Capítulo III

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A única coisa que eu tinha certeza naquele momento era que Diego me faria pagar pelo o que aconteceu mais cedo.

Ele estava quieto demais no fundo do ônibus. Ora ou outra o escutava conversando com alguns garotos da parte da frente, mas só isso, nenhuma ameaça, nenhuma irritação. Nada. Nada que envolvesse meu nome.

Tentei não pregar os olhos, mas quando me vi já estava desabando no encosto da cadeira.

Por volta das seis horas da manhã chegamos ao condomínio fechado. O professor Enrique Madariaga teve de descer na entrada pra assinar alguns papéis de termos de responsabilidade, ou algo assim, mal conseguia entender meus próprios pensamentos quanto mais o que professor falava.

O ônibus avançou pelas ruas limpas e monitoradas do condomínio, quando finalmente parou na garagem de uma puta mansão. Eu tive que me controlar pra não deixar meu queixo cair, era enorme pra um caralho.

— Puta merda — Giovanni balbuciou boquiaberto — Eu pensei que vinhamos pra um chalezinho beira mar.

Diego coçou a nuca.

— Meu pai não é do tipo que gosta de economizar com imóveis.

Abracei-me ao casaco. Mesmo com o sol começando a esquentar, a brisa fria da maresia me fazia ter arrepios. Onde estávamos dava pra ouvir perfeitamente as ondas se quebrando no fundo da mansão.

— Você fazia ideia disso? — Miguel murmurou ao meu lado. Lupita o abraçava aninhada ao seu peito, ainda sonolenta.

— Bustamante gosta de aparecer — Eu disse com sinceridade — Não me surpreende que ele tenha comprado essa casa só pra vermos o quanto é poderoso.

Miguel balançou a cabeça concordando.

O motorista abriu uma pequena porta do lado de fora do ônibus onde estava nossas babagens, enquanto os demais pegavam suas respectivas malas, Diego se prostou ao meu lado. As mãos cruzadas sobre o peito com o rosto virado na minha direção.

— Não vai pegar a mala, Pardo?

— Vai se preocupar com a vida das tuas piriguetes, babaca — Resmunguei.

Quando a última pessoa saio, eu dei um passo a frente, mas estanquei no mesmo instante ao ver o lugar mais limpo.

Minhas sobrancelhas se uniram.

Que porra era aquela?

— Ouw, ouw cadê minha mala? — Questionei ao motorista. Ele tinha um bigodinho engraçado.

— A senhorita tem certeza que a colocou aqui? Não está dentro do ônibus?

— Não, é uma mala de rodinhas, eu mesma a coloquei aqui! — Esclareci passando as mãos pelos cabelos.

— Você não a esqueceu no colégio, Roberta? — Enrique perguntou se aproximando de nós.

Neguei com a cabeça.

— Eu já disse que trouxe e a coloquei aí! — Respirei fundo tentando não descontar minha raiva no senhor do bigodinho — Não tem uma passagem secreta ou algum buraco em que ela possa estar enfiada?

— Não senhorita, eu sinto muito — disse, temeroso — A única vez que eu abri essa porta foi na última parada que fizemos pra um garoto pegar uma bolsa de costas. O professor Madariaga é prova disso. Ele não levou nenhuma mala de rodinhas.

Eu já estava começando a ficar nervosa com aquela nova informação. Não podia ser. Cocei meus cabelos em um ato de inquietação.

Varri os olhos pelo lugar em busca do imbecil e o encontrei no mesmo lugar de antes, na mesma posição, agora com um ar de superioridade pairando em cada entranha sua.

InevitávelWhere stories live. Discover now