Ela

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Endireitei a gola da camiseta de Hoseok, focando toda minha atenção naquele simples ato e me forçando a não desviar o olhar e tromba-lo, sem querer, com os olhos vazios de meu amigo. Aquilo tudo estava sendo muito difícil.

— Então... — Ele iniciou uma conversa, o que era um pouco inédito, mas bom. Um avanço. — Está frio lá fora, não é? Não sabia que aqui na Ala Oeste fazia tanto frio. Na verdade, Yoongi comentou que o sol predomina nessas partes da terra. — Entrelaçou os dedos e suspirou após terminar de falar. Ele estava se esforçando, e eu não queria passar a imagem de um amigo negligente, por mais complicado que fosse tudo aquilo. Então ergui minha cabeça e o encarei.

— É, tem razão. Esse frio está estranho. — Terminei de arrumar seu blazer e me levantei, encarando-o sentado em sua cadeira de rodas, com o rosto cansado e a pele pálida, pela falta de nutrientes. Era tão difícil. — Você comeu algo?

— Comi. — Balançou a cabeça desajeitadamente e eu soube, nesse instante, que ele estava mentindo para mim.

— Hoseok. — Voltei a me ajoelhar, tocando seus ombros com ambas as mãos e deixando meus olhos nadarem na maré de seus castanhos. — Você precisa comer. Precisa respirar, se divertir, fazer coisas. Não adianta ficar aí parado, morrendo aos poucos. Você ainda tem uma vida.

— É, eu ainda tenho. — Abaixou o olhar e fungou, levando uma mão à bochecha esquerda, secando uma lágrima que eu não era capaz de ver. — Mas é tão injusto! — Fechou a mão em punho e a bateu com força na própria perna. — Ele não merecia isso. Por que eu estou aqui e não ele? Qual é a lógica?

— Não é para ter lógica, Hoseok. — Sequei as lágrimas que desciam em abundância por seu rosto. — O problema é que precisamos entender que o mundo continua andando, com, ou sem a gente. Sem se importar com injustiças e pormenores. E você só fica para trás se quiser. — Me levantei. — Jimin se foi com honra, e hoje, vamos respeitar isso. — Beijei sua testa e suspirei baixo, tentando ignorar minhas próprias lágrimas. Eu me sentia tão impotente. — Jimin te amava. Lembre-se disso quando tudo estiver difícil. Afinal, ele ainda está vivo... — Toquei seu peito, onde o coração pulsava rápido. — Aqui dentro.

— E se eu não conseguir? — Ele inclinou um pouco a cabeça para me encarar. — E se eu não suportar?

— Você vai. — Respondi simplista. E me senti confortado ao perceber que eu tinha total certeza de minhas palavras.

Hoseok iria suportar. Todos nós iríamos. Juntos.

...

Segurei na mão de Jeongguk e avancei pelo longo corredor, acompanhado de meus amigos e de toda a família Min, que eram donos da mansão onde estávamos temporariamente alojados.

Iríamos prestar uma homenagem ao nosso amigo, Jimin, que havia morrido dias atrás, num terrível incidente. Que deixou um pesar na consciência de todos, no qual, precisávamos nos livrar. Tínhamos que seguir em frente. Mas antes, era necessário lembrar o quanto nosso amigo foi importante para nós, enquanto vivo.

O velório aconteceria ali mesmo, na mansão dos Min, e não seria algo muito planejado ou grandioso. Foi uma coisa tão repentina... mas ainda assim seria importante para todos nós. E eu ficava feliz em ter o apoio da família de Yoongi naquele momento, e principalmente de sua mãe. Eles eram vampiros peculiares, mas ainda assim "humanos".

— Esse é o nosso santuário. — A mãe de Yoongi nos avisou, puxando uma porta corrida, que dava acesso a uma sala inteiramente feita de madeira e que cheirava a aromatizante. — Nós da Ala Oeste mantemos a antiga tradição de homenagear figuras importantes, que mudaram o nosso mundo de maneira única. Gaya é uma dessas figuras, e num passado distante ela foi uma das mais poderosas vampiras já vista na história. — Adentrou a sala, sendo prontamente seguida por todos. Apesar de não parecer, o lugar era amplo. — Gaya foi uma mulher incrível e nos mostrou uma visão diferente sobre a vida e sobre a morte.

Pacto de Sangue || Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora