Declínio

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Éramos como as paredes e os móveis, como as pilastras e como o poder que rugia no ar. Éramos parte do palácio. Não, éramos o próprio palácio. A magia nos cercava como uma redoma indestrutível de vidro, onde podíamos ver, tocar e sentir tudo. Tornando-nos invisíveis e intangíveis perante o resto do mundo. Eu podia sentir a magia ondular meu corpo, deslizar por minha pele e vibrar sob meus pés, ela estava por todo lugar, e era poderosa o suficiente. Fiquei embasbacado com a capacidade de uma mera aprendiz manejar toda aquela força em suas mãos. Passávamos de corredor a corredor, atravessando portas e paredes como se fossem feitas de um filete de água, nossos passos e movimentos ecoando silenciosos para a existência fora de nossa redoma. Ninguém nos percebia, nem o mais sagaz dos guardas reais. Porém, toda aquela quietude só serviu para intensificar o medo que envolvia meu interior, fazendo meus passos se tornarem longos e arrastados. Os meus companheiros não pareciam diferentes.

Quando atravessamos a última porta, o sangue em minhas veias gelou. Estávamos diante da grande entrada do salão, selado por um poder magnífico e guardado por dois guardas da Ala Norte, postos um de cada lado do portal de aço. Eles possuíam ombros largos e corpos avantajados, e por mais segura que fosse aquela barreira que eles criaram, Ayu riu em silêncio, precisando de não mais que um único toque para destruir tudo. Estávamos no último andar do palácio — o sétimo. O silêncio era tão grande e a magia tão densa, que meu estômago se revirou, enjoado. Não muito preparado para o que viria a seguir. Mas o que sentíamos era irrelevante diante do que tínhamos que fazer, preparados ou não. Por isso, Ayu não perdeu tempo, ajoelhando-se no chão e conjurando sua magia que brilhava numa luz púrpura. Ela selou todo aquele andar, linhas e símbolos brilhando nas paredes e no chão. Todas as muralhas erguidas pelo Rei do Norte foram derrubadas com facilidade e todas as entradas para aquele andar, agora, estavam trancafiadas. E somente nós tínhamos acesso a elas. Os guardas não tiveram oportunidade de esboçar qualquer reação perante aquele feitiço avassalador, porque Ayu os desacordou antes que pudessem. Tudo, com uma facilidade impressionante.

— Retire o escudo, Chaeyoung. — Avisou a bruxa, liberando sua aprendiz, que parecia suar com o desgaste. — Volte para casa, descanse e fique com Hoseok. Irei cuidar de tudo a partir daqui. Mas retorne imediatamente caso algo fuja de nosso controle.

A ruiva assentiu, cansada demais para dizer qualquer coisa, e com uma sombra negra envolvendo seu corpo, ela se dissipou no ar. Voltando para casa através da magia. Respirei fundo, encarando a grande porta que se erguia a nossa frente, segurei o cabo de minha espada, confiando todo o sucesso daquela missão à ela. Não poderia usar muito de meu poder, nem matar ninguém com minhas próprias mãos. O sangue por si só já seria tentador demais, não queria correr nenhum risco de me descontrolar. Isso poderia custar vidas. Todos nós nos entreolhamos, uma confirmação silenciosa. Estávamos prontos, indestrutíveis.

— Eu confio em mim mesmo. — Namjoon foi aquele que se pronunciou. Ele, que estava sempre a nossa frente, como um verdadeiro líder. Guerreiro da Ala Leste. — E confio em todos vocês. Não sairemos daqui até a última cabeça desses desgraçados rolar no chão. Até pegarmos nossas coroas e tomarmos nossos tronos.

Confirmamos em silêncio, a fúria assombrando nossos olhos e o sangue fervendo em nossas veias. O medo tornando-se um impulso agressivo. Poder exalava entre nós. Eu estava pronto. Eu precisava estar.

— Não temos mais tempo. — Ayu aproximou as mãos da porta. — Vou abri-la e então lacrá-la. Só poderei libertá-los quando todos os inimigos estiverem mortos, qualquer falha e eles poderão fugir, então façam seu melhor. Sobrevivam. — Os símbolos de luz púrpura voltaram, desta vez preenchendo cada limiar da porta. — Eles já notaram nossa presença.

Colocámos o capuz negro de nosso uniforme sobre a cabeça, levamos as mãos as nossas armas e eles deixaram seu poder explodir. Jin era o primeiro na linha de frente, já na forma de lobo. Namjoon estava ao seu lado, eu e Jeongguk atrás dos dois e Yoongi vinha por último. Ayu liberaria a entrada para nós e então nos prenderia ali dentro. Numa verdadeira jaula de sangue.

Pacto de Sangue || Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora