminar o que comecei.

— Isso... é muita coisa para eu assimilar.

— Eu sei. Mas infelizmente, não a nada que eu possa fazer para tornar essa realidade menos difícil.

— Eu posso ter feito péssimas escolhas. — Encaro minhas mãos, fechadas em punhos, e apoiadas em meu colo. — Posso ter manchado minha reputação com sangue. Posso ter acabado com vidas inocentes. Posso ter feito coisas ruins... Mas, apesar de tudo, eu não sou um monstro. — Ergo o olhar, firme e decidido, e vejo Ayu de pé, no centro do quarto, me encarando. — E eu nunca vou ser!

— Taehyung, eu...

— Não! Eu estou falando sério. Eu não sou o que vocês pensam que eu sou. Não vou acabar com outras vidas, não vou deixar essa coisa me controlar. Eu vou vencer isso, ninguém precisará se sacrificar por mim, não mais. — Me levanto. — É a minha vez de abrir mão de algumas coisas.

— Você não está entendendo. — Ela sorri com tristeza, sem se aproximar. Me pergunto se reside algum receio dentro dela. Se ela é capaz de confiar em alguém como eu. — Isso é mais forte do que você, mais forte do que é capaz de suportar.

Você que não está entendendo. Isso é sobre mim, e mais ninguém. E quem sabe mais da minha própria mente, do que eu mesmo? Sei que sou capaz, que posso me controlar. — Minhas mãos tremem, como se gritassem contra minhas palavras. — A sanidade é o bem mais precioso que possuo no momento. Não vou me descontrolar. Não vou matar mais ninguém.

— Taehyung, você não está pensando com clareza.

— Nem indiretamente. — Completo.

— Okay, como quiser. Chega desse assunto. — Ela suspira baixo, encolhendo levemente os ombros. Não achei que ela fosse desistir tão fácil. — Estamos falando sobre você, afinal. Não posso tomar decisões por ninguém. Mas quero deixar claro que não concordo.

— Obrigado por me entender. — Agradeço. — Não vou desapontar vocês.

— Se você lembrar que esse "vocês" engloba mais do que eu ou seus amigos... — Sua postura é firme. — então eu confio em você.

Não fui capaz de conter um sorriso simples, aquilo era importante para mim. Mais do qualquer um poderia imaginar. Eu só precisava disso, essa confiança.

— Agora vamos mudar de assunto, ainda há tópicos que quero tratar com você, antes de te deixar em paz.

— Como quiser. — Sento-me sobre a cama, tentando transparecer alguma tranquilidade. Contudo, em meu interior, meu coração ainda bombeia velozmente, como se nada fosse capaz de pará-lo.

Pacto de Sangue || Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora