A Mordida

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O professor trajava vestes que se assemelhavam às do século passado, com um casaco negro e botas pesadas. Seus cabelos eram loiros, praticamente brancos e seu rosto magro apresentava algumas marcas de possíveis lutas. Seu olho esquerdo não podia ser visto, pois era escondido por um tapa olho preto. Era um visual um tanto bizarro.

Sua voz era rouca e suas palavras soavam um tanto rígidas, mas eu não tinha medo dele.

Endireitei-me na cadeira e com o tédio crescente que me cercava, resolvi fazer a única coisa que me restou. Prestar atenção na aula.

— O vampiro possui um organismo totalmente diferente do humano. — Iniciou a explicação. — Nossa pele é mais fria e dura como mármore, nos curamos com rapidez e pra ser sincero é muito difícil nos machucar e tudo isso graças ao sangue que corre em nossas veias.

Franzi o cenho. Sangue? Isso é algum tipo de piada?

— Aqui podemos ver o sistema circulatório de um vampiro. — Apontou com uma caneta para a imagem que aparecia no grande telão. — Nosso sangue não é vermelho e quente como o dos humanos. Ele é de uma coloração mais cinza prateado e totalmente gelado, ele também pode ser um líquido ácido e muitos ao invés de considerá-lo como sangue, o denominam como veneno. Nosso coração bombeia esse sangue para todo o corpo, e dentro desse órgão existem células trabalhando afoitamente, e todo dia, após exatas vinte e quatro horas, esse sangue se renova em nosso corpo, revitalizando-nos. Por isso, mesmo que arranquem todo o veneno de nosso corpo, na esperança de nos matar, isso não irá acontecer. Óbvio, ficaremos fracos, mas ao passar vinte e quatro horas completas, o sangue se renovará. E só existem duas formas de nos matar. — Abri um mínimo sorriso, aquele assunto era interessante. — Arrancando nosso coração ou... Bom, o outro vocês já sabem. — Deu de ombros e eu praguejei baixo. Eu não sabia! Maldito professor. — Dizem que o sangue dos vampiros é mil vezes mais delicioso que o sangue humano, mas a única forma de experimentá-lo é quando se faz um pacto com alguém, pois se você tentar extrair ou tocar em sangue de vampiro, que não seja aquele do qual você fez o pacto, o sangue queimará em suas mãos e então se dissolverá em pó. Por isso o sangue de vampiro é tão raro e muitos, até hoje, não tiveram o prazer de experimentá-lo.

"Mas se você está animado para criar um pacto de sangue com alguém, sinto em lhe informar, as coisas não são tão simples. — Sorriu de lado. — Antes de tudo saibam que pacto de sangue é algo restrito a vampiros, então não se preocupe, ao morder o seu humano ele não ficará ligado a você para sempre. Podem alimentar-se a vontade. — Grunhi baixo, aquele homem era nojento, senti ódio da maneira como se referiu aos humanos. Éramos meros objetos usáveis nas mãos deles. — O pacto de sangue consiste numa divisão. Um vampiro ao morder outro passa parte de seu veneno para a pessoa em si, e rouba outra parte do veneno de tal vampiro para ele mesmo. Ou seja, é uma divisão. E assim vocês carregam em suas veias metade do veneno de outro vampiro, mas dali em diante as coisas pioram... Um pacto é muito perigoso por diversos motivos e os principais sendo: um pacto não pode ser desfeito, se o seu parceiro morrer você tem um tempo limitado para definhar até a morte e o único jeito de sobreviver é criando um novo pacto, num ciclo infinito, e por fim o que eu acho mais irritante: viver longe daquele do qual você divide o laço faz com que morram aos poucos e a dor que isso causa é torturante. Ou seja, vocês não podem se afastar por muito tempo. Viram alunos? Não vão pensando que será divertido criar um pacto com outro vampiro só para usufruir de seu sangue, isso requer experiência e também amor. Por isso somente casais já casados dividem pactos. Até porque isso é algo um tanto romântico. — Riu. Eu não via nada de romântico naquilo, viver grudado e dependente de outro ser? — O lado romântico do pacto é que vocês irão dividir sentimentos, poderão se comunicar por telepatia e transmitir forças e boas energias um ao outro, além de não poder, de maneira alguma, machucar o seu parceiro. E de acordo com o tempo, e com o grau da paixão de ambos os seres, este laço vai ficando cada vez mais intenso. Há casos, muito raros, aliás, em que o laço chegou a um ponto tão intenso que o casal podia ler os pensamentos um do outro e até mesmo trocar de corpos. Bom, algo do tipo. — Riu novamente. — Meio louco, eu sei. São só rumores, mas como sabem, neste mundo nunca devemos ignorar nada. Nem mesmo rumores."

Pacto de Sangue || Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora