Capítulo X

556 36 0
                                    

Silêncio absoluto.

Seria hilário se não fosse tão aterrorizante. Éramos os únicos tagarelas e os únicos a desobedecer as regras impostas.

Vez ou outra eu recebia uma cotovelada desconhecida no estômago pra ficar em silêncio. Talvez, somente talvez, fôssemos os únicos a não ter frequentado aquele lugar por mais de duas vezes, já que os demais aparentavam estar acostumado com o tipo de situação.

Apertei a mão do Diego e de Mia apontando silenciosamente pra um ponto luminoso na estrada, por detrás das tantas árvores. Estávamos em fila indiana, comigo no meio, quase perdendo a mão direita pelos os apertos de Mia.

Eu não era burra a ponto de não saber as consequências se por acaso a polícia batesse naquele lugar. Éramos menores de idade. Não seríamos presos, porém, a consequência no colégio e nas nossas famílias seriam as piores possíveis.

Por Deus, a mídia faria parecermos um bando de riquinhos marginais. Mamãe já me faria o favor de me mandar pra o inferno só com o olhar.

As drogas e as bebidas daquele lugar eram só a ponta do iceberg, era óbvio. E eu tinha a plena consciência de que o quarto que Diego e eu usamos não era o único, e que, a serventia deles não era tão legal perante a lei.

Eu segurei a respiração ao ver as luzes do carro da polícia sendo substituídas por lanternas de mão. Essas se aproximaram do portão e era possível vê-las pelas frestas da porta de madeira.

Minha mão foi puxada em um solavanco forte e consequentemente fiz o mesmo com Mia. Quando me vi já estava correndo atrás de um Diego sem direção.

Ele previu o que aconteceria.

— ELES VÃO ENTRAR! — Alguém gritou.

Foi então eu vi o inferno diante dos meus olhos. Pessoas corriam, caíam e eram pisoteadas. As lanternas dos celulares foram ligadas e foi quando Diego teve um posicionamento pra onde correr.

Ele nos arrastou pra dentro da área da piscina onde Lupita, Giovanni e Vick nos encararam sem entender o que acontecia.

— A gente tem que sair daqui agora! — Diego sentenciou largando da minha mão e avançando na direção que dava pra área livre da floresta, observando a entrada.

Aquela merda se desse em alguma estrada seria um milagre divino.

— O que aconteceu? — Giovanni perguntou desorientado.

— Os caras tão levando todo mundo! — A portinha abriu revelando um Miguel ofegante e com o rosto sangrando. Mia fez menção de ir até ele, mas a segurei pela mão. Não era a hora. Miguel estava vivo e muito bem.

Junto com ele, outras pessoas atravessavam a porta quase a tirando do lugar. Desesperados por uma fuga. Não podia dizer que estávamos em melhor situação.

— Isso tem que dar em algum lugar — Diego falou passando a mão pelos cabelos enquanto a outra segurava fortemente o celular com a lanterna ligada.

— Eu não vou entrar aí... — Mia reclamou.

— É isso ou explicar pro papai Colucci o que você veio fazer nesse fim de mundo — Vociferei agitada.

— Quem são esses caras que o Miguel disse? — Lupita indagou na mesma situação que Giovanni há alguns minutos — MERDA! ALGUÉM DA PRA ME EXPLICAR O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

— A POLÍCIA TA LEVANDO GERAL! PUTA QUE PARIU! ELES VÃO ABRIR FOGO PRA QUEM SE RECUSAR IR OU TENTAR FUGIR. EU TÔ FUDIDO, EU TÔ FUDIDO, VOVÓ VAI ME MATAR... — Um cara gritou invadindo a área da piscina. Ele trombou com Diego entrando mata adentro, ainda gritando desesperado o quanto estava fodido. Mal se importando pra onde aquela porcaria levava.

InevitávelWhere stories live. Discover now