Capítulo XXII

596 35 8
                                    

Apaixonado.

Eu buscava desesperadamente qualquer indício em seu semblante que desmentisse aquela bobagem, mas seus olhos eram tão intensos quanto as ondas do oceano. Diego não poderia estar apaixonado por mim. Não! Não! Não! Era só uma maldita atração sexual que passaria assim que transássemos de todas as maneiras possíveis... Coisa que já havia acontecido noite passada. Merda.  

Era passageiro, não era? Deveria ser.

Eu não queria ouvir aquelas palavras. Eu não queria me iludir, me afogar ainda mais naquele sentimento pavoroso.

A parte emocional do meu cérebro implorava para tocá-lo, perdoá-lo, beijá-lo, no entanto, a raiva ainda percorria pelas minhas veias. Quem Diego era pra beijar a ex-namorada e depois vir dizer que estava apaixonado por mim? Logo após termos tido uma noite de intimidades. Eu tentava me convencer que era só mais um de seus truques. Diego era bom em mentiras e eu sabia tão bem disso.

A voz do professor Madariaga desfez a nossa troca de olhares, em silêncio, Diego se retirou do banheiro e quando surgiu na porta, Madariaga estava em seu cós. Eu quis revirar os olhos antecipadamente com os sermões que viriam.

Mas me surpreendi á não ser mandada de volta pro colégio como fora feito com Tomás e Joaquim. Segundo o professor, a festa em comemoração aos cento e quarenta anos do colégio seria no dia seguinte, e, mesmo querendo tacar nossas bundas problemáticas pra longe, não havia espaço em sua agenda — nem paciência — pra nos devolver nas mãos do Senhor Gandía.

Entretanto, não sairíamos ilesas disso.

Madariaga me fez aceitar um acordo absurdo. Terrivelmente absurdo. Eu ainda queria enfiar aquela cabeça loira na privada mais próxima e preferia encarar a morte do que pensar na possibilidade em concordar com o que ele propusera. Porém, o lado mais consciente do meu cérebro me fez acreditar que a vagabunda não valia uma viagem perdida, aliás, ela não valia de bosta nenhuma.

— Eu não vou pedir desculpas! — Vick bradou, irritada. Pareciam que estavam enfiando duas adagas lentamente em meu cérebro, estava quase a explodir, e, com a deliciosa voz do satanás loiro só fez agravar a situação. — Ela que deve ajoelhar e implorar meu perdão por ter acabado com meu namoro de anos!

— Oi? — Perguntei, atônita.

— Isso mesmo. Essa discussão só foi uma consequência do que você começou, você me roubou o Diego, você o seduziu, você o levou pra cama, você cagou em cima do meu relacionamento…

— Eu não coloquei nenhuma arma na cabeça dele enquanto transavamos, isso seria bem estranho pra falar a verdade. — Confessei. A merda já estava jogada no ventilador mesmo, que se danasse o restante. Me direcionei para Madariaga: — Essa mulher está maluca, professor, diga a ela que mesmo tendo um cérebro minúsculo, Diego ainda toma as próprias decisões, e, se por acaso ele quis colocar um par de chifres nesse outdoor que ela chama de testa, a culpa não é minha.

Ela ciscou feito uma galinha assustada.

— Roberta… — Madariaga repreendeu.

— Você é tão culpada quanto ele! São dois nojentos, dois covardes que não pensam no sentimento alheio… — Seus olhos ficaram úmidos. — Eu não vou pedir desculpas a essa imunda, Enrique, sinto muito.

— Imunda é a sua mãe! — Retruquei.

— Fala assim de novo da minha mãe e eu juro que te quebro no meio…

— Vem pra cima, aproveito e deixo esses olhinhos de panda proporcional a essa cara de mamão deformado….

— PAREM COM ISSO! — Juro que entendi um “porra” escapando dos seus lábios. — É isso mesmo que querem? Voltar para o colégio? Eu estou dando uma segunda oportunidade, coisa que não aconteceu com o Tomás e o Joaquim. Vão jogar fora toda essa minha generosidade em troca de quê? De orgulho?

InevitávelWhere stories live. Discover now