Despertar Caótico

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Jeongguk flexionou os joelhos e cerrou os punhos. Em sua boca, as duas presas frontais se sobressaíram e eu quase pude ver suas veias saltarem, tamanha sua fúria. Quando ele falou, sua voz se assemelhou a um rugido animalesco:

— Vocês não vão levá-lo!

— Vamos sim. — Um dos guardas reais o rebateu, com um sorriso cínico brilhando no rosto. Parecia achar graça na relutância de Jeongguk. — É só um humano. — Ajoelhou-se ao lado de meu corpo, que ainda estava caído sobre o chão, como um peso morto. — Qual a importância? — Puxou os cabelos de minha nuca com força, fazendo-me grunhir e erguer-me contra minha vontade. Eu, ainda muito atordoado e confuso com toda a situação, não conseguia reagir. Jeongguk estava tão perplexo quanto, mas movido por outro combustível: a fúria.

— Não é um humano qualquer. — Avançou um passo ameaçador, observando com cautela os três vampiros que cercavam o quarto. Não ousaria cometer um erro sequer, pois não era sua vida que estava em jogo ali e por mais que quisesse, não podia ser impulsivo. — É o meu humano.

— O sangue dele é tão bom assim? Sua reação possessiva é intrigante. — O vampiro que me segurava por trás aproximou o nariz de meu pescoço, inalando o meu cheiro. — Se você não tivesse o marcado, eu iria me arriscar a experimentá-lo. — E só então me lembrei da antiga marca que Jeongguk deixou em minha pele, no dia em que nos conhecemos, impossibilitando que qualquer outro vampiro, que não fosse ele, bebesse de meu sangue. Isso não me fez ficar mais tranquilo.

— Solte-o. É a última vez que irei pedir.

— Terá outros humanos. — Outro guarda se manifestou. — Há tantos deles. Tantos tipos. Para quê se prender somente a um? Amplie seu pensamento Jeongguk, você não é um qualquer. Você é filho do rei.

— E é por isso que eu digo, solte-o antes que seja tarde demais.

— Não seja tolo. — Um dos guardas reapareceu nas costas de Jeongguk, como num passe de mágica, lançando as garras sobre seu rosto. — Você é filho dele, mas ainda não é ele. — E sem dó alguma, penetrou as unhas na carne do Jeon, em seu rosto, fazendo-o gritar numa dor agoniante. Me movi em sua direção, num reflexo de desespero, no entanto o vampiro que me prendia não me deu brecha alguma. Continuei atado aos seus braços firmes, observando enquanto aquele maldito vampiro torturava Jeongguk, sem piedade.

A fúria despertou algo dentro de mim e eu senti meu sangue ferver, grunhi irritado, tentando me desprender de toda e qualquer maneira daquele guarda imbecil, utilizando minha raiva como impulso, porque eu não era capaz de vê-los machucar Jeongguk e ficar simplesmente parado. Não mesmo.

— Vocês vão pagar seus filhos da puta. Vão queimar no inferno!

— Então espero que você nos recepcione bem. — O vampiro sussurrou em meu ouvido. — Porque você vai antes da gente. — E silenciou-me com um tipo de tranquilizante, injetando a substância em minhas veias através da ponta fina que se afundou em minha pele com facilidade. Fazendo-me tremer e paralisar logo em seguida.

Jeongguk encarou-me com lágrimas nos olhos, enquanto se mantinha preso no chão, sangrando em quantidades viscerais. O homem atrás de mim me soltou, e meus joelhos cederam. Não haviam saídas. E foi ali que eu percebi: por mais que lutássemos e tentássemos, aquela batalha já estava ganha.

E nós, não éramos os vencedores.

...

O banco de pedra me acomodava de maneira nada confortável e meu único passatempo naquele cubículo apertado era encarar as paredes de aço que me cercavam, ou o pouco do céu que eu podia enxergar pela minúscula janela no canto da cela. Um suspiro frustrado ultrapassou meus lábios e eu observei mais uma vez o guarda parado no meio do corredor, que me olhava como se eu fosse um assassino cruel ou um tipo gênio que pudesse atravessar as grades daquela prisão apenas com minha perspicácia. Mas, por mais que nem eu quisesse admitir, eu não era capaz de enfrentar a masmorra, o presídio para infratores das leis vampíricas, onde humanos e vampiros dividem celas de segurança máxima, sem banhos de sol ou almoços em refeitórios. Todos aqui estão fadados a ficarem presos nesse cubículo aterrorizante até o fim de suas penas — ou o fim de suas vidas. No caso, minha estadia era passageira. Eu era considerado um perigo à sociedade, e precisava ser morto o quanto antes. Um humano capaz de ultrapassar as fortalezas dos vampiros e roubar deles um bem precioso, sem ser visto ou notado, era um risco. Eu era um risco. O problema é que eles tinham capturado a pessoa errada, no entanto, eu não podia fazer nada sobre. Apenas aceitar meu terrível destino.

Pacto de Sangue || Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora