Capítulo XXVII

740 36 9
                                    

O local onde seria a comemoração dos cento e quarenta anos do Elite Way School era, definitivamente, um lugar de tirar o fôlego. Por fora, uma estrutura inteiramente inspirada em castelos antigos, por dentro, tão moderno quanto um dos melhores salões de festas do México. Luxuoso, amplo e bem iluminado. Eu estava me sentindo no aniversário de trinta e cinco anos da mamãe, um escândalo de ostentação fora do normal.

A decoração nem parecia que era voltada para idosos, quer dizer, a faixa etária daquela festa era dos quarenta em diante. O diretor Pascoal era prova disso, ele deveria ter o quê? Setenta anos? Okay, talvez uns quarenta e cinco. Era engraçado como as pessoas que o cercavam tinham as mesmas características, homens baixos, cabelos grisalhos, cobertos por um Black Tie surpreendente caro e uma mulher, digo, um troféu, igualmente de idades avançadas enfiadas em vestidos vermelhos justos e rostos quase deformados de tanto botox. Ricos. Tão fúteis e tão inúteis. Madariaga e nós éramos os únicos que tínhamos uma pretensão de existência maior que vinte anos.

Cutuquei Lupita com o cotovelo.

— Tá vendo aquele cara ali? — Apontei para um senhor no bar flertando descaradamente com uma garçonete uns cem anos mais nova, que, não parecia estar nada confortável com as mãos enrugadas acariciando sua cintura por cima do fardamento. — Não dura nem cinco anos.

Lupita o analisou por alguns milésimos de segundos.

— Ele é casado… — Ela ergueu o dedo anelar e apontou na direção das mãos ousadas do senhor abusador. — Tem cara de quem vai morrer enquanto a esposa dá pra outro no andar de cima. Ataque cardíaco, com certeza.

— A esposa vai dar o quê? — Miguel perguntou de supetão ao se infiltrar no nosso meio, passando os braços por cima dos nossos ombros. Andávamos como três pinguins amarrados seguindo o professor Madariaga pelo salão.

— Dar cabeluda enquanto ele morre. — Lupita o respondeu e continuou, absorta demais no rumo da conversa.  — Apesar que ataque cardíaco não cairia bem na idade desse ancião.

Ergui a sobrancelha e por baixo do queixo de Miguel, que também a encarava, eu a perguntei:

— Porque? Ele é velho, gente velha costuma morrer disso

Miguel se voltou para mim, o braço ainda cobrindo meu ombro, o cheiro inebriante do perfume adocicado desestabilizando meu olfato. Homens cheirosos costumavam ser meu ponto fraco. Droga. Era só o Miguel. Minha eu interior riu com o sarcasmo no pensamento.

— Vocês não podem estar antecipando a morte do cara. — Ele disse, incrédulo.

— Não é antecipar, é discutir. — Rebati.

Lupita o ignorou.

— O coração dele não tem forças pra isso, olha só... — Ela espalmou a mão no ar na direção do senhor. Ele agora bebericava algum whisky caro. — Gente tão velha assim não tem condições de ter um ataque cardíaco.

Eu concordei com a cabeça.

— Cadê o senso de humanidade de vocês? — Miguel indagou, atônito.

Um homem absurdamente mais velho que o senhor abusador do bar acenou para Madariaga e instantâneamente os olhos de Lupita se voltaram para mim. Elevei a cabeça o suficiente para encontrar os olhos de Miguel no ancião.

— Vai dizer que esse não deveria já está numa cova?

Ele balançou a cabeça e riu.

— Eu acho que você deveria guardar esses tipos de comentários pra si mesma. — Miguel se aproximou do meu ouvido como se fosse me contar um segredo e continuou: — Ou você vai acabar recebendo uma bengalada na testa.

InevitávelWhere stories live. Discover now