Capítulo XVIII

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Os gritos eram alarmantes como de uma sirene de bombeiro. Se não desse pra ouvir a voz do Diego sobressaindo a da loira revoltada, eu poderia bem confundir aquilo como uma possível invasão de bombeiros no quarto dos Bustamante. Era ensurdecedor.

Eu havia sido logo expulsa. Bem assim, de cara.

Não aproveitei sequer uma cena daquela novela mexicana. Ok, confesso, não aproveitei o restante da novela. Diego tinha me arrastado, contra minha vontade, devo ressaltar, porta a fora enquanto Vick pulava enlouquecidamente nas suas costas querendo minha cabeça em um prato.

Não vou mentir ao ponto de relatar que fiz a dama da sociedade e me contive diante daquelas ofensas. É só olhar minha árvore genealógica e se atentar ao fato de que minha família só tem barraqueiro. Alma Rey é a prova viva disso. Ela não baixava a cabeça pra desaforo de gente perturbada do juízo, e vamos lá, o sangue dela ainda corre entre minhas veias.

Eu poderia estar errada, totalmente errada, errada pra caralho, mas não deixaria uma piranha de quinta me desrespeitar, tentar puxar meus cabelos e ainda sair ilesa.

Eu pulava pela frente e ela por trás.

Diego foi o único empecilho de não termos nos atracado como dois animais selvagens.

Eu coloquei a mão na consciência e me perguntei porque diabos eu estava brigando com a atual namorada do cara que eu estava dando uns beijos. E ainda por cima o cara era o Bustamante. Tinha como ser mais deprimente? Por Deus, onde estava o restante dos meus neurônios que ainda funcionavam? Deveriam ter ficado na boca do imbecil, porque olha, comigo eles não davam nem mais sinal de vida.

Eu ainda estava paralisada olhando para um ponto fixo no chão. Logo obriguei meus pés a se moverem e meus ouvidos a ignorarem a briga que se desenrolava dentro do quarto. Um corpo imóvel no final do corredor me fez reagir rapidamente.

— ATÉ O PAPA ENTROU NAQUELE QUARTO E VOCÊ AQUI MOSCANDO. QUAL A PARTE DE VIGIAR O BUSTAMANTE VOCÊ NÃO ENTENDEU? — Urrei atravessando o corredor e assim que o fiz, esmurrei as costas de Giovanni, que, se virou com os olhos arregalados. — Você é retardado por acaso? Tem algum problema em entender as coisas?

Giovanni encolheu os ombros.

Meus olhos se voltaram para detrás do mesmo e só então percebi o porquê dele está tão desatento.

— Você estava espiando as meninas?

— Não, claro que não — Ele abanou com a mão — Só a Lupita mesmo.

Eu grunhi. Bati em seu braço, com raiva.

— Você é um imbecil! — Eu deixei de espanca-lo e ergui o dedo indicador na altura das minhas bochechas. Giovanni movia os olhos para todos os cantos do corredor, o cenho franzido, tentando entender minha reação repentina. Então os gritos de Vick se evidenciaram no silêncio. — Sabe o que é isso? Culpa sua, inteiramente sua!

— Mas que porra...?

— A Vick pegou eu e o Diego nos bei... — Travei na metade. Meus olhos se arregalaram com a merda que por pouco sairia, pigarreei e continuei: — Ela pegou a gente brigando e pensou besteira.

Giovanni gargalhou.

— Você e o Diego estavam se pegando?!

— Claro que não! — Respondi rápido demais.

— Eu duvido — Ele acusou — Olha essa cara de quem acabou de ser pega no flagra.

— Como é? — Era a voz de Miguel. Ele saia do quarto de frente ao que estávamos, ainda segurava a maçaneta quando perguntou maliciosamente: — Eu ouvi direito? Você e o Diego trocaram saliva?

InevitávelWhere stories live. Discover now